sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Roupa suja se lava em casa.

Uma coisa que sempre me maravilha é a diversidade cultural. Isto mesmo, os diferentes valores entre pessoas da mesma cultura ou de culturas diferentes e suas formas para resolver problemas do cotidiano, pelo mundo afora. No final, não existe esta ou aquela forma certa de se fazer uma coisa, e sim aquela que se adéqua à realidade e valores de cada pessoa ou cultura.

    Na quarta-feira de cinzas fui convidado por minha querida amiga Celina para almoçar em sua casa. Ela sabe o quanto gosto de ensopado de frango com cuscuz marroquino e quis me fazer este mimo. Era uma retribuição pelas vezes que a convidei para almoçar aqui em casa e cozinhei para ela. Quem nunca provou o cuscuz marroquino, vale a pena experimentar. Ele não é feito de farinha de milho como o cuscuz que comemos aqui pelo nordeste, é também um prato simples, mas feito de grãos de sêmola de trigo, também chamado de semolina.

    Durante o agradável almoço, feito por sua secretária Esmeralda, ela se queixou do filho. Um rapagão de quase 2 metros de altura, 25 anos de idade e cara de bobão. Mas, como logo descobri, de bobão, ele não tem nada. Está desempregado, ou melhor, quase nunca pegou no pesado. Quis saber o que ele tinha feito afinal, para deixá-la aborrecida. Contou que durante o carnaval ele tinha levado mulheres para casa. Não admitia que ele transformasse a casa em motel. Ouvi aquilo calado, afinal cada um sabe como põe ordem em sua própria casa. Nós brasileiros fazemos uma clara distinção entre a casa e a rua. Sobre isto o antropólogo Roberto DaMatta já escreveu a respeito. Ele diz que a nossa casa é como um templo sagrado onde mora a família, os filhos são educados e onde recebemos nossos amigos e parentes para comemoração de datas e tradições importantes da família. É nela que cultivamos hábitos saudáveis e dentro dos padrões morais de nossa sociedade, e blá, blá, blá. A rua é justamente o oposto, o lugar mundano e profano. Onde se vai à luta em busca do sustento da família. O lugar onde os excessos são permitidos e mesmo padrões morais podem ser postos de lado, ou melhor, deixados em casa. Em resumo, o garoto poderia comer na rua quem quisesse, mas talvez só pudesse levar para casa a namorada, previamente apresentada formalmente aos pais, por exemplo.

    Tal preocupação de minha amiga me fez lembrar de uma conversa que certa vez tive com uma colega de trabalho da Islândia, durante um jantar. A islandesa me mostrou orgulhosa uma foto de sua bela família. Estavam ela, o marido e a filha adolescente de 17 anos sentados num banco de jardim. A Islândia é conhecida pela beleza de suas mulheres, e a beleza de sua filha era uma prova disso. Ela contou que o marido era um jornalista e que a filha ainda estava no colégio, e que, no momento estava morando na casa do namorado. Declaração me surpreendeu por causa de sua jovem idade. Perguntei-lhe se era comum na Islândia, garotas adolescentes morarem sozinhas com o namorado. Ela me respondeu explicando que eles estavam morando juntos, mas na casa dos pais dele, uma vez que ele tinha a mesma idade que ela. Nem trabalhava ainda. Acrescentou que depois de dois meses, ela voltaria para casa com o namorado e ficariam uma temporada. Era sempre assim, eles passavam um tempo lá e outro cá.

    Para nós, brasileiros, este arranjo é impensável, disse-lhe. Os pais sequer admitem que o namorado entre no quarto da filha, e nas raras vezes que isto acontece, a porta tem de ficar aberta. Nos casos mais extremos, a filha e o namorado têm de assoviar e bater palmas freqüentemente para que os pais saibam que suas mãos e bocas não estejam engajadas em alguma atividade indecente! Admitir a filha adolescente morar com o namorado, seria o mesmo que deixá-la viver em pecado. Morar juntos, só depois de casados na igreja e com papel passado, como se diz. Enfim, ainda não aceitamos a idéia de nossas pequenas princesinhas já estarem transando. Contei-lhe que uma amiga estudante de advocacia, portanto uma mulher adulta, ao comunicar à mãe que tinha perdido a virgindade, esta fez um drama, deu um chilique, chorou, tomou calmante. Tornou um assunto íntimo em problema de família, convocando todos, irmãos, tios e avós, enfim, o circo todo, para uma reunião de família para tratar do assunto. A filha já estava estragada e ia ficar viciada em sexo! Os pais brasileiros preferem ignorar a vida sexual dos filhos, daí porque o negócio de motel é tão lucrativo e nunca para de crescer. Na maioria dos casos, financiados com as mesadas que os filhos recebem dos próprios pais! Já nos países nórdicos, o sexo não carrega a culpa do pecado que nos países católicos lhes é impingida.

    Provavelmente, com o intuito de remediar a impressão que me causara, minha colega islandesa acrescentou que havia uma coisa que ela não admitia do namorado. E eu, em minha mente maldosa e perniciosa, fiquei tentando imaginar o que seria ainda mais libertino que permitir a filha adolescente ser comida no quarto ao lado pelo insaciável namorado adolescente. Seria o uso de drogas em casa? Sexo selvagem? O barulho deixaria todos assustados em casa e na vizinhança? Orgia? Fiquei curioso. O que é? Perguntei.

    Então, ela me respondeu com uma ponta de orgulho e triunfo de uma dona de casa islandesa que está em pleno comando de seu lar e de seus direitos.

    - Eu não permito que ele deixe suas roupas sujas para eu lavar!


 

Rio Vermelho, 25 de fevereiro de 2009.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O homem do apito.

Quem vem para estas bandas a passeio, desconhece que, na verdade, Salvador é uma piada. A estória de que aqui é a terra da felicidade é uma mera peça de publicidade enganatória (esta palavra não existe ainda, vamos ver se ela pega!), assim como aquela propaganda na qual um esportista fuma com satisfação um cigarro, para lhe convencer que fumar é saudável. Para quem aqui mora, Salvador é a terra do tormento. A cidade cresceu feito capim num jardim mal cuidado. Ela simplesmente inchou feito uma besta fera em seu pasto universal, sem nenhuma preocupação de planejá-la e ordená-la. Aqui tudo pode, basta ter cara de pau. Bairros ou áreas de bairros que deveriam ser estritamente residenciais foram invadidos pelo comércio, faculdades, bares, restaurantes e ambulantes desbragadamente, infernizando a vida de seus moradores. Tudo isso porque o IPTU desses estabelecimentos é muito mais lucrativo aos cofres públicos (e pessoais) do que o de uma simples residência. O resultado de tudo isso vai além da fronteira do trafego cronicamente congestionado ou da poluição sonora no meio residencial. A relação entre as pessoas torna-se conflituosa e até violenta.

    Só para ilustrar, na frente da casa de um amigo no Rio Vermelho, se instalou um bar que toca musica com o volume alto noite e dia há mais de três anos. Meu amigo já tentou recorrer ao bom senso do proprietário, mas foi sempre recebido a ponta pés. Queixou-se com os órgãos competentes, no caso a SUCOM, sem nenhum resultado. O santo deste bar é muito forte e chama-se indústria da cerveja, mas isso ai já é outra estória... Finalmente ele recorreu ao Ministério Público, que cobrou da SUCOM providencias. E sabe o que SUCOM disse? Não pode fazer nada porque o dito bar nem alvará possui! Acreditem! Vão dar um tempinho até que o bar se regularize para lhe fazer, então, uma visitinha. E o assunto morreu ai. Coisa de ficção.

    Meus problemas de vizinhança inconveniente não são menos diferentes. Tendo lidar com eles conversando amigavelmente com os responsáveis pelo estabelecimento e se não resolver, parto para a guerra! Cheguei aqui bem primeiro e não concordo que alguém tenha o seu lucrativo meio de vida às custas da desgraça alheia. Não me incomodo com que as pessoas trabalhem, desde que não me incomodem. Hoje em dia fala-se muito em 'qualidade de vida' – seja lá o que isto for - e eu quero uma dessas também!

    Minha estória não é sobre nenhum estabelecimento, mas sobre uma única pessoa. O homem do apito. Junto com o movimento dos bares e restaurantes nas redondezas, apareceu aquele personagem urbano e anônimo que você só o percebe quando ele lhe cobra por você estacionar seu carro em via pública. Ele aparece logo quando você chega e estaciona, e em seguida some. Quando você vai embora, ele reaparece sorridente cobrando-lhe por um serviço que não se pediu. Intimidado, o dono do automóvel entrega-lhe um dinheiro. Um falecido amigo meu sempre dizia a estes 'guardadores de carro' que se aproximavam, 'obrigado, mas eu já paguei o IPVA, e não devo mais nada'. Nunca deu um tostão e nunca fizeram mal algum a seu carro, até por que aquela carroça era de dar pena! Os 'guardadores de carro' só existem por que nossa compaixão os incentiva.

    Meu tormento começou há algumas semanas quando comecei a ouvir um apito irritante no inicio da noite e que se estendia noite a dentro pela madrugada. Aquilo começou a mexer com os meus nervos, era muito freqüente. Era um apito curto e estridente rasgando o silêncio da noite, um 'pri!'. Nunca tinha ouvido apitos antes por aqui, era só o que faltava. Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. Como eu escrevo à noite, aquilo já estava interferindo em minha concentração. Depois de ouvir um apito eu já ficava esperando irritado para ouvir o próximo! Coisa de maluco mesmo. Fui até a porta investigar quem seria o inconveniente apitador. Era o mesmo homem que de dia lava carros na pracinha. Bem, ninguém podia negar que ele não era um homem trabalhador, trabalhava dia e noite! Eu nunca tinha trocado uma palavra antes com aquele cidadão e esta seria a primeira vez que me dirigia à sua pessoa. Aproximei-me e apresentei-me. Pedi-lhe educadamente que diminuísse o apito, pois já estava incomodando. Ele desculpou-se e, em seguida, eu fui embora. Continuou apitando mesmo assim!

    Os apitos continuaram, e eu sou um cara paciente e insistente. As chegadas e saídas de carros eram freqüentes. Um automóvel chegava e ele pri! Outro manobrava para sair e ele pri! Enquanto isto ele dava um priiiii! para se exercitar. Já tinha virado um cacoete! Mais uma vez fui até lá falar com ele. Fui mais uma vez educado, até porque ele tinha tamanho e força para me dobrar ao meio. A minha educação se justificava pelo fato de eu não ser péssimo em luta livre, do contrário, ele passaria a apitar pela bunda! Pedi-lhe que não apitasse mais, pois não havia necessidade e que outros guardadores de carro antes dele nunca tinham apitado. Havia pessoas que queriam dormir e o apito atrapalhava o sono. Falei até que ele deveria se sentir cansado de apitar a noite toda. Disse-lhe que ele já tinha adquirido o mal habito de apitar sem motivo e que nem ele percebia isto. Ele concordou com tudo e prometeu diminuir os apitos. O que eu queria mesmo é que ele parasse com aquilo. Desejei-lhe boa noite e voltei para casa. Ele deu as costas e continuou apitando mesmo assim a noite inteira.

    O que fazer com um cidadão que se sente o dono da rua e demonstra desprezo pelas pessoas? Vai à delegacia e faz uma queixa, sugeriu um amigo. A idéia me desagradou. Achei um exagero, e por entender que a polícia tem má reputação, mantenho-a longe de minha vida. Além do mais, o ambiente de submundo que uma delegacia simboliza para mim, é um tipo ambiente que procuro me manter à distância. Não é lugar para um menino de família. Dois dias depois, estava eu na delegacia.

    Relatei o meu infortúnio e pedi orientação sobre o que fazer. Não queria prestar queixas e nem mandar prender ninguém. Não desejava nenhuma ação drástica. Expliquei que o senhor apitador era um trabalhador, e que seu único crime era abusar do apito. O oficial que me atendeu, me deu um papel com o telefone da delegacia. Pediu que eu ligasse para ele caso o apitador incomodasse depois das 22hs, lei do silêncio. Iriam até o local conversar com ele. Quando o apitador começou a dar seus apitos na noite daquele mesmo dia, fui até ele e contei que estivera na polícia e o que aconteceria caso continuasse apitando. Ele mal prestou atenção no que eu lhe dizia, pois os carros chegavam um após o outro e ele estava mais preocupado com eles do que comigo. Continuou apitando. Fiquei puto. Desejei que ele se engasgasse e morresse lentamente com aquele apito. Agora eu iria jogar pesado. Acabou-se o Cristiano ternura.

    Dois dias depois, voltei à delegacia e fiz uma queixa formal. Tenho sorte e infortúnio de morar no Rio Vermelho, onde se encontra de tudo, desde delegacia de polícia a apitadores! Ele seria intimado a comparecer perante o delegado em data e hora marcada. Eu deveria estar presente. Se antes disso nos entendêssemos, nem ele e nem eu teria de comparecer à audiência, me foi dito. Da minha parte, eu já considerava minhas tentativas esgotadas e não iria procurá-lo para dizer mais nada. Poucas horas depois, ele foi intimado sob forte sol, por um oficial de polícia, enquanto lavava um carro. Naquela noite ele não apitou e nem nas outras que se seguiram. Dois dias antes da data marcada para enfrentar o delegado, ele me procurou muito humildemente e coberto de desculpas. Houvera um equívoco. Era pai de família e homem de bem. Tinha duas filhas para sustentar e esposa. Queria estar em harmonia com todos. Disse que eu estava na minha razão. Ignorava que existisse uma lei do silêncio e que até apito era proibido. Prometeu não apitar mais. Eu lhe disse que lamentava de ter chegado ao ponto de recorrer à policia pois para mim ele era um homem até mais trabalhador que eu. Mas que ele deveria entender que tudo tem um limite. Apertamos as mãos e nos despedimos.

    Quase todos os dias o vejo pelas vizinhanças. Ele me acena e me cumprimenta respeitosamente. Como vai, seu Cristiano? E eu respondo amigavelmente. Como vai, seu Claudio? Não somos mais dois estranhos.    

Rio Vermelho, 17 de fevereiro de 2009.

    

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Negócio da China.

Quem nunca recebeu pelo menos uma única chamada da companhia telefônica propondo aquele negócio da China? Elas chamam a isto de 'pacote' e este vai lhe ser muito vantajoso, pois você fará uma tremenda de uma economia em seu bolso! O brasileiro é muito seduzido pela possibilidade de levar vantagem em alguma coisa e é ai que entra pelo cano. Ora, onde já se viu empresa telefônica preocupada com a nossa economia doméstica? Tudo não passa de uma tremenda de uma empulhação que só lhe trará aborrecimentos. Tenho amigos que andam arrancando os cabelos de arrependimento depois que se meteram numa fria destas. Levaram o caso aos tribunais. Apesar da briga já ter sido ganha na justiça, as operadoras agem como se estivessem acima da lei, não devolvem o dinheiro cobrado indevidamente, ignorando as sentenças judiciais contra elas. Afinal, elas bem sabem que no Brasil a justiça é uma piada.

    Nossa conta telefônica estava vindo altíssima, pois resistíamos às vantajosas e constantes ofertas de pacotes. Tínhamos que economizar nas ligações, só isso. Parecia conta de repartição publica em véspera de reeleição. Quando perguntei aqui em casa quem estava usando tanto o telefone, a surpresa foi geral. Alguns não sabiam o que era um telefone e pra que isto servia, ou outros desconheciam o fato de termos uma linha telefônica! Com a devida paciência, procurei a telefônica e mudei para um plano bem econômico que funciona assim, quando acabam os créditos, o telefone fica mudo, só recebe chamada. Antes pagávamos mais de R$300,00 em ligações e hoje só apenas R$51,00 e ainda sobram créditos no final do mês! Talvez eu estivesse de má vontade com o pessoal aqui de casa, talvez alguns desconhecessem mesmo a utilidade de um telefone, e outros mais distraídos não soubessem que tínhamos um. No final, a vilã era mesmo a operadora que nos cobrava por ligações nunca feitas. Vamos culpá-las por tudo! Tá fazendo muito calor hoje, a culpa é da telefônica!

    Outro dia minha mãe se queixou que a conta do mês viera muito alta. Mas como, se o preço do plano deveria ser o mesmo mensalmente, e nem a crise internacional, inflação ou corrida de reajuste de preços justificavam tal abusivo aumento? Analisei a dolorosa e verifiquei que nela estavam incluídos serviços de internet banda larga. Ora, de que serve uma conexão de internet para quem não tem computador? Como aquilo foi parar na conta? Teria de ligar para a operadora para reclamar. Só a idéia de ter de fazer isto já me causava arrepios, pois só quem já teve a infelicidade de ter de tentar falar com alguém de uma empresa dessas para resolver o que quer que seja, sabe a frustração que é. Ainda mais para reclamar da conta errada. Nunca se consegue falar com um ser humano e quando se consegue, é como se queixar da vida a um tomate. É como tentar falar com o surdo que só entende grego e ainda por cima é cego! Ou gritar inutilmente para o caixa eletrônico do banco que o recibo do pagamento não saiu. Ou tentar resolver um problema de conta com uma debilóide da telefônica! Fui dormir com aquela preocupação me martelando a cabeça. Meu Deus, tinha de ligar pra a telefônica... Meu Deus, tinha de ligar pra a telefônica... Mas será que eu tenho mesmo que ligar pra telefônica?

    No fatídico dia seguinte, fiz um pouco de ioga para me sentir zen para enfrentar as dificuldades que viriam adiante. Tomei um café reforçado, pois provavelmente iria passar a manhã inteira ao lado do telefone chamando o mesmo número, tentando ser atendido, e no final ouviria aquelas gravações de filme de ficção cientifica agradecendo minha chamada e pedindo que eu aguardasse enquanto me poria pra ouvir música de elevador. Eu vou compor musica de espera telefônica e serei um hit das paradas! O mais ouvido do Brasil! Ganharei um Globo de ouro só por ser o mais ouvido nas esperas telefônicas. Fosse bom ou ruim, teriam de me ouvir de qualquer jeito, eu iria descer ouvido abaixo dos clientes enraivecidos. Respirei fundo e fiz a primeira tentativa.

    Fui atendido por um ser humano. Uma solícita atendente que logo me passou um número de protocolo. Tomei um susto. Nunca ouvira nada igual em toda minha vida, onde já se viu ser atendido logo de primeira? Me senti lesado. Roubaram o meu direito de ficar puto com a telefônica. Isso ainda vai parar no PROCON! A moça ouviu a minha queixa e prometeu tomar a devida providencia. Iria me telefonar em 72 horas para me dar uma satisfação, não sem antes tentar em me convencer que tínhamos mesmo solicitado o serviço.

    - Olha, senhorita, minha mãe não tem computador, de que lhe serviria a banda larga? Já é possível usar a banda larga sem o computador?

    - Senhor, disse a paciente e treinada atendente, consta aqui em nossos registros que foi o senhor Floriano que solicitou o serviço.

    - Ah! Sendo assim... Tem certeza?

    Por esta eu não esperava. Foi um golpe baixo. Fiquei surpreso, mas como tudo é possível nesta vida.

    - Está registrado aqui.

    - Olha, senhorita, - dei um pigarro - o senhor Floriano é meu pai e nunca se interessou por internet e muito menos agora. A última vez que o vi foi há nove anos, jazia num caixão! Mesmo assim, ele não pediria o serviço sem a autorização de minha mãe, nem em sessão espírita!

    Depois deste argumento a moça se calou. Deu-se por convencida. Dois dias depois, ligaram-me da telefônica informando que o serviço de internet fora cancelado.

Rio Vermelho, 8 de janeiro de 2009.