A chegada de 2011 foi saudada há poucos dias com o tilintar de taças de champanhe e beijos e abraços efusivos acompanhados dos melhores votos de felicidades, ao som de fogos de artifício que transformaram o céu num espetáculo indescritível de luzes e de cores, neste caso, para quem se aventurou a ir até o Farol da Barra. O ano novo também nos inspira a pensar em renovação, em novas esperanças, enfim, em novos objetivos para realizar antigos desejos. O fato é que sempre desejamos intimamente uma versão melhorada de nós mesmos, como se fossemos algum modelo do ano de um automóvel pronto para passar por melhorias mecânicas e de design, embora na essência, ele vai continuar sendo a mesma coisa, isto é, um meio de condução que nos leva de um lugar ao outro. E nada melhor que a virada do ano para assumirmos alguns compromissos em forma de uma listinha de objetivos que nos lembrará de fazermos tais mudanças ao longo no novo ano que começa.
Eu não faço a menor ideia de quem foi o inventor de tais listinhas e também não compreendo porque nos sentimos tão mal por não dedicarmos pelo menos um instante para pensar sobre o assunto. As mudanças e melhorias em nós mesmos deveriam ser algo de nossa preocupação constante, então porque esperarmos até o inicio de um novo ano para pensarmos sobre o assunto? Talvez isto seja a influencia de nosso condicionamento de sempre contarmos a partir do zero, do início, uma vez que poucos são os que se arriscam a começar a contar a partir do três ou do quatro, por exemplo. Embora tais mudanças não precisem necessariamente significar em uma revolução em nosso comportamento ou estilo de vida, elas sempre representam um desejo de melhora em alguma coisa. Pelo menos alguma tentativa será feita a este respeito porque não basta querermos, é preciso termos os meios e a força de vontade para realiza-las. Algumas pessoas prometem parar de fumar ou pelo menos diminuir o vício do fumo enquanto outras vão bem mais longe, prometendo finalmente começar a ver um analista para entender porque são tão inseguras com relação a novos desafios. Imagine apenas como para estas pessoas já foi difícil tomar a decisão de começar um tratamento.
Num esforço para tentar ser igual a todo mundo, este novo ano, eu mesmo me prometi alguns objetivos para 2011, apesar de não levá-los muito a serio. Pensei bastante sobre o assunto e, finalmente, antes que o ano terminasse, apareci com a seguinte listinha que escrevi num papel bonito com letras solenes e garrafais que vou prender em algum lugar visível de meu escritório. O primeiro deles é: “Não vou fumar.” Eu não fumo e nem nunca fumei mas me comprometo aqui, publicamente, a não começar a fumar este ano e vou dar tudo de mim para cumprir tal objetivo. O mundo não precisa de mais um fumante. O segundo é: “Vou comer a mesma quantidade.” Isto é uma boa noticia, não vou engordar nem a mais e nem a menos do que eu já estou atualmente, manterei a minha média e, provavelmente, não comendo tanto assim, não tirarei a comida de quem realmente precisa. O mundo não precisa de mais alguém fazendo uma dieta. “Vou andar mais.” Ganhei de Papai Noel um par de tênis mágico Koreano, uma novidade! Basta calçá-lo e sair andando por aí que ele me leva a qualquer lugar do mundo em poucos minutos. Esta parte é mentirinha, mas não seria ótimo se fosse possível? “Não vou ler notícias.” Cheguei à conclusão que as más notícias fazem muito mal à saúde, pelo menos à minha. Este ano não quero saber das falcatruas do governo e do congresso, do efeito estufa, de guerras e terremotos e nem que Jesus Cristo já voltou e foi o nosso presidente da república, vou ficar alienado de tudo como se eu fosse um náufrago numa ilha deserta, talvez até meus cabelos voltem a nascer por conta de tal medida. E por fim, o ultimo objetivo da lista: “Vou levar as coisas mais a sério.” A vida não é esta grande piada que eu estou pensando, está na hora mesmo de eu levar as coisas mais a sério e, nada melhor do que começar com a minha listinha de objetivos para 2011. Feliz Ano Novo, caros leitores!
Rio Vermelho, 3 de janeiro de 2011.
Fernando Pessoa – Poesia – 22/11/24
Há 4 horas
3 comentários:
Embora com um pouco de atrazo também lhe desejo um Feliz Ano Novo e agradeço pela dica, porque, bem lembrado, como não é obrigatório contar do zero, a partir desta semana, vou organizar a minha lista. O primeiro item, será, necessáriamente, voltar para casa e para o meu habitat ...Apesar do passeio, estou como um peixe fora d'água, quando me encontro longe do nosso Rio Vermelho, mesmo que com todas as suas mazelas...
Gostei da filosofia. Com você a gente sempre descobre coisas e essa história da listinha que impõe tantos sacrifícios é uma ideia fenomenal para testarmos até onde vai a nossa capacidade de sofrimento e força de vontade . Eu vou relacionar aquilo que não vou fazer este ano . O resto, vale tudo !
Cris, eu me divirto demais lendo suas estorias, morro de rir mesmo. Adoro o seu senso de humor fino. Continue me divertindo! Beijo grande, Juliana
Cristiano, adorei a sua listinha e até pensei em adotá-la como minha: não fumo, não bebo, nem sempre leio notícias (êpa! Já comecei a esculhambar!)e também não ando. Quanto a levar as coisas a sério, deveria ser capaz de dizer que também não pretendo fazê-lo, mas aí é que não me garanto mesmo. Então vamos ficar assim: "Prometo solenemente comprar um par desses tênis coreanos maravilhosos de que vc falou, que é que você acha? Até prefiro um que saia andando e me deixe quieta em casa...passa o nome da loja onde vc comprou os seus aí, vai!
Teresa Perez
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