Hoje é meu aniversário e
aproveito para refletir um instante. Não que eu seja um daqueles tipos emotivos
que, movidos por sentimentos altruístas e tocado pela circunstância do momento,
considerem que é de importância para o mundo que reflita em dia de seu aniversário,
Natal ou ano novo, longe disto. Este é um exercício que costumo fazer com
frequência, embora eu quase sempre nunca chegue à conclusão alguma. Reflito
pelo prazer de refletir e um cara quando chega à minha idade deveria fazê-lo
sempre, mas não em proveito próprio e sim para esmiuçar o mundo ao seu redor,
mesmo que não vá tomar nenhuma providência prática sobre isto.
E neste
exercício filosófico, percebo que quanto mais observo o mundo à minha volta, me
convenço de que não é a falta de educação o mal que mais nos aflige e sim algo
que mesmo um cidadão que não teve a oportunidade de sentar-se num banco de escola
é possuidor, pois é algo inerente ao domínio das letras e tem origem no modo como
a pessoa se relaciona com o mundo que a rodeia, o modo como ela percebe o outro
e age em relação a este. Não sei que nome dar a isto. Isto parece ser algo tão simples
como saber quando dar um bom dia ou dizer um obrigado, mas trata-se de algo
mais profundo e complexo.
Veja por exemplo, quando vamos, aqui em Salvador, ao balé,
coisa de gente refinada e considerada culta e educada. Antes de o espetáculo começar,
uma voz ao alto falante solicita que todos desliguem os seus aparelhos celulares
e não fotografem. A impressão que se tem é que a dita voz falou em uma língua morta
desconhecida do nobre público, pois só o que se vê são estes aparelhos
celulares com câmeras fotográficas embutidas em posição de ataque, fotografando
ou filmando cada instante do espetáculo. Em sua maioria, tal comportamento é
motivado pelo intuito de divulgar aquele momento especial em uma rede social na
internet. Quanto a falar ao telefone, recentemente, um dançarino estrangeiro em
apresentação em nossa cidade, interrompeu a sua coreografia para pedir a uma dama
da sociedade, sentada na plateia numa fila próxima ao palco, que não mais falasse
ao telefone. Dá para entender do que eu estou falando?
Mas tal comportamento não é um privilégio apenas dos
cidadãos comuns. Até aqueles que deveriam dar o exemplo padecem deste mal. O
presidente do senado, por exemplo, recentemente se utilizou de um avião da
Força Área Brasileira para fazer uma viagem de caráter meramente pessoal – uma
das muitas que costuma fez e pelas quais é duramente criticado pela mídia e
mesmo assim ele insiste no erro – às custas do dinheiro do contribuinte. A sua
Excelência voou para outra cidade para ir se submeter a um implante capilar,
mandou transplantar seus pelos púbicos para o alto do cocuruto. Acreditava este
nobre cidadão que o famoso implante o tornaria uma pessoa melhor e um bom
político e que os cabelos crespos esconderiam a profunda falta de honestidade
que lhe sobra.
Bem, se o tal político lá em cima, um criador de leis, não está
nem aí para os outros, porque justamente um pobre mortal deveria fazer
diferente?
É triste notarmos nas redes sociais que aquela pessoa que
posta coisas bonitas sobre amor, solidariedade e tornarmos este um mundo melhor
para os nossos filhos – os filhos deles, eu imagino – são as mesmas que cometem
pequenos delitos em seu dia a dia, algo como usar o tal aparelho celular em
situações onde este é proibido, estacionar o automóvel em cima de passeios ou
ocupar a vaga de estacionamento de um deficiente físico, isto quando elas são
pessoas perfeitamente saudáveis, pelo menos fisicamente. A lista de infrações e
inconveniências cometidas por tal pessoa é longa e enfadonha.
Eu fico me perguntando o que falta para que algumas pessoas
perceberem que elas não estão sozinhas no universo e, por isso, não podem fazer
o que lhe vier na cabeça. Infelizmente a quantidade delas é maior em dobro
daqueles que ainda cultivam esta coisa fora de moda que é o bom senso.
Outro dia, eu assisti uma mãe que passeava na beira-mar com
o filho de uns cinco anos de idade ensinando-o fazer xixi na rua e pensei
comigo mesmo, o mundo sempre foi e será um bom lugar para se viver, algumas
pessoas é que não merecem habitá-lo.
Rio Vermelho, 12 de
janeiro de 2014.
6 comentários:
Cristiano, como é que você o consegue ? Sempre se superando e dizendo as coisas de uma maneira , fora da moda hoje em dia. E esta cronica, eu deveria tê-la escrito. Ah, o seu escrito me encantou-me ao ponto de quase me fazer deixar de cumprimentá-lo por mais um aniversário. A data , 17 , coincide com a minha, mas em outro mês mês no meio do ano. Completou quantos ? 25 aninhos ? Parabéns !
Desculpem, mas há um pequeno engano na construção de uma minha frase. Por favor, relevem.
Cristiano, querido amigo, te desejo toda a felicidade do mundo, até porque você já sabe que ela está no seu dia-a-dia e que você sabe vivê-la. Beijos, e feliz novo ano - novo ano de vida, novo ano no calendário.
Cristiano, embora um dia após o aniversário, estava com problemas de conexão ôntem,quero lhe desejar tudo de bom e parabenizar também pelas cônicas e estórias, um brinda a todos que têm o privilégio do seu contato. Bj. Marlene
Parabéns. Só se vê na Bahia ou no Brasil como um todo?
Parabéns pelo aniversário e pelo comentário, continue refletindo e escrevendo passando sempre essas boas mensagens.
abraço
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