Gervásio sonhava um dia ver seu primogênito seguir uma
profissão diferente da sua e, por isso, tornar-se um doutor, que tivesse uma profissão
descente como um médico, engenheiro ou até advogado. Mas o filho orgulhava-se
do pai, considerava-o uma espécie de herói, desde pequeno já tinha decidido que
seguiria a mesma profissão do pai, seria um ladrão.
Isto mesmo, Gervásio tinha como profissão roubar
pessoas, mais especificamente roubar a casa das pessoas e depois levar o butim
para vendê-lo na Feira do Rato, no Comércio. Ele era um ladrão à moda antiga, como
se diz, preferia entrar sorrateiramente na casa das pessoas sem fazer barulho
algum, com a habilidade e elegância de um felino e surrupiar os seus pertences
enquanto dormiam ou estavam ausentes no trabalho. Ele condenava as práticas
modernas de seus jovens colegas de abordar a clientela diretamente na rua.
Achava aquilo deselegante e perigoso, de uma violência fora de propósitos. Ele
jamais apontara uma arma para outra pessoa, e o único mal que lhes fizera foi
lhe auferir os bens sem que para isso tivesse de usar de violência ou pôr a vida
de alguém em risco.
Seu filho Benedito tinha a mesma opinião do pai.
Repudiava a violência sob qualquer pretexto. Entretanto ele não faria como o
pai, não tinha a intenção de exercer a sua profissão invadindo a casa alheia,
achava aquilo antiquado e o custo-benefício pouco produtivo. Também não se
imaginava vendendo a sua mercadoria na Feira do Rato como o pai, sujeito a ser
assaltado de surpresa pela polícia a qualquer instante, fugindo deixando tudo
para trás para que a própria polícia fizesse a festa. Sua intenção era a de
atuar no mercado de forma eficiente e inovadora, com poucos riscos e muitos
benefícios.
Certo dia o pai ia pela rua, no centro da cidade e
orgulhoso viu cartazes com a foto do filho coladas pelos muros e postes ao
longo do caminho. Como o filho estava bonito e elegante, ele ia ser um ladrão
de classe, de primeira categoria!
— Olha aqui, este é o meu filho! – dizia Gervásio aos
transeuntes apontando para o cartaz com a foto do filho onde se lia “Benedito
Silva para deputado”.
Rio Vermelho, 19 de julho de 2016.
3 comentários:
Você buscou uma nova fonte de inspiração que eu não havia imaginado. De fato, as coisas mudaram . Parece que não existem mais aqueles ladrões de antigamente que nos obrigava a fechar as portas e janelas com muito cuidado e segurança. A modalidade , agora, é outra . É legalizada e você fica custeando-lhe a vida durante 4 anos, se o cara for eleito. Se for reeleito e reeleito, então , indefinidamente... você colaborará ad eternum para a boa vida do camarada. Moço inteligente , cuja história você soube aproveitar. Nada de batedores de carteiras . Alguns assaltam oficialmente e outros ainda usam aquela velha e antipática mania de lhe apontar ua arma e tomar tudo o que você tem, no meio da rua mesmo. Alguns, acabam lhe dando um tiro e se livrando de você definitivamente. Os tempos românticos, de ladrões de galinhas já passaram. Quando acontece um roubo desse tipo, é porque o kara está com fome mesmo ou tem alguém para dar de comer e recorre à esse expediente antiquado e o povo estranha. Gostei ! Vou esperar a sua próxima postagem Gosto delas !
Muito legal, Cris!
Muito legal, Cris! H Fenocchio
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