O velho patriarca era forte
como uma rocha. E ele fazia questão de repetir isto com redobrado orgulho para
quem quisesse ouvir. Sou forte como uma rocha, nunca tive um resfriado e ainda
tenho todos os dentes. Vou fazer 84 anos. Em minha família, quando não se morre
de câncer, se chega aos 100!
De fato, a longevidade e a boa
saúde na família do patriarca era algo quase comprovado cientificamente, eles
viviam muito mesmo. Um tio chegara aos 102 anos, outro acabara de fazer 99 e o
irmão mais velho estava próximo da casa dos 90.
A receita para se viver tanto é
não se preocupar com nada, ele ensinava. Quem pensa muito em morte, acaba morrendo
antes da hora, dizia debochado.
O velho tinha muito dinheiro,
mas era um mão de vaca. Guardava dinheiro como se fosse precisar dele no outro
mundo. Ele só o gastava com o estritamente necessário, e não o dava para ninguém,
nem para os filhos. Só quando eu morrer é que vocês vão ver a cor do meu dinheiro,
ele dizia. Corria-se uma anedota na família que todo mês ele ia ao banco pedir
ao gerente que lhe mostrasse o seu dinheiro. Este, então, punha tudo sobre a
mesa à frente do velho que depois de admirá-lo maravilhado, mandava-o de volta
ao cofre.
Além de sovina, o velho era um verdadeiro
espírito de porco. Quero é dar muito trabalho pra a minha família antes de
morrer. Vou dar muito trabalho antes de bater as botas, repetia com frequência.
Os filhos e as noras ficavam horrorizados ante aquela promessa sombria. Se vocês
acham que vão pôr fácil a mão no meu dinheiro, estão muito enganados.
Certa manhã, quis a divida Providência
que ele fosse trabalhar no jardim. Enquanto revolvia a terra com uma pá, ele
deu um espirro espalhafatoso que de tão forte, perdeu o equilíbrio e caiu de costas
batendo a cabeça numa pedra. Morreu ali mesmo num piscar de olhos, não deu trabalho
algum, graças a Deus!
Rio vermelho, 19 de
junho de 2015.