As redes sociais têm o um caráter meritório, e outros nem tanto assim... Divulgam-se comemorações de aniversários, casamentos, nascimentos e tantas outras conquistas que a vida proporciona. Outro dia, vi estampado no perfil de uma querida amiga a foto de seu irmão caçula – de 59 anos. Anunciava, com pesar, a sua partida dessa para melhor. Essa é outra utilidade das redes sociais, comunicar falecimentos de entes queridos.
Fiquei abalado com a notícia, não
apenas por se tratar do irmão de uma amiga, mas também porque tínhamos sido
muito amigos na época de nossa adolescência. Saíamos juntos, nos visitávamos,
até acampamos certa vez em Itaparica, no tempo em que se armava uma barraca na
praia sem temer visitas inoportunas. Mas quis o destino que nos separássemos
quando entramos para a faculdade, cada um seguiu um rumo diferente na vida, e
lá se vão mais de quarenta anos.
Em louvor às antigas recordações
e ao velho camarada, fui ao Campo Santo homenageá-lo. O carnaval já batia à
porta, e naquele sábado um desfile de um bloco de palhaços estava programado
para sair naquela tarde em meu bairro. Os moradores estavam sitiados, mas mesmo
assim fiz um esforço para chegar ao cemitério. A vida tem desses contrastes, enquanto
num lado da cidade se celebrava a vida, no outro se reverenciava um morto. Eu podia
não ter ido, dar a desculpa de que não gostava de ir a enterros, mas quem gosta?
Muito menos o homenageado, que, sem dúvida, preferiria continuar andando sobre
a terra, ao invés de repousar eternamente sob ela. Ir a um enterro, por mais
doloroso que seja ‒ alguns
dizem que é chato, e quem disse que era para ser divertido? ‒ faz parte dos
rituais da vida, celebramos ali a vida e a morte, encaramos a única certeza de
cada um de nós, o inexorável.
No velório, aquele silêncio e tristeza
das cerimônias fúnebres. Familiares e amigos estavam desolados, como era de se
esperar. Uns vieram de longe, outros interromperam um passeio para darem o último
adeus. Dei abraços e condolências, perguntei a um dos irmãos o que acontecera,
como morrera o antigo amigo. Ouvi deste que fora um caso de morte súbita, enquanto
dormia placidamente em sua cama, simplesmente não acordou para um novo dia. Não
estava doente, ninguém esperava por tal fatalidade. Mortes não anunciadas
chocam pelo seu caráter repentino e são difíceis de serem assimiladas.
Certa vez ouvi de uma amiga que
professa o espiritismo, que não há modo de morte mais digna que morrer
dormindo. É uma raridade, uma espécie de merecimento que a poucos são concedidos.
Não é para qualquer um. Os que ficam são os que sofrem, e para eles há o
conforto de que o falecido não sofreu em sua passagem, morreu dormindo
serenamente, o seu coração simplesmente parou de bater, mas antes deixou tantas
coisas boas em nossos corações. Descanse em paz, Manuel.
Rio vermelho, 14 de
fevereiro de 2023.