A mãe veio de férias e trouxe junto
a filha mais nova. Queria mostrar à menina as ruas onde aprendera a falar o
português com sotaque baiano quando tinha a mesma idade da adolescente. Mãe e
filha pareciam cópia fiel da outra no quesito beleza, guardada as devidas
proporções da idade. A filha era uma meninota alta e robusta, de corpo forte como
uma guerreira viking. Mas o que mais chamava a atenção sobre ela era o seus longos
cabelos lisos, eram de um azul infinito e inocente como a cor de seus olhos.
A mãe fazia questão de mostrar
tudo à filha, desde como chupar a manga sem se lambuzar até como dizer danke! em nossa língua pátria. A menina
gostou de andar de ônibus e de ouvir batucada no Pelourinho. Achou divertido
caminhar nos passeios esburacados da cidade, era como se estivesse fazendo uma
aventura radical urbana. Em sua terra natal era tudo muito certinho e organizado
e aquela bagunça dava ares de aventura às suas férias escolares, ia ter muito o
que contar quando voltasse para casa. A menina enamorou-se pela cidade negra e
esta apaixonou-se por ela. Não havia um homem que não parasse para admirar a
beleza exótica daquela moça alta, de peito estufado, caminhar desajeitado de
menina moça e cabelo cor de turquesa. Alguns mais afoitos arriscavam dizer-lhe
galanteios, ao que a menina enrubescia e lhes respondia com um tímido obrigado.
Às vezes a mãe tinha um pouco
de ciúmes daquela atenção toda dispensada só à filha pequena. Talvez se ela
pintasse os cabelos de verde limão fizesse até concorrência à menina, pois ela
não era uma coroa de se jogar fora, aguardava ainda os encantos de sua
juventude.
No centro histórico da cidade,
um vendedor de fitas do Senhor do Bonfim aproximou-se de assalto, como é de seu
costume, e amarrou ao pulso da menina uma fitinha. Depois ficou olhando para
ela com um olhar de peixe morto. A mãe interferiu: “Por que está olhando assim
para a minha filha?” O vendedor de fita, que tinha a língua afiada, respondeu
logo à queima roupa: “É sua filha? A madame caprichou!” E como se não bastasse
a impertinência, ainda perguntou com a maior cara-de-pau: “Tia, senhora quer
ser a minha sogra?”
Rio Vermelho, 14 de
agosto de 2015.