Uma amiga resolveu que já era
hora de ela ter o seu primeiro smartphone, apesar desta geringonça estar à
venda há mais de duas décadas. Eu não a julgo, eu mesmo só adquiri o meu outro
dia e, como eu já previra, o pequeno telefone inteligente não tem muita serventia
para mim. Por isso que passa a maior
parte de seu tempo útil desligado na gaveta, como também já acontecia com o meu
velho celular peba. Passo muito bem sem estes aparelhos, raramente tenho
assuntos urgentes para tratar que não possam ser resolvidos pelo antiquado telefone
fixo.
Depois de viver a angústia de
ter de optar por ter ou não um smartphone, a sua aflição seguinte foi escolher qual
modelo adquirir. São tantas as marcas disponíveis no mercado e variedade de
modelos e cores oferecida por cada uma que fazer uma escolha pode se tornar num
assunto para a próxima sessão de psicanálise. A grande agonia do homem moderno
é ter de fazer tantas escolhas em seu cotidiano e escolher um aparelho de
smartphone veio juntar-se a elas. Entretanto, ela não passou pela angustia de
escolher uma operadora, pois já vivera esta experiência anos antes quando
adquiriu o seu primeiro aparelho de celular. Desta, ela estava livre!
Feito sua a sua pesquisa, ela
foi na loja comprar o seu aparelho. Esta parte de sua aventura foi bem mais
breve, pois ela já sabia exatamente o que queria. Antes de concluir a
transação, no entanto, o vendedor lhe ofereceu um seguro. Não se tratava de um
desses que estendem por mais um ou dois anos a garantia de assistência técnica do
produto. Com a mesma serenidade com que ofereceria um acessório como uma capa
para o aparelho ou carregador mais rápido, o vendedor lhe oferecia um seguro
contra roubo!
Vejam a que ponto chegamos. A
numero crescente de assaltos é tamanha e a voracidade dos ladrões por
smartphones é tanta que criou-se uma indústria paralela para este novo e promissor
mercado que é a indústria dos seguros contra roubo de aparelhos celulares. Ser
assaltado já faz de tal forma parte de nosso cotidiano que as pessoas nem se
indignam mais quando são vítimas desta agressão, recorrem a um seguro contra
roubo com a naturalidade de quem tivesse comprado um acessório indispensável
para fazer o bichinho funcionar. O descontrole é tamanho que autoridades
policiais até sugerem aos cidadãos honestos e pagadores de impostos que andem
com certa quantia de dinheiro no bolso para agradar ao assaltante em caso de roubo,
além de ter dois aparelhos à mão, um velho para dar ao meliante.
Minha amiga ficou desconcertada
com a tal oferta. Achou aquilo descabido, preferiu o risco de engrossar as estatísticas
que apontam os smartphones como o preferido dos bandidos. Não quero isso, ela
disse indignada deixando o vendedor surpreso, não vou passar recibo pra ladrão!
Rio Vermelho, 15 de
janeiro de 2015.