Sexta-feira, vesti minha roupa
de domingo e fui ao encontro com a moça de meus sonhos. Um táxi casualmente
passava em frente de casa, fiz sinal e ele parou. Toca pro corredor da Vitória,
eu disse, que a moça já está me esperando. Falei assim para impressioná-lo,
queria que soubesse que não sou um João de Ninguém, pois à minha espera, estava
uma bela moça. Era para ele andar mais rápido, também, e escolher o caminho
mais curto. Mas não menti totalmente. Havia, sim, uma moça na parada, mas eu era
quem iria esperar por ela. Meu coração batia de tanta felicidade, como o de uma
criança que acabou de ter encontrado com Papai Noel. O taxista, percebendo a minha
ansiedade, arriscou:
— É tão bom ir encontrar-se com namorada nova, não é mesmo?
— Esta não é nova e nem é velha. É apenas um projeto amoroso
que, pelo andar da carruagem, nunca deixará o plano das boas intenções.
— Eu estou entendendo o que o senhor está me dizendo... –
disse pensativo.
— Este é um daqueles casos complicados que não ata e nem
desata, entende? Um joga confete no outro, mas nenhum dos dois toma a
iniciativa.
— O meu caso é um desses complicados também. – lamentou o
taxista.
— E eu já até tentei me declarar, falar-lhe do meu amor por
ela, mas ela não deixa, pois ela tem o dom da palavra: fala pelos cotovelos!
— O senhor permite eu lhe dizer uma coisa?
Imaginei que viria de lá um daqueles conselhos de taxistas.
Eles sempre têm solução para tudo e sabem das coisas melhor que ninguém. Se no
Congresso só houvesse motoristas de táxi e se fossemos governados só por eles,
o Brasil, com certeza, seria um país bem melhor. Não haveria inflação ou
desemprego, nem mais pobreza, o problema da violência estaria resolvido, o
corrupto iria ver o sol nascer quadrado o resto da vida, nossa educação seria
melhor que a da Coreia do Sul, a soja não apodreceria no caminhão na fila de
espera para ser embarcada no navio, não haveria mais seca no Nordeste, nem filas
em hospitais públicos e a nossa Seleção teria uma escalação de fazer gosto. Mas,
ao invés de dar um conselho, ele me surpreendeu.
— Eu estou muito apaixonado. – declarou emocionado.
— É... Também padeço da mesma moléstia.
— Mas o senhor tem sorte, vai encontrar com a moça daqui a
pouco, assim que eu lhe deixar em seu destino. A minha mora lá no fim do mundo,
no Amapá.
— A minha situação não é muito diferente. É como se ela
morasse no Cazaquistão, só vejo de andorinha em andorinha e, às vezes, nem isso.
Você a conheceu pela internet?
— Não. Conheço-a em carne e em osso! – disse com orgulho.
Curioso, perguntei:
— E
como foi isto?
— Ela
veio a Salvador a trabalho, fui seu motorista o tempo todo. Ela é uma
empresária lá na terra dela, muito bem de vida, por sinal.
— Ah,
sim...
—
Agente foi se entendendo e sabe como são estas coisas...
—
Comeu-la?
— Não!
Não houve oportunidade, mas rolou muito carinho. Agente saía pra namorar todas
as noites e quando ela estava livre do trabalho. Íamos jantar fora, estas
coisas. Ela pagava tudo, não deixava eu ter despesa alguma, me tratava como um
príncipe. – os olhos marejaram.
— Que
bacana.
— Antes
de ir embora, quis me dar um relógio de presente, mas não aceitei. Não aceito
presente caro de mulher, não sou homem disso.
— Agiu
corretamente. – eu disse, embora pense o contrário. Que mal tem em receber um
presente caro?
— Meu
senhor, eu não paro de pensar nessa mulher, eu penso nela noite e dia. Eu tô
aqui conversando com o senhor, mas estou pensando nela. É um tormento, nem
durmo mais direito de pensar tanto nela.
— Eu
sei como é isto...
—
Estou com muita saudade... Ela não me telefona, eu fico esperando uma ligação
dela, mas até hoje ela não me telefonou, depois que voltou pro Amapá.
— Mas
porque você não faz uma surpresa a ela e liga você mesmo?
— É
meio complicado...
— Como
assim? Não tem o telefone dela?
— Tenho
sim. Mas vai que o marido dela atende o telefone?
Rio
Vermelho, 27 de abril de 2013.