Meu amigo J.R parece ter superado a terrível dor de cotovelo da qual vinha padecendo (leia o caso em Sortilégio do Amor). Arranjou uma nova namorada numa semana e, na seguinte, tornou-se amante de uma moça que se queixava de infelicidade conjugal. Eu não posso censurá-lo por fazer feliz a quem precisa, e acho isso até um gesto altruístico da parte dele. Creio que o mundo seria um lugar mais feliz se as pessoas se compartilhassem mais, dessem mais de si. Eu mesmo tenho insistido para uma certa morena dar mais de si para mim, mas sem sucesso algum. Há muita incompreensão neste mundo, esta é a grande verdade.
Mas o que mais me intriga é como é que um cara feio como o J.R. e que é magro feito o cão, consegue arranjar namoradas com tanta facilidade, logo ele que vive duro, quase nunca sai de casa e vai dormir todo dia com as galinhas depois do sol se por? Ele não vai à praia, não frequenta a academia, não passeia em shopping, nunca sai à noite, não telefona aos amigos, não vai a uma igreja, não tem Facebook e nem Orkut, vive mal humorado, não anda arrumadinho, enfim, não toma nenhuma daquelas providencias que uma pessoa desesperada em busca de companhia toma para se dar bem, ele age justamente o oposto, vivendo isolado de tudo como se fosse um verdadeiro ermitão urbano. Qual é a receita de seu sucesso com as moças?
Sua nova namorada, que é justamente o seu espelho ao contrário, é uma mulher ativa e trabalhadora de carteira assinada, e ainda faz uns trabalhos voluntários com crianças desamparadas, enquanto J.R. nunca teve um emprego formal, um eufemismo para dizer que não gosta de pegar no batente. Caso esta nova presidente que está aí resolver criar mais um ministério para apaniguar os companheiros, vou sugerir-lhe que o batize de Ministério do Ócio e que entregue a pasta ao meu amigo J.R., cuja contribuição ao seu governo será inequívoca. Enfim, não se tem notícia de que J.R. já tenha cumprido horário em canto algum do planeta e, por isso, sua nova namorada olha para ele intrigada e lhe diz: “Eu não sei como eu fui me envolver com um homem que nunca trabalhou.” Ao que ele replica já ter trabalhado sim, mas nunca de carteira assinada como todo cristão. Ela, então, faz uma cara de uma galinha que ia por um ovo e mudou de ideia e, não satisfeita com a resposta do bonito, promete sentar junto com ele para ajudá-lo a traçar suas metas para este ano. Embora ele reconheça o esforço dela, ele a adverte para que não lhe invente trabalho! Não é que J.R. seja um cara preguiçoso, muito preguiçoso ele não é. É que ele tem lá uma filosofia de vida e nesta, o trabalho é uma coisa ultrapassada. Este seu jeito pouco convencional de ser parece charmoso ao gosto das mulheres que se atraem por ele feito formigas em açucareiro em dia de confraternização de família. Embora ele não faça nem metade do esforço que faz um garotão bonitão com grana no bolso para gastar pelas baladas badaladas da cidade à caça do gênero feminino, as mulheres veem bater à sua porta feito evangélicas pregando em dia de domingo.
Outro dia, encontrei J.R. sentado no banco da pracinha aqui perto. Ele estava amuado e queixoso da nova namorada com a sua lista de objetivos para ele e, em seguida, disse pensativo: “Eu já tenho um objetivo para 2011, vou passar o ano inteiro deixando a barba crescer e em dezembro arranjo um emprego de Papai-Noel!” Vai ser um Papai-Noel bem magrinho, pode ter certeza.
Rio Vermelho, 8 de janeiro de 2011.
Fernando Pessoa – Poesia – 22/11/24
Há 4 horas
2 comentários:
Você acha que possa, eventualmente , conhecer esse tal de JR ?
Cris,
voce esta fazendo de minha vida um livro escancarado... vou te cobrar direitos autorais!
J.R.
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