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Valeu!
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Esta semana, uma querida amiga despediu-se deste mundo no meio da tempestade. Chovia muito ao ouvir a notícia pela manhã. Foi uma conversa breve e emocionada. Era coisa já esperada. Despedi-me mentalmente, recordando de momentos de nossas vidas. Há algum tempo estávamos distantes fisicamente, apesar de morarmos no mesmo Rio Vermelho, mas, nem por isso ausentes. Além de considera-la uma amiga, ela era também a mãe de amigos de infância. Uma daquelas mães que, por estar tão presentes, vira amiga dos amigos dos filhos, também. Foi uma saída de cena dramática, como, aliás, são dramáticas todas as mães. Não poderia ter sido de outro modo. Marcou em vida, e marcou na partida. Não foi vítima de nenhuma catástrofe como as que vimos estarrecidos pela TV nos últimos dias, mas de uma moléstia que por si só já é uma catástrofe. Que vem silenciosamente sem se anunciar e corroí a vítima até que ela se transforme em apenas uma sombra. Meses se passaram até o inevitável e doloroso desfecho. Enquanto isto, eu procurava os filhos para o consolo e pedir por uma boa notícia. A doença fez mais de uma vítima, enfim.
Caia uma chuva fina no final da tarde quando fui ao Cemitério dos Estrangeiros dizer o meu adeus. Ironicamente, dias antes, eu havia passado em frente ao mesmo lugar, e ao ver os seus portões trancados, me veio a sombria curiosidade de saber como era lá por dentro, embora já soubesse como são estes lugares. E lá estava eu finalmente, debaixo de uma chuva fina e intermitente, de sapatos de couro encharcados de água e mudo de palavras. Nunca sei o que dizer em momentos como este, limito-me a dar um abraço. É o melhor de calor humano que posso oferecer. Era um cemitério tão pequeno que as duas enormes mangueiras centenárias plantadas em seu terreno eram o suficiente para cobrir com suas frondosas copas toda a sua extensão. Um tapete verde e macio de musgo cobria seus troncos e heras pendiam de seus galhos como longas cordas verdes de cipós. Parecia mais um quintal, comentou um amigo. Era um lugar triste e úmido com cara de cemitério, mas estranhamente aconchegante e ultrapassado.
É doloroso despedir-se da mãe da gente, ainda mais quando se trata de uma mãe que soube honrar o significado da palavra. Uma, cujo modo de agir a cada sol, moldou os filhos em homens e mulheres de bem. O coração aperta, o choro fica sufocado, reprimido pelo espanto. Quem não gostaria de ter a mãe a vida inteira? Ou de lhe ter dito antes da partida aquelas palavras que só agora ao pé da sepultura lhe veem à mente? Ao morrer, as mães deveriam ir direto para o céu, carregadas por anjos, saírem flutuando como por um encanto mágico. Mas a realidade é bem mais dura, que nos faz fechar o seu esquife, relutantes em dizer adeus; carregar curvados o seu peso até a beirada do destino final barrento e ajudar o coveiro em seu serviço. É um ritual doloroso que não se passa procuração. Que descanse em paz. Ela se foi, ficam-se as lembranças, os ensinamentos ditos no comportamento correto e de forma despretensiosa e o privilégio de tê-la conhecido. Eu fico me perguntando o que estará fazendo agora onde estiver. Será que nos assiste e continua cuidando de nós? Ou apenas está descansando, descansando em paz?
Rio Vermelho, 16 de abril de 2010.
Já faz tempo que venho reparando o modo com que algumas pessoas repetem que andam muito ocupadas. Virou um lugar comum este hábito que ora surge como um queixume ou como apenas uma simples desculpa. Todas elas andam muito ocupadas, como se ninguém mais fizesse coisa alguma além delas. Creio que há um vírus solto no ar infectando as pessoas com esse mal que aflige desde o vagabundo que dorme debaixo da árvore aqui na porta de casa até ao presidente da república! De onde vem tanta ocupação? "Agora não posso falar, estou muito ocupado!" Disse "o muito ocupado" ao atender ao telefone. Pra que atendeu, então? Onde será que arranjou tempo pra isso?! Em conversas sociais, não se fala mais do tempo — vai chover? Não vai. Mas tá calor, é sinal que lá vem chuva. — e sim de como se anda ocupado, mas sem se especificar exatamente com o quê. Talvez porque o "com o quê" não importe tanto quanto "o como".
De tanto ouvi-las, decidi refletir melhor sobre o porquê de tanta ocupação. Deixei de lado as pessoas que andam realmente ocupadas. Estas nunca se queixam, até porque estão por demais ocupadas para tanto. Resolvi me ocupar das que se dizem ocupadas por falta do que ter melhor o que fazer. Observei que algumas pessoas apenas andam estressadas e, por isso, se consideram mais ocupadas que outras. Elas provavelmente estão associando o seu estado emocional às suas responsabilidades. Há uma clara confusão entre estresse e estar ocupado. Desde quando estar estressado e estar ocupado são o mesmo? Quem sabe elas estão neste estado de estresse porque não estão fazendo nada de tão importante quanto gostariam e, por isso, se sentem culpadas por terem a falsa impressão de estarem perdendo tempo? De tanto ouvir os amigos se gabar dos próprios feitos, por exemplo, terminam imaginando que estão perdendo alguma coisa. Não fazer nada, para alguns, é o fim do mundo. Algumas pessoas simplesmente não conseguem conviver com isto, porque não foram condicionadas para tanto. Melhor dizer que andam muito ocupadas, então.
É verdade que muitas pessoas associam a ideia de estarem ocupadas ao fato de estarem correndo de um lado para o outro, ou de estarem sempre ao telefone ou estarem com as mãos ocupadas num teclado e os olhos fixos na tela do computador. Ao contrario de toda esta demonstração óbvia de ocupação, eu lembro que trabalhei num lugar onde o fato de tirar apenas uma hora do dia para pensar e não fazer mais nada, fazia parte do serviço. "Não posso falar agora, estou no meu horário de ócio."
Minha amiga C.C. disse-me, certa vez, que geralmente as pessoas estão ocupadas com coisas inúteis. Alguém aí anda fuçando muito o Orkut?! O que ela diz pode ter um fundo de verdade, porem, levanta uma discussão sobre o sentido das coisas. O que pode ser útil para uns, parece inútil a outros, pano lá pra muita conversa de bar. Fico imaginando, porem, pessoas repetindo a si mesmas que estão ocupadas como uma forma convencerem a si mesmas que a vida está fazendo sentido. Vivemos numa época em que muitos buscam ser algum tipo de celebridade e sair do anonimato, provocado pelo inchaço das grandes metrópoles. Cada um faz o que pode para aparecer. Tatuam-se até a raiz do cabelo, pintam o cabelo de verde, modificam a própria anatomia com implantes exagerados que vão desde silicones nos seios até a colocação de chifres na testa, assumem atitudes irreverentes que chocam a sociedade, agrupam-se com seus semelhantes em de diversas formas, escrevem blogs, como eu, ou apenas dizem que andam muito ocupadas. Para estas ultimas, falta-lhes senso de humor e criatividade para curtir o momento de ócio. Elas parecem gostar de dizer que estão ocupadas. Sentem-se mais úteis, engajadas em alguma coisa importante. Fazem parte de um mundo que produz, que vai para algum lugar, mas não se sabe exatamente para onde. Querem fazer parte daquele grupo de pessoas ocupadas, sabe. "Olha, agora não posso lhe dar atenção, estou ocupado." Mas porque será que elas fazem tanta questão em dizer que vivem ocupadas? O que há de errado elas terem algum tempo dedicado a não fazer exatamente nada?
Rio Vermelho, 4 de abril de 2010.