terça-feira, 3 de setembro de 2013

A Luta Para Nascer ou Pelo Renascimento do Parto Natural

Outro dia eu estava empenhado na simplória tarefa de comprar um papeiro. Caso alguns desconheçam este útil artefato de cozinha, informo-lhes que se trata de uma pequena panela de metal, muitas vezes com o acabamento feito de ágata, usada para fazer mingau para o bebê. Eu o uso para ferver um ovo, por exemplo, fazer molhos e, é claro, fazer mingau de aveia, minha refeição preferida no café da manhã. Aquele que me serviu por tantos anos, de tão velhinho que estava, o cabo desprendeu-se da panela. Sem conserto, foi aposentado com honrarias, por relevantes serviços prestados (joguei no deposito).
         Percorri três grandes shoppings da cidade e neles entrei em lojas especializadas em artigos para bebês, em lojas de variedades para a casa e em lojas de artigos para a culinária. Em nenhuma delas encontrei um único papeiro. A procura por um substituto ao que eu tinha me levou ao conhecimento de uma triste realidade de nossos tempos. As mães de hoje não fazem mingaus para os seus bebês, dá muito trabalho. Preferem comprar um produto industrializado que vem numa lata bonita. É só misturá-lo ao leite morno e voilá! Será que esta maravilha moderna é realmente saudável ao desenvolvimento do rebento? Foi sepultado de vez o romantismo de fazer com amor o mingau da criança, mexendo-o com a colher de pau em frente do fogão, como fizeram muitas mães de minha geração. As jovens mamães de hoje em dia tem mais o que fazer.
         Mães modernas desejam praticidade e não ter tanto trabalho. Até o trabalho de parto tem rejeitado. Somos o país do mundo campeão em cesariana. É tão conveniente marcar o dia e hora em que vai se dar a luz, nada da nojeira da bolsa rebentando e sujando o assoalho limpo, nada de correr para o hospital sentindo dores e contrações no meio da madrugada, no fim de semana. Nem sentir as dores lancinantes provocadas pela criança procurando o caminho de entrada neste mundo insano. Para o médico é, também, um alívio não ter a inconveniência de um parto no meio de seu fim de semana à noite, interrompendo o seu merecido descanso na casa de praia. Faz bem à sua conta bancária.
         É triste, mas é uma dura realidade, jovens mães abdicaram do direito ao parto natural.  Algumas por vontade própria e conscientemente, outras por indução daqueles que elas escolheram para cuidar de seu bem estar, que um parto cesariano é mais lucrativo financeiramente. Precisa falar mais? Jovens mães, não renunciem de uma experiência que é só da mulher e que só trás benefício ao seu bebê. Sabiam que enquanto o bebê está na barriga da mãe ele está num ambiente “esterilizado” e ao sair para mundo, por vias naturais, este é batizado ao longo do caminho com um coquetel de “germes” que ajudam o seu sistema imunológico a enfrentar a barra aqui fora?
         O nascer por via do parto natural é um grande esforço para a mãe e é, também, a celebração de sua experiência de gestação plena e bem sucedida, um fato único em sua vida, um ritual de passagem para se tornar mãe. Ela conseguiu, foi até o fim! Não passar por esta última parte é como ler um livro e abdicar do capítulo final, não viverá a emoção do final da estória. Algo vai sempre estar faltando... Nascer pelo parto natural é, também, a primeira grande luta do bebê para chegar ao mundo. Outras lutas virão mais adiante, mas se ele conseguir enfrentar pelo menos esta, ele terá a garra para as outras que surgirão pela frente. E se, ao contrário, ele for poupado desta primeira luta, como será a sua existência frente às muitas dificuldades que ainda surgirão pela frente?

         Rio Vermelho, 3 de setembro de 2013.

         

8 comentários:

Sarnelli disse...

Excelente meu caro Cristiano , parabéns ! Curti e é uma verdade insofismável o motivo da sua CRÔNICA. Com o intuito de lhe ajudar , passo uma dica. Da próxíma vez que necessitar de papeiro, cuscuzeiro ou utensílios culinários para as suas experiências, sugiro dar um pulinho à Baixa dos Sapateiros , específicamente, à Sete Portas, o paraíso das panelas e peças de reposição. Quem sabe você pudesse, ali, até trocar o cabo da sua velha peça , agora encaminhada ao nuseu ? . Ali, você encontra de tudo para reviver experiências do passado. Eu também acho que esse negócio de papinhas prontas que você encontra nas prateleiras dos supermercados é uma enganação ...

Anônimo disse...

amei!!!!!
Inês Lima

Anônimo disse...

Cris

Adorei....mas é uma triste verdade...
Se não encontrou compre na Ferreira Costa,lá encontrei aquelas xícaras de interior antiga do mesmo material.
Bjo

Sandra.

Anônimo disse...

Muito bom seu texto, pura reflexão! Mas, se quiser continuar a fazer o seu mingau no papeiro, tente procurar, pois com certeza achará: na Baixa dos Sapateiros, ou na Av. Sete ....rsrrsrrrs. Abraço no coração.
Odete Lima

Anônimo disse...

Cristiano, muitas das mulheres que vão ler sua cronica
dirão com certeza: este sacana merecia ter a dor do parto.
Um abraço, Paulo.

Berna Farias disse...

Cristiano, amei seu texto! Olhe, a última vez que comprei um papeiro encontrei no Bompreço ali perto de nossas casas, no Rio Vermelho. Quanto às mães e seu descompromisso com o dar à luz da forma natural, com o preparar a própria comida do bebê e outros tantos descompromissos mais, é tão ou mais grave quanto a "terceirização" que muitas fazem da criação e educação dos filhos (criar e educar não são necessariamente a mesma coisa), deixando para a sociedade esse ônus imenso de criaturas mais descomprometidas com as outras pessoas e com o mundo em que vivem do que suas mães foram/são com elas. Ih, sem falar no mal à saúde dos pequenos dar comida industrializada, tipo mingau instantâneo: pior é dar café e coca-cola a bebês, e isso acontece, hein? Um beijo!
Berna

Anônimo disse...

Adorei seu texto. As papinhas e um costume bem regional, as prontas sao praticas, a vida hj em dia e muito corrida. Quanto aos partos, na minha experiencia como mae e profissional na area de obstetricia, o parto NORMAL e rapido, sem sofrimento pra mae e pro bebe. Ainda existem muitos adeptos ao parto natural.Bjs Dodo

Anônimo disse...

Cristiano,
Lindo seu texto, super verdadeiro, e acho que estamos caminhando também, para o banho do bebê com toalhas umedecidas descartáveis.
Daqui há uns anos, não vão existir mais os deliciosos banhos de banheirinhas.
Beijos,
Elisa