Raimundo era motorista de táxi. A
sua grande paixão era ir para a praia de Santana no final de tarde levando consigo
a vara de pescar para entregar-se aos prazeres de esperar até que um peixe desavisado
mordesse a isca. Não havia satisfação maior que jogar o anzol no mar e contar
com a sorte de pegar algum peixe, pois era isso que pescar significava, um jogo
de azar, era como jogar na loteria.
O nosso pescador de ocasião era
um homem jovem, beirando quase os trinta; tinha seu próprio apartamento e era
considerado pelas moças como um partidão. Ele gostava daquele esporte que
exigia doses de paciência e que, por isso, era mais apropriado para homens mais
maduros. Mas ele se considerava um precoce, gostava de coisas diferentes que os
rapazes de sua idade. Sendo ainda solteiro, não precisava dar satisfações a ninguém,
podia ir pescar quando lhe conviesse, bastando para isso que a maré estivesse
dando peixe.
Certo dia, no final de uma tarde
ventosa do mês de julho, ele ia passando pelo Rio Vermelho e viu maravilhado uma
multidão de pescadores na praia de Santana, pois a maré tinha trazido um enorme
cardume. Havia pescadores com suas varas e anzóis deste a areia da praia até nas
pedras que a circundava, na esperança de levar para casa um xaréu ou bodião. Ele
encostou o carro e ficou sentado na balaustrada assistindo aquele cenário que
ocorria lá embaixo. Ao seu lado sentou-se também Mário, outro companheiro de
pesca. Assistir homens pescando era tão enfadonho quanto acompanhar um carteado,
quase nada acontece, mas como existe gosto para tudo nessa vida, o praticante
da pesca se entusiasma em ver outro colega pescando. Havia também pessoas que passavam
de bicicleta se exercitando no passeio ao lado da balaustrada, outras corriam
ou passeavam com seus cães indiferentes àquele fato importante. Uma moça jovem
e bonita desfilou graciosamente com seu cachorrinho, desviando a atenção de
Mário para o seu formoso rosto.
— Olha, que mulher mais linda. –
ele chamou a atenção de Raimundo.
— Eu prefiro as feias. – retrucou
o taxista indiferente, sem desviar o olhar para os pescadores na praia.
—É mesmo? E por que essa predileção,
posso saber?
— Ora, mulheres feias são mais
esforçadas e por isso são mais inteligentes. Elas são mais carinhosas para
compensar a falta de beleza, e muito boas de cama, pelo mesmo motivo. – respondeu
Raimundo do alto de sua sabedoria.
— Então você está dizendo que as
bonitas são burras?
— Quase isso. A mulher bonita
geralmente consegue tudo fácil por causa de sua beleza que lhe abre as portas,
não tem de batalhar como a feia, por isso, não desenvolve o intelecto, entendeu?
— Mas essa aí é novinha, ainda
tem muito o que aprender... – argumentou Mário.
— Também não gosto de mulher
nova...
— Tá me dizendo que gosta de
velhas?
— Isso mesmo! – Raimundo
respondeu orgulhoso.
— Você tem gostos estranhos, meu caro
amigo. Porque prefere as velhas?
— As velhas são muito mais experientes
na arte do amor, já sabem tudo e, como ninguém se interessa por elas, quando
arranjam um homem jovem como eu, elas capricham para tirar o atraso!
— Nossa, então você gosta mesmo
de mulheres feias e velhas!
— Isso mesmo. E se você algum dia
me ver agarrado a uma velha feia, não aparte porque não é briga, é amor!
Rio Vermelho, 12 de
julho de 2016.