É gratificante conseguir provocar emoções positivas no leitor, levá-lo a recordar momentos de sua vida através do texto literário ou apresentá-lo a uma realidade diferente da qual ele conhece, ou apenas diverti-lo. Uma assídua leitora enviou-me um simpático e-mail agradecendo-me pela crônica “Sobre pedaços de mamão, banana... e a natureza” – infelizmente ainda não foi a aquela bonita para quem dediquei carinhosamente a estória, mas rogo a Deus pelo dia em que ela alegrará com algumas gentis palavras este seu humilde admirador – pois esta a fez recordar das férias de sua infância passadas no sítio dos avós, da casa simples rodeada por uma enorme varanda com redes balançando ao vento e de onde podia-se contemplar mangueiras, cajueiros, pés de jambo, pitangueiras e sapotizeiros que atraiam a visita de passarinhos, cutias e outros bichinhos.
Ela também quis saber se realmente pica-paus chegavam à minha janela e, embora o único que eu tenho absoluta certeza de já ter visto na vida foi aquele do desenho animado, respondi-lhe garantindo que este agia tal qual, usando o bico para dar marteladas, embora eu fosse incapaz de distinguir se este era um genuíno pica-pau ou apenas uma ave qualquer fazendo-se passar por um. Fiquei intrigado com aquela dúvida e resolvi tirá-la a limpo pesquisando na internet, mas depois de exaustiva procura não encontrei nenhuma imagem que se assemelhasse ao meu ilustre visitante, uma ave de porte maior que um passarinho, coberta por uma plumagem amarelo canário e o feliz possuidor de um bico longo e robusto. Mesmo assim não esmoreci em meu intento e resolvi tentar identificar o meu pica-pau com alguém que entendesse do assunto através de uma foto. Munido de minha câmera fui à cata da ave pelas redondezas da casa, mas na minha primeira tentativa não encontrei nenhuma. Fui ingênuo ao supor que os pica-paus fossem como as rolinhas ou os pardais que existem aos montes e nos visitam a toda hora por causa das frutas que lhes oferecemos.
Tentei a seguinte estratégia, deixei a câmera à mão para o caso do pica-pau aparecer enquanto eu trabalhava em minha sala, próximo a uma janela. Devo confessar que foi uma tarefa difícil escrever e ficar vigilante ao que se passava do lado fora, mas finalmente um pica-pau deu o ar da graça e antes de eu mirar no alvo ele se foi tão rápido quanto tinha chegado. As tentativas seguintes foram igualmente sem sucesso, o que me fez concluir que os pica-paus são seres inquietos ou que não gostam de serem fotografados, razão pela qual nunca esquentam o lugar onde pousam. Por mais que eu fosse mais ágil, este era sempre mais rápido que eu.
As tentativas frustradas me fizeram sentir fome e, como um passarinho, fui atrás de uma banana voando pela casa... Enquanto descascava a fruta ocorreu-me uma ideia brilhante e tão obvia. Por que não usar um pedaço da banana para atrair o pica-pau e quando este se detivesse bicando-a eu teria mais tempo para fotografá-lo? Foi o que eu fiz, da banana que eu comia parti um generoso pedaço que joguei sobre o telhado que cobre a área de serviço que fica em frente à minha janela e voltei aos teclados. Realmente é muito difícil trabalhar em casa, pois volta e sou distraído com assuntos domésticos ou qualquer outra coisa. Cerca de uma hora depois, um pica-pau pousou de olho grande na isca e caiu feito um pato em minha cilada. Posou para uma bela foto que enviei por e-mail para o meu amigo Rogério, um grande apreciador de aves tanto voando como pousadas em seu prato. Respondeu-me desconcertado que o meu pica-pau mais parecia um bem-te-vi, mas que se eu fazia tanta questão de uma identificação positiva, este poderia ser também o famoso pica-pau-amarelo!
Rio Vermelho, 30 de julho de 2011.
3 comentários:
Desde o começo da leitura que eu me perguntei: onde esse cara conseguiu um pica-pau por aqui ? Ia desafiá-lo a continuar à caça do bichinho , mas a minha dúvida foi desfeita no final pelo seu amigo, que esclareceu o assunto. Como pôde confundir um bem-te-vi com um pica-pau ? Se quiser ver um , ligue a TV e encontrará um mau caráter tremendo . Como era mesmo que pretendia fazer um pica-pau fazer pose para uma foto, com um pedaço de banana ? Quem sabe, talvez um assanhaço que também gosta de mamão e de outras frutas. Mas o dito cujo não é amarelo... rsrsrsrsr
Bacana Cris!
Continue dando asas a sua imaginação e delicie os leitores com suas crônicas, que trata de um passado, com pitadas contemporâneas de um pensar em movimento.
Grande abraço!
Salvador (Dodô)
Bem legal Cristiano!
Não dá pra postar a foto do dito cujo pra agente ver também?
Abrcs
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