quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Nunca te vi antes, cara pálida.

Uma dentre as muitas coisas que me intrigam no peculiar comportamento das mulheres, é a súbita perda de memória a que, algumas, são acometidas quando elas se encontram casualmente com um amigo, estando elas acompanhadas de outro homem, obviamente. Aquele amigo, repentinamente tem o seu status rebaixado para a condição de um mero conhecido, que pode até se tornar um completo desconhecido, no caso de o pimpolho ao seu lado for um cara cismado. Isto quando elas não o ignoram completamente. Por que será que isto acontece?, fico matutando. Lembro de já ter visto coisa parecida na minha adolescência, mas será que algumas mulheres adultas continuam sendo ainda tão imaturas como nos tempos de escola?

Na ultima sexta-feira, resolvi dar uma volta pela noite do Rio Vermelho; eu que quase nunca saio de casa à noite, confirmei aquilo que já sabia de antemão: não estou perdendo nada ficando em casa. Imaginem que os passeios, aquelas vias destinadas exclusivamente aos pedestres, estavam ferozmente transformados por automóveis em estacionamento, não nos deixando outra alternativa se não a de fazer malabarismos no meio rua em meio ao interminável congestionamento do bairro, causado por sua fama boemia. Em alguns pontos dos mesmos antiquados passeios, proprietários de bares e restaurantes jogam ali o lixo produzido em seus estabelecimentos. Imagine como devem ser suas cozinhas! Como se não bastasse tal demonstração da civilidade baiana, ruas e largos onde os boêmios se concentram, cheiravam terrivelmente a excremento humano, levando-me à incomoda conclusão de que eles se aliviam ali mesmo onde estão, enquanto conversam animadamente entre amigos. Some-se a isto latas de bebidas, copos descartáveis e restos de comida que encontram o seu lugar cativo no chão em meio ao publico. Isto é aquela qualidade que o baiano tanto se orgulha de possuir e a que chamam de "espontaneidade". Se deu vontade, então porque perder tempo procurando esta coisa tão démodé como um banheiro, se podem fazer ali mesmo enquanto confraternizam? Nada mais pitoresco.

Pois bem, e lá ia eu por uma ruazinha curtindo a agradável brisa de uma noite de outono com o firmamento estrelado e o odor da espontaneidade baiana por todos os lados, quando encontrei com JR. Eu e JR não somos exatamente grandes amigos ou mesmo amigos, destes de sairmos juntos ou de nos telefonarmos para jogar conversa fora. Eu, particularmente, não gastaria nenhum dos meus créditos telefonando para ela — por completa falta de assunto — assim como ela certamente não o faria comigo. Quando muito ela está entre os meus "amigos" do Facebook — e não adianta procurar por lá por uma JR pois não vai encontra-la! Não importa como viemos a trocar palavras pela primeira vez, mas é fato que sempre que nos encontramos nestas raras ocasiões em que faço um périplo pelo bairro, sempre nos cumprimentamos efusivamente com beijos e abraços e toda sorte de conversa fiada tão comum para quem não tem exatamente nada mais para dizer um para o outro. Mas desta vez, no entanto, ela não pareceu lá muito entusiasmada em me ver, nem me chamou de "Cris" como das outras vezes. Foi uma recepção glacial com um seco aperto de mão, daqueles que faz agente pensar que a mão do outro talvez esteja contaminada pelo vírus da hipocrisia e que ela estivesse receosa em passar aquilo para mim. Fiquei intrigado com aquele tratamento, mas logo percebi a presença de um sujeitinho ao seu lado. Já estava explicado, ela estava "acompanhada". E alguma coisa em sua mente equivocada lhe dizia que não deveria falar com "estranhos". Aquela atitude me pareceu cômica, quando é que eu me tornei ameaça para algum outro homem? Logo eu, que a cada ano fico mais careca e barrigudo e quase um invisível para as mulheres? Aquela breve sensação de ser um concorrente para alguém foi uma massagem em minha autoestima mas, no entanto, deixou-me intrigado. O que será que se passa na cabeça de uma mulher numa hora destas?

Eu gostaria que alguém me explicasse mais este comportamento incompreensível entre os sexos. Será que passa pela cabeça da mulher que nós homens vamos justamente aproveitar a oportunidade que ela está acompanhada para saltar em seu pescoço feito um vampiro? Ou que pretendemos revelar ao seu acompanhante algum segredinho de sua vida pregressa, se por acaso soubéssemos de algum? Ou, na pior das hipóteses, — longe de ser o meu caso — que vamos roubar o seu namoradinho? Seja lá o que for, provavelmente uma mulher adulta e segura de si cumprimentaria o seu amigo ou conhecido e até o apresentaria ao seu acompanhante. Sem dúvida, uma demonstração de que ela sabe se relacionar com pessoas e tem muitos conhecidos e amigos. Parece-me que esta é a atitude mais civilizada e evoluída.

Uma querida amiga carioca, no entanto, uma mulher resolvida e sensata, e que guia o seu destino e o de outros pelos astros, disse-me que já viveu situação semelhante, mas que não deixou por menos. Conta ela que quando se batia casualmente com uma certa amiga, e esta estava acompanhada de seu esposo, um sujeito de aparência cansada e olhar enfadonho, ela simplesmente a ignorava! Fingia que não a conhecia, nunca a vira antes em toda a sua vida. Certa vez, conta ela, estava num boteco em Ipanema alegremente com amigos e eis que esta sua amiga veio lhe falar, porque, obviamente o marido tinha sido deixado em casa e por isso ela se sentia segura para falar com "estranhos", ao que ela indagou-lhe mostrando sua indignação: "porque quando você está com o seu marido você não fala comigo? Vê se cresce, garota, pois eu tenho mais o que fazer! Vê se me esquece e não fala mais comigo, tá?" Choquei-me com aquele seu comportamento grosseiro, por saber dela ser uma mulher refinada e educada, apesar de não lhe negar a razão. Ela me explicou: "Quando eu sou boa, eu sou muito boa. Mas quando sou má, sou melhor ainda!"

Rio Vermelho, 4 de novembro de 2010.

3 comentários:

Sarnelli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sarnelli disse...

Cris , passei por aqui e lhe deixo um abraço. Claro que a sua crônica. Ela está, rigorosamente, dentro do seu estilo leve e agradável. Meus parabéns. É como eu digo: do nada, você sempre tira alguma coisa. Nem preciso dizer que o texto me agradou

Lua Teixeira disse...

Tiu Cris adoreeeei seu blog e claro que a sua crônica .
Parabés e sucesso !!!!

Beeijos
Lua .