domingo, 11 de dezembro de 2011

Que azar danado.

Já escrevi aqui sobre minhas caminhadas na orla do Rio Vermelho nos finais de tarde, mas não devo ter contado que, na verdade, estou treinando para as olimpíadas, pois vou competir na modalidade “devagar se vai ao longe”. Este exercício tem me feito muito bem, embora eu não saiba precisar exatamente em quê. Mas depois que o verão começou para valer derretendo-nos feito picolé, tenho saído de casa só depois que o sol se põe por completo porque uma brisa suave e fresca começa a soprar na orla tornando a atividade de caminhar num exercício agradável e revigorante.

No domingo passado, fui dar minha caminhada no início da noite, mesmo sabendo que as ruas estavam desertas àquela hora, o que não deixava de ser uma imprudência minha, pois Salvador, nesta época do ano, está entregue aos bandidos, movidos pelo espírito natalino. Estas festas de fim de ano realmente movimentam a economia em todos os setores e por isso não é de surpreender o aumento da ação dos criminosos que não querem ficar à margem dos acontecimentos. Pois lá ia eu, tranquilamente em minha caminhada, gozando da brisa do mar e absorto em meus pensamentos quando um negão surgiu armado à minha frente e me mandou passar tudo que eu tinha e que não era quase nada, pois não carrego coisa alguma comigo além das chaves de casa. Insatisfeito com a minha penúria, levou-me o único bem de valor que achou, um velho relógio de pulso comprado num camelô no centro da cidade e que me custou, depois de barganhar o preço, exatos oito Reais. Não estivesse ele visivelmente apressado, pois tinha em mente outras vítimas mais abonadas, poderia ter levado meu par de tênis que era de grife e me custara os olhos da cara. Depois de ter praticado o “malfeito”, o bandido se foi correndo para os lados da praia e sumindo no breu dos rochedos que dá acesso para uma favela nas proximidades e onde provavelmente ele fixara residência. E eu segui o meu caminho, continuando o meu exercício mesmo assim, pois a probabilidade de eu ser assaltado aquela noite já se concretizara e só por muito azar mesmo isso aconteceria duas vezes seguidas em pouco espaço de tempo. Preferi esquecer aquele incidente desagradável e deixá-lo para trás, pois o que estava feito, já estava feito.

Quis o destino que naquela mesma noite, mais tarde, eu fosse ao Cinema do Museu, que se gaba de ter uma clientela diferenciada e educada. Educada uma ova, pois durante o filme alguns representantes dessa elite aproveitavam para conversar entre si, fazer ligações ou recebê-las como se todos na plateia fossem obrigados a aturar a sua completa falta de educação. Agora que desabafei, continuo minha narrativa dizendo que depois do filme voltei para casa e no caminho dei uma parada no Porto da Barra para tomar uma água de coco gelada porque o calor estava de matar. Enquanto me refrescava com a salutar bebia, encostei-me à balaustrada observando na praia lá embaixo um grupo animado que fazia um luau, alguns casais namorando deitados na areia e alguns gatos pingados aventurado-se a cair na água que estava serena e presumivelmente tépida. Enquanto eu me deleitava com aquele cenário, um rapaz se aproximou de mim para me abordar e como o seu rosto me fosse familiar, estendi-lhe a mão para cumprimentá-lo. Ele apertou minha mão e, para minha surpresa, pediu-me dinheiro e, como lhe neguei, pediu-me um cigarro e, como eu não tinha nenhum porque não fumo, ele foi-se embora. Enquanto ele se distanciava eu tentava puxar pela memória de onde eu o conhecia até que tive um sobressalto ao lembrar que ele era o cara que me assaltara algumas horas antes!

Rio Vermelho, 11 de dezembro de 2011.

3 comentários:

Sarnelli disse...

Sem comentário... Eu já tive uma experiência desse tipo , porém foi em torno das seis della mattina. Na curva da rua da Paciência, fui abordado por um indivíduo portando uma faca tipo sapateiro que acabou não levando nada , mas deixando, sim, um risco de sangue no meu rosto causado pela faca, afiada como uma navalha , que me tocara o rosto por causa da minha reação. Tempos depois, vi a sua fotografia nos jornais...A Polícia havia dado cabo de um perigoso assaltante ! Como certeza, esse não vai assaltar mais ninguém...Pena, o seu relógio... que deu tanto trabalho para barganhar o preço...

Anônimo disse...

Incrível sua história ....um azar afortunado!

Meu abraço

Marcella

Anônimo disse...

Cristiano, mais uma vez a sua simplicidade ao escrever agrada a todos. Fiquei preocupado com o negão, a felicidade é que ele estava apressado,caso contrario o final não seria tão feliz.

É bricadeira.

Um abraço, Paulo Tude