terça-feira, 18 de outubro de 2011

Il sole é mio!

Se o luar é dos amantes então, o pôr do sol a quem pertence? Todos os fins de tarde, nas três últimas semanas, Bartolo, o meu amigo italiano, calça o seu sempre bem cuidado par de tênis de futebol de salão e, munido da câmera digital novíssima em folha, vai até a Praia de Santana registrar mais um crepúsculo. Outro dia ele não compareceu como esperado, preferiu ficar em casa fazendo espaguete, porém, imaginando que se tratava apenas de um mero atraso, o sol retardou o seu momento de sair de cena como se estivesse à sua espera para mais uma vez exibir-se para a fotografia, mas como o italiano não deu as caras, a noite, então, começou um pouco mais tarde aquele dia.

Todos os fins de tarde, eu saio para caminhar na orla do Rio Vermelho, naquele trecho entre o Teatro do SESI e a segunda escada da Praia da Paciência cujo comprimento deve ter pouco mais que mil metros, e repito o mesmo percurso cerca de oito vezes, considerando-se a ida e a volta. Tudo de caloria e gordura que eu perco neste exercício inútil, eu candidamente reponho, às sextas-feiras, comendo churrasco ou espetos de camarão pistola e sardinha na brasa, regados a fartas rodadas de cerveja estupidamente gelada no refrigerador de última geração da casa de meu amigo e vizinho Habib. O caminho do meu “Cooper” é sinuoso porque ele obedece ao movimento do mar, começando reto até a igreja e depois fazendo uma barriga acompanhando a enseada da Praia de Santana e depois segue reto novamente e mais adiante faz outra barriga na Praia da Paciência. É uma caminhada privilegiada por poder se admirar toda a beleza do mar quebrando nas pedras jogando espuma para o alto. Até bem recentemente, o pôr do sol só era visto acontecer por detrás de prédios e, por isso, não era um espetáculo lá muito interessante, mas como ele tem se movido no sentido leste como parte de seu ciclo natural, não faz muitos dias, ele já é visto desaparecer no oceano, onde pode ser melhor contemplado por quem quer que esteja andando ou passando de automóvel ao longo da avenida que corre lado a lado com o mar.

Um fato que tem merecido a minha atenção é o encantamento das pessoas pelo pôr do sol e o seu impulso de fotografá-lo como única forma de congelar para sempre aquele momento singular, porque o sol se põe diferentemente todos os dias para nunca repetir o mesmo espetáculo. Então eu vejo pessoas como o meu amigo Bartolo chegar até a orla trazendo suas câmeras com a vívida intenção de gravar aquele momento sublime. Ou outras que, de dentro de seus carros ou do ônibus ou encima da motocicleta, no congestionamento da avenida naquele final de tarde, não desperdiçam o momento e fazem uso até de câmeras embutidas em aparelhos celulares. Tudo está valendo, de máquinas baratinhas até as profissionais com suas teleobjetivas espetaculares, desde que ninguém deixe de compartilhar aquele efêmero instante. De onde vem tal magnetismo pelo pôr do sol? Como ele consegue esta façanha de se reinventar a cada dia e agregar tantos admiradores? Eu mesmo fico divido entre fazer o meu exercício ou apenas sair de casa levando a minha Canon para juntar-me aos outros para celebrá-lo. Talvez por preciosismo, no entanto, eu penso que o pôr do sol deveria ser livre e sempre único e guardado na memória, por isso me privo de fotografá-lo porque nada substitui a emoção de vê-lo ao vivo.

Rio Vermelho, 18 de outubro de 2011.

5 comentários:

Sarnelli disse...

Virei personagem da sua história , pelo que agradeço. Você só esqueceu de dizer que o spaghetti foi devidamente consumido naquela mesma noite. Ele tem que sair da panela diretamente para a mesa ... Como bom observador, avaliei que naquela tarde, devido às nuvens, eu ganharia com os meus spaghettis... Como você sabe, sou exigente em ambos os sentidos: quanto às fotos e quanto ao spaghetti... quanto ao seu cooper , acho que deveria dobrar a quilometragem para gastar mais calorias. Neste sábado nos encontreremos no lugar de sempre para degustar aquela loirinha gelada em aparelho especial , aquele churrasquinho, com vantagem que teremos com a " invenção " do Barrão, muito prática, por sinal !

Anônimo disse...

Cristiano, como sempre simples e bela a sua nova postagem.

Um abraço, Paulo.

Anônimo disse...

Mais uma vez, lendo suas crônicas , faço as pazes com o dia..... obrigada amigo pela culta meiguice de seu escrever

Marcella

Elias Bittar disse...

Muito bom !!!!!

Abração !!!!

Elias Bittar

Anônimo disse...

Parabéns!!! Ainda não li todas, mas, quanto ao Por do Sol, queria fazer o registro de que quando paramos para fotografar perdemos uma oportunidade a mais de apreciar e a fotografia, em nada se equipara ao momento perdido.
Verena Leal