Não me refiro aqui àquele tipo
de chato que nós homens acidentalmente adquirimos ao conhecermos intimamente uma dama a qual recompensamos
monetariamente pelos seus favores. Falo de gente insistente. Não há nada mais
aborrecido que receber telefonema de serviço de telemarketing. Quase sempre tentam
nos vender algo que não precisamos ou querem roubar nosso precioso tempo
fazendo uma pesquisa cujo resultado dificilmente tomaremos conhecimento ou nos
beneficiará de alguma forma. Este pessoal parece ter pós-graduação em escolher
os momentos mais inoportunos e fazem isto de maneira insistente e de um modo polido
e refratário. Pode-se dizer qualquer grosseria para eles e eles continuarão lhe
tratando com a mesma frieza e educação, sem demonstrar qualquer emoção ou
contrariedade, seguindo um roteiro de diálogo previamente ensaiado. Depois da
classe política, esta talvez deva ser a profissão mais odiada. Há quem os
defenda argumentando que eles estão apenas fazendo o seu trabalho, no que eu
concordo, mas que trabalhinho chato este!
Certa vez, eu almoçava na casa de um amigo quando fomos
interrompidos por um destes telefonemas. Espirituoso, ele explicou à moça do
outro lado da linha que estava na sua hora de almoço e antes que ela insistisse
em realizar a sua tarefa, ele perguntou o número do telefone dela e em que
horário ela almoçava, pois iria lhe retornar a ligação durante o almoço dela!
Eu nunca tive a sua presença de espirito e sempre que eu
recebia um telefonema perguntando por mim dizendo o meu nome completo num tom
bastante formal, eu já sabia só poderia se tratar de uma ligação de
telemarketing. O melhor que eu conseguia fazer para me livrar do aborrecimento
era dizer que eu não estava. Ora, minha tática era pouco eficiente, pois se eu
não estava, nada mais previsível que ligassem novamente até me encontrar em
casa e era justamente isto o que acontecia. Mas eles são muito espertos, como
Cristiano Teixeira nunca estava, eles passaram a me telefonar e perguntar de modo
bem casual: “O Cristiano está ai?”
Certa vez resolvi enfrentar o problema de frente e quando a
moça do outro lado da linha perguntou por mim, não fiz como das outras vezes,
respondi-lhe que era eu mesmo que estava falando. Deixei que ela tentasse me
vender o seu peixe e depois de ouvi-la disse que não estava interessado.
Entretanto, dizer a uma pessoa do telemarketing que eu não estava interessado era
o mesmo que dizer-lhe que eu não estava em casa. Não estar interessado não faz
nenhuma diferença para esta gente, pois eles voltarão a lhe ligar mesmo assim,
infinitas vezes, mesmo que você os mande para o inferno. Eles foram treinados para
ir sempre ao inferno, não reagir a abusos verbais ou qualquer outro tipo de
provocação. Qualquer outra resposta que não soe como um “sim”, bate e volta.
Se você quiser se livrar realmente de uma ligação de
telemarketing e garantir que pelo menos aquela não se repita, use a última
tática que inventei num dia de rara inspiração. Você precisará usar um pouco de
talento teatral, no entanto. Quando a moça do telemarketing chamou pelo meu
nome e sobrenome, fiz uma pausa dramática deixando-a no suspense (estas pausas
funcionam muito, caso queira causar uma impressão no interlocutor). Em seguida,
com a voz carregada de emoção informei-lhe que eu havia falecido, ao que ela
educadamente desculpou-se. Então eu lhe disse docemente: “Não tem porque se
desculpar, minha filha, você não sabia.” Depois acrescentei quase suplicando:
“Por favor, não telefone novamente, pois eu fico muito emocionado quando ouço o
nome desta pessoa.” E ela não ligou nunca mais, não falha nunca!
Salvador, 21 de outubro
de 2013.