À medida que os anos passam,
eu vou me tornando um sujeito mais cínico. Não sei ao certo se isto é decorrente
de um processo natural do envelhecimento ou se, de fato, estou ficando mais cínico, mesmo. Outro dia, enquanto eu aguardava a minha vez na longa fila do
banco, a atendente me chamou, achando que eu fosse uma pessoa idosa e, por
isso, tinha prioridade no atendimento. Já era a terceira vez que algo semelhante
me acontecia, e, diferente das ouras vezes em que eu desfiz o engano, olhei desanimado
para a longa fila à minha frente e depois lancei um olhar de candura para a
moça do caixa me dirigindo em sua direção com os passos lentos de um idoso.
Acho que até tossi um pouco para demonstrar que aquela poderia ser a minha
ultima fila.
Ainda
que falte muito tempo até que eu goze de tais privilégios, eu não me ofendo se
me tomam por um sexagenário, embora, minha aparência não esteja tão ruim assim.
Quando eu faço a barba, corto os cabelos e tomo um bom banho, fico novo em
folha! A verdade é que eu detesto aguardar em filas – e quem gosta? – e se me
tomam por tão velho a ponto de merecer um lugar antes de todos, eu me vingo! Entretanto,
não ajo como outros que estacionam em vagas para idosos ou deficientes físicos.
Minha birra é só com as filas quilométricas de banco no início do mês e da
lotérica em dia de jogo acumulado. Eu fico me perguntando, porque será que idoso
tem prioridade para jogar?
Dia
desses, eu aguardava o sinal para atravessar uma movimentada rua aqui no Rio
Vermelho. Era um daqueles horários da manhã que aparecem automóveis de tudo
quanto é lado. Enquanto eu esperava pacientemente pelo sinal verde para
pedestre, notei que ao meu lado também esperava uma bela moça. Depois que uma
faculdade particular para filho de gente rica se instalou aqui no bairro, não
apenas os congestionamentos por aqui aumentaram, as contramãos em vias de mão
única também e as calçadas se tornaram estacionamentos para os automóveis dessa
gente bonita e civilizada, mas um grande número de moças bonitas começou a
circular pelo bairro durante o dia, equilibrando-se desajeitadas sobre finos e
longos saltos altos. Uma dessas beldades ao ser questionada por mim, depois de
colocar os quatro pneus de seu lindo carrinho sobre o passeio de uma rua
movimentada, respondeu-me que estava no seu direito, uma vez que não havia
placas no local proibindo-a de fazer aquilo!
Voltando
à moça ao meu lado no semáforo (é assim que o baiano chama o sinal luminoso de
tráfego). Eu sorri para ela encantando e ela me devolveu o sorriso com a mesma
simpatia. Para a minha satisfação, ela até chegou mais próximo de mim. Foi
quando o sinal abriu para nós e ela num movimento rápido surpreendeu-me
segurando o meu braço na altura do cotovelo dizendo: “Vamos?” Ao que eu
perguntei chocado: “Para onde?” Ela responde: “Atravessar a rua, o senhor não
estava querendo uma ajuda para atravessar?” Por mais esta eu não esperava,
mesmo!
Rio
Vermelho, 17 de setembro de 2013.