Outro dia eu estava empenhado
na simplória tarefa de comprar um papeiro. Caso alguns desconheçam este útil
artefato de cozinha, informo-lhes que se trata de uma pequena panela de metal,
muitas vezes com o acabamento feito de ágata, usada para fazer mingau para o
bebê. Eu o uso para ferver um ovo, por exemplo, fazer molhos e, é claro, fazer
mingau de aveia, minha refeição preferida no café da manhã. Aquele que me
serviu por tantos anos, de tão velhinho que estava, o cabo desprendeu-se da
panela. Sem conserto, foi aposentado com honrarias, por relevantes serviços
prestados (joguei no deposito).
Percorri três grandes shoppings da cidade e neles entrei em lojas
especializadas em artigos para bebês, em lojas de variedades para a casa e em lojas
de artigos para a culinária. Em nenhuma delas encontrei um único papeiro. A
procura por um substituto ao que eu tinha me levou ao conhecimento de uma
triste realidade de nossos tempos. As mães de hoje não fazem mingaus para os
seus bebês, dá muito trabalho. Preferem comprar um produto industrializado que
vem numa lata bonita. É só misturá-lo ao leite morno e voilá! Será que esta maravilha moderna é realmente saudável ao
desenvolvimento do rebento? Foi sepultado de vez o romantismo de fazer com amor
o mingau da criança, mexendo-o com a colher de pau em frente do fogão, como
fizeram muitas mães de minha geração. As jovens mamães de hoje em dia tem mais
o que fazer.
Mães modernas desejam praticidade e não ter tanto trabalho.
Até o trabalho de parto tem rejeitado. Somos o país do mundo campeão em cesariana.
É tão conveniente marcar o dia e hora em que vai se dar a luz, nada da nojeira
da bolsa rebentando e sujando o assoalho limpo, nada de correr para o hospital
sentindo dores e contrações no meio da madrugada, no fim de semana. Nem sentir as
dores lancinantes provocadas pela criança procurando o caminho de entrada neste
mundo insano. Para o médico é, também, um alívio não ter a inconveniência de um
parto no meio de seu fim de semana à noite, interrompendo o seu merecido
descanso na casa de praia. Faz bem à sua conta bancária.
É triste, mas é uma dura realidade, jovens mães abdicaram do
direito ao parto natural. Algumas por vontade
própria e conscientemente, outras por indução daqueles que elas escolheram para
cuidar de seu bem estar, que um parto cesariano é mais lucrativo financeiramente.
Precisa falar mais? Jovens mães, não renunciem de uma experiência que é só da
mulher e que só trás benefício ao seu bebê. Sabiam que enquanto o bebê está na
barriga da mãe ele está num ambiente “esterilizado” e ao sair para mundo, por
vias naturais, este é batizado ao longo do caminho com um coquetel de “germes”
que ajudam o seu sistema imunológico a enfrentar a barra aqui fora?
O nascer por via do parto natural é um grande esforço para a
mãe e é, também, a celebração de sua experiência de gestação plena e bem
sucedida, um fato único em sua vida, um ritual de passagem para se tornar mãe. Ela
conseguiu, foi até o fim! Não passar por esta última parte é como ler um livro
e abdicar do capítulo final, não viverá a emoção do final da estória. Algo vai
sempre estar faltando... Nascer pelo parto natural é, também, a primeira grande
luta do bebê para chegar ao mundo. Outras lutas virão mais adiante, mas se ele
conseguir enfrentar pelo menos esta, ele terá a garra para as outras que
surgirão pela frente. E se, ao contrário, ele for poupado desta primeira luta,
como será a sua existência frente às muitas dificuldades que ainda surgirão
pela frente?
Rio Vermelho, 3 de setembro de 2013.
8 comentários:
Excelente meu caro Cristiano , parabéns ! Curti e é uma verdade insofismável o motivo da sua CRÔNICA. Com o intuito de lhe ajudar , passo uma dica. Da próxíma vez que necessitar de papeiro, cuscuzeiro ou utensílios culinários para as suas experiências, sugiro dar um pulinho à Baixa dos Sapateiros , específicamente, à Sete Portas, o paraíso das panelas e peças de reposição. Quem sabe você pudesse, ali, até trocar o cabo da sua velha peça , agora encaminhada ao nuseu ? . Ali, você encontra de tudo para reviver experiências do passado. Eu também acho que esse negócio de papinhas prontas que você encontra nas prateleiras dos supermercados é uma enganação ...
amei!!!!!
Inês Lima
Cris
Adorei....mas é uma triste verdade...
Se não encontrou compre na Ferreira Costa,lá encontrei aquelas xícaras de interior antiga do mesmo material.
Bjo
Sandra.
Muito bom seu texto, pura reflexão! Mas, se quiser continuar a fazer o seu mingau no papeiro, tente procurar, pois com certeza achará: na Baixa dos Sapateiros, ou na Av. Sete ....rsrrsrrrs. Abraço no coração.
Odete Lima
Cristiano, muitas das mulheres que vão ler sua cronica
dirão com certeza: este sacana merecia ter a dor do parto.
Um abraço, Paulo.
Cristiano, amei seu texto! Olhe, a última vez que comprei um papeiro encontrei no Bompreço ali perto de nossas casas, no Rio Vermelho. Quanto às mães e seu descompromisso com o dar à luz da forma natural, com o preparar a própria comida do bebê e outros tantos descompromissos mais, é tão ou mais grave quanto a "terceirização" que muitas fazem da criação e educação dos filhos (criar e educar não são necessariamente a mesma coisa), deixando para a sociedade esse ônus imenso de criaturas mais descomprometidas com as outras pessoas e com o mundo em que vivem do que suas mães foram/são com elas. Ih, sem falar no mal à saúde dos pequenos dar comida industrializada, tipo mingau instantâneo: pior é dar café e coca-cola a bebês, e isso acontece, hein? Um beijo!
Berna
Adorei seu texto. As papinhas e um costume bem regional, as prontas sao praticas, a vida hj em dia e muito corrida. Quanto aos partos, na minha experiencia como mae e profissional na area de obstetricia, o parto NORMAL e rapido, sem sofrimento pra mae e pro bebe. Ainda existem muitos adeptos ao parto natural.Bjs Dodo
Cristiano,
Lindo seu texto, super verdadeiro, e acho que estamos caminhando também, para o banho do bebê com toalhas umedecidas descartáveis.
Daqui há uns anos, não vão existir mais os deliciosos banhos de banheirinhas.
Beijos,
Elisa
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