quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Negócio da China.

Quem nunca recebeu pelo menos uma única chamada da companhia telefônica propondo aquele negócio da China? Elas chamam a isto de 'pacote' e este vai lhe ser muito vantajoso, pois você fará uma tremenda de uma economia em seu bolso! O brasileiro é muito seduzido pela possibilidade de levar vantagem em alguma coisa e é ai que entra pelo cano. Ora, onde já se viu empresa telefônica preocupada com a nossa economia doméstica? Tudo não passa de uma tremenda de uma empulhação que só lhe trará aborrecimentos. Tenho amigos que andam arrancando os cabelos de arrependimento depois que se meteram numa fria destas. Levaram o caso aos tribunais. Apesar da briga já ter sido ganha na justiça, as operadoras agem como se estivessem acima da lei, não devolvem o dinheiro cobrado indevidamente, ignorando as sentenças judiciais contra elas. Afinal, elas bem sabem que no Brasil a justiça é uma piada.

    Nossa conta telefônica estava vindo altíssima, pois resistíamos às vantajosas e constantes ofertas de pacotes. Tínhamos que economizar nas ligações, só isso. Parecia conta de repartição publica em véspera de reeleição. Quando perguntei aqui em casa quem estava usando tanto o telefone, a surpresa foi geral. Alguns não sabiam o que era um telefone e pra que isto servia, ou outros desconheciam o fato de termos uma linha telefônica! Com a devida paciência, procurei a telefônica e mudei para um plano bem econômico que funciona assim, quando acabam os créditos, o telefone fica mudo, só recebe chamada. Antes pagávamos mais de R$300,00 em ligações e hoje só apenas R$51,00 e ainda sobram créditos no final do mês! Talvez eu estivesse de má vontade com o pessoal aqui de casa, talvez alguns desconhecessem mesmo a utilidade de um telefone, e outros mais distraídos não soubessem que tínhamos um. No final, a vilã era mesmo a operadora que nos cobrava por ligações nunca feitas. Vamos culpá-las por tudo! Tá fazendo muito calor hoje, a culpa é da telefônica!

    Outro dia minha mãe se queixou que a conta do mês viera muito alta. Mas como, se o preço do plano deveria ser o mesmo mensalmente, e nem a crise internacional, inflação ou corrida de reajuste de preços justificavam tal abusivo aumento? Analisei a dolorosa e verifiquei que nela estavam incluídos serviços de internet banda larga. Ora, de que serve uma conexão de internet para quem não tem computador? Como aquilo foi parar na conta? Teria de ligar para a operadora para reclamar. Só a idéia de ter de fazer isto já me causava arrepios, pois só quem já teve a infelicidade de ter de tentar falar com alguém de uma empresa dessas para resolver o que quer que seja, sabe a frustração que é. Ainda mais para reclamar da conta errada. Nunca se consegue falar com um ser humano e quando se consegue, é como se queixar da vida a um tomate. É como tentar falar com o surdo que só entende grego e ainda por cima é cego! Ou gritar inutilmente para o caixa eletrônico do banco que o recibo do pagamento não saiu. Ou tentar resolver um problema de conta com uma debilóide da telefônica! Fui dormir com aquela preocupação me martelando a cabeça. Meu Deus, tinha de ligar pra a telefônica... Meu Deus, tinha de ligar pra a telefônica... Mas será que eu tenho mesmo que ligar pra telefônica?

    No fatídico dia seguinte, fiz um pouco de ioga para me sentir zen para enfrentar as dificuldades que viriam adiante. Tomei um café reforçado, pois provavelmente iria passar a manhã inteira ao lado do telefone chamando o mesmo número, tentando ser atendido, e no final ouviria aquelas gravações de filme de ficção cientifica agradecendo minha chamada e pedindo que eu aguardasse enquanto me poria pra ouvir música de elevador. Eu vou compor musica de espera telefônica e serei um hit das paradas! O mais ouvido do Brasil! Ganharei um Globo de ouro só por ser o mais ouvido nas esperas telefônicas. Fosse bom ou ruim, teriam de me ouvir de qualquer jeito, eu iria descer ouvido abaixo dos clientes enraivecidos. Respirei fundo e fiz a primeira tentativa.

    Fui atendido por um ser humano. Uma solícita atendente que logo me passou um número de protocolo. Tomei um susto. Nunca ouvira nada igual em toda minha vida, onde já se viu ser atendido logo de primeira? Me senti lesado. Roubaram o meu direito de ficar puto com a telefônica. Isso ainda vai parar no PROCON! A moça ouviu a minha queixa e prometeu tomar a devida providencia. Iria me telefonar em 72 horas para me dar uma satisfação, não sem antes tentar em me convencer que tínhamos mesmo solicitado o serviço.

    - Olha, senhorita, minha mãe não tem computador, de que lhe serviria a banda larga? Já é possível usar a banda larga sem o computador?

    - Senhor, disse a paciente e treinada atendente, consta aqui em nossos registros que foi o senhor Floriano que solicitou o serviço.

    - Ah! Sendo assim... Tem certeza?

    Por esta eu não esperava. Foi um golpe baixo. Fiquei surpreso, mas como tudo é possível nesta vida.

    - Está registrado aqui.

    - Olha, senhorita, - dei um pigarro - o senhor Floriano é meu pai e nunca se interessou por internet e muito menos agora. A última vez que o vi foi há nove anos, jazia num caixão! Mesmo assim, ele não pediria o serviço sem a autorização de minha mãe, nem em sessão espírita!

    Depois deste argumento a moça se calou. Deu-se por convencida. Dois dias depois, ligaram-me da telefônica informando que o serviço de internet fora cancelado.

Rio Vermelho, 8 de janeiro de 2009.

6 comentários:

Sarnelli disse...

Bem, acontece cada uma, não é ? Gostei , muito interessante e legal. Coisas do dia a dia que nós não damos a menor atenção e que , colocadas no papel do jeito que colocou , mostram certas situações inusitadas. O negócio é ficar de olho ... o nosso próprio dia a dia nos fornece material .

Jota Fagner disse...

Bem, tenho que começar dizendo que está escrevendo cada dia melhor; quanto à companhia telefônica, já tive problemas aqui tão sérios quanto e ainda queriam me fazer pagar multa por rescisão de contrato.
Força sempre.

Unknown disse...

Companhia telefônica e operadora de celular!!! Me dá até arrepios... já me aborreci tanto e fiquei horas no telefone e no atendimento ao clente no shopping... Faz um ano que fiz um pacotão incluindo todos os serviços... pelo menos até agora tudo bem... mas estou sempre alerta sempre conferindo as contas. Beijos

Beatriz disse...

Ri muito e me senti de "alma lavada" pensando nos problemas que já enfrentei com operadoras !
Adorei!

Ana Teresa Baptista disse...

Cris, definitivamente o seu talento é para escrever crônicas de crítica social. Muito boa. Só daria uma apimentadinha no final. O desfecho não está {a altura do restante da crônica. Parabéns!

Ana Teresa Baptista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.