Eu nunca tinha visto um ladão cara a cara até semana passada... Bem, isso não é totalmente uma verdade, já fui assaltado por alguns, em tempos de eleição, ao pedirem o meu valioso voto.
Numa bela tarde de janeiro, estava eu caminhando nos arredores de minha casa quando ouvi uma gritaria vindo das cercanias. Imediatamente identifiquei a fonte daquela barulheira e fiquei surpreso. Das janelas e varandas da lateral de um edifício residencial nas proximidade, os moradores faziam algazarra. Eu olhei para o prédio e vi que todos olhavam em minha direção, não exatamente para mim, mas para o lado onde eu me encontrava. A primeira ideia que me veio à mente foi que o prédio pegava fogo e os moradores pediam por socorro. Entretanto, este pensamento se desfez ao não ver sinal de fumaça; mesmo assim, fiquei intrigado com aquela histeria.
Para que os leitores entendam a geografia do lugar e porque era fácil para mim ver toda a extensão lateral do prédio, explico que este é cercado por casas de um pavimento ou dois e a casa que estava de frente para mim era uma pré-fabricada de madeira, de telhado de telha de cerâmica gasta pelo tempo, desabitada há muitas décadas.
Então eu vi o motivo de tanta agitação. Comecei por ouvir ruídos vindos dessa casa, e no telhado surgiu um homem que corria agilmente como um calango sobre as telhas. Um ladrão! Usava apenas uma bermuda e uma camisa surrada, tão diferente daqueles que eu estava acostumado a ver, tão enfatiotados, de ternos e gravatas de grife, comprados às nossas custas. Olhei bem para o rosto do homem, para jamais esquecê-lo, vai que um dia em cruzo com ele na rua, não faço ideia do que eu faria. Era um homem forte e de cabelos grisalhos, de expressão confiante, porém amendrontado. Nunca tinha visto um gatuno de telhado antes, e aquele estava em plena ação! Talvez tivesse sido flagrado pelos moradores do prédio, arrombando uma das casas da vizinhança e daí aquela gritaria, que agora eu presumo que era “pega ladrão!”
Quando ele pulou do telhado para o chão, correu na direção em que eu estava e, ao passar por mim, gritei com ele o primeiro pensamento que me veio à cabeça, em tempos de pandemia:
— Coloca a máscara, ladrão!
Rio Vermelho, 28 de janeiro de 2022