quarta-feira, 18 de março de 2009

Parabéns pra você!

Não sou fã de festa de aniversário de adulto. Não tem nem 'brigadeiro' e nem 'olho de sogra'! Considero-a uma das comemorações mais chatas, seguida da festa de Natal, é claro. Nunca comemorei o meu, embora não seja contra quem o faça. Até aplaudo a iniciativa! Festa de aniversário é uma daquelas tradições familiares cultivadas desde o berço e que se estende pela a idade adulta como parte de nossa formação. Não nos habituamos a cultivar tal costume aqui em nossa casa, talvez por uma questão de calendário. É que o meu aniversário - e o de outros três dos meus seis irmãos - cai no auge das férias de verão, quando os amigos estão longe. Não tinha quem convidar, portanto. Nem mesmo aqueles parentes mais próximos, pois somos imigrantes do Ceará. Os parentes mais próximos moravam longe! Por isto, cresci aleijado, sem nunca fazer festinha no dia do meu aniversário. Para falar a verdade, meus pais nunca foram apegados a tradições e, por isso, os sete filhos nunca tiveram festas de aniversários. Em resumo, não somos pessoas comemorativas.

    O aniversariante que é animado por fazer uma festinha, nunca deixa de reunir os amigos e a parentada para comer um bolinho. Deseja compartilhar o momento por mais um ano de vida com as pessoas queridas. Termina se empolgando e convidando todo mundo. E ai é que começa a chatice.

    Uma amiga que conhecera há pouco tempo, teve a delicadeza de me incluir em sua lista de convidados. Ligou-me pessoalmente e fez o solene convite. Minha presença era indispensável. Não tive como escapar. Um convite por telefone logo assim a queima roupa. Se viesse pelo correio, culparia o carteiro pela minha ausência, entregou o convite depois da data. Se fosse via e-mail, a culpa sobraria para o provedor. Mas um telefonema pessoal fica meio difícil de se esquivar. Primeiro, ela foi cautelosa, perguntando o que eu faria no sábado. Respondi que nada. Em seguida, veio o convite. Seria um almoço. E como eu teria mesmo de almoçar naquele dia, apareci na hora marcada.

    Tenho o mal habito de cumprir horários. Cheguei à casa da aniversariante em ponto, como para comparecer à consulta para exame de próstata. Era o único convidado. Casa ampla e confortável. Fiquei no jardim bebendo uma cervejinha oferecida pelo garçom Moacir e tomando uma fresquinha debaixo de um jambeiro, enquanto a anfitriã dava os últimos retoques na maquiagem. Hora e meia mais tarde, apareceram os outros convivas e depois mais outros até que chegou todo mundo. Não era muita gente. Um bando de desconhecidos. Isto não foi nenhuma surpresa para mim, pois o chato da festa de aniversário é justamente esta possibilidade de você não conhecer ninguém além do aniversariante. Mas não me senti desconfortável por isso. Embora eu não aparente, sou uma pessoa bastante sociável. Sou capaz de puxar conversa até com defunto em beira de cova, para me entrosar no ambiente.

     Aproximei-me de um casal de amigos da aniversariante. Duas figuras apáticas. Eles também mal a conheciam. Coincidência demais, né? Pensei em me queixar do tempo. Sempre funciona. Mas o tempo estava muito bonito e não renderia muito que falar. Lembrei-me do último escândalo do governo. Um ótimo assunto. Só se falava disso ultimamente. Mas os dois não sabiam de nada, tal qual o nosso presidente. Como eles pareciam que não tinham nem assunto para conversar entre si, desisti de perder o meu tempo com eles. Dei uma desculpa e me afastei. Sentei-me ao lado da única convidada bonita e desacompanhada. Tinha a expressão de uma galinha que ia botar um ovo e depois mudou de idéia. Mal comecei a puxar uma conversinha e percebi que alguém já tinha chegado antes de mim e lhe posto uma barriga de seis meses. Seria um menino. Era uma produção independente, mas ela já tinha mudado de idéia. Estava à procura de um pai para o filho a caminho de juntar-se a nós neste mundo. Fiquei mudo e, por falta de outro assunto, fui buscar um copo de refrigerante para ela e nunca mais voltei. Mas enviei um garçom para servi-la, claro. Ela, certamente, sabia como se livrar de chatos como eu.

    Conversei com outro. Estava meio abandonado num canto encostado junto a uma janela que dava para o jardim. Conversar com as plantas também uma boa idéia. Era um sujeito meio calado. Só conhecera a aniversariante há uma semana. Hum...Tomava um uísque e se queixava de dores na coluna. Adoro conversar sobre dores nas costas. Disso eu entendo e muito, pois padeço deste mal. Seu tratamento resumia-se a tomar analgésicos e pensar em algum dia talvez ir ao medico. Como a sua experiência não era tão rica no assunto como a minha, falei mais que ouvi. Dei os meus conselhos de expert.

    Finalmente a comida foi servida para alegria geral. Todos os convidados abriram um largo sorriso quando a mãe da aniversariante anunciou em voz alta. Uma paella supimpa. Fiz meu pratinho e fui sentar numa mesa onde haviam três outros convidados. Uma tia, a sobrinha e o namorado. Cheguei logo no início da conversa. O assunto era uma renite. Sei muito pouco desta moléstia, mas achei interessante ouvir a sobrinha falar sobre sua mazela. Ela era muito linda e fiquei encantado com a descrição detalhada de todo o seu sofrimento. A tia era uma senhora agradável e falastrona também. O rapaz só concordava com tudo, daria um perfeito marido, pensei. De renite, pulamos para reformas em casa. Tinha sido a poeira de uma construção em sua residência a causadora do nosso assunto à mesa. Resolvi ficar ali com aquele grupo ouvindo as duas tagarelas e dando um pitaco no assunto de vez em quando. Éramos a mesa mais animada da festa, vejam só.

    Depois do almoço seguiu-se o grande momento. Cantar os parabéns e apagar as velinhas. Minha amiga não economizou em velinhas. Cantamos todos juntos batendo efusivas palmas. Eu estava logo na frente puxando o coro a plenos pulmões de entusiasmo. Cantava que nem um Pavarotti 'parabéns pra você! parabéns pra você!'. Comi um pedaço do bolo e fui embora logo em seguida. Missão cumprida. Amigos, não é por achar festas de aniversário um saco que não deixarei de marcar presença na sua próxima primavera!

Rio Vermelho, 13 de março de 2009.

Um comentário:

Sarnelli disse...

Taí, Cristiano . Apreciei a historinha com a leveza da sua maneira de escrever e com o humor leve que torna a leitura do conto bastante agradável e convida a ir até o final. Quer dizer que, depois da fatia do bolo, pegou a pista ? Fazer mais o que , então ? O meu abraço.