domingo, 8 de janeiro de 2012

As coisas simples da vida II ou minha coleção de geringonças engenhosas.

Como em todo verão, resolvi beber mais líquido na intenção de manter meu corpo bem hidratado para enfrentar as rigorosas temperaturas que tanto nos castigam, fazendo-nos derreter feito picolé. E para não ficar só na cerveja – água também serve para hidratar, mas não tem o mesmo gosto – resolvi tomar suco de frutas, mais precisamente o suco de laranja que é o qual eu mais aprecio.

Dei um pulo no mercado e comprei algumas caixas de sucos variados, mas ao prová-los descobri que eram intragáveis. Fiquei imaginando que aquilo só deve agradar ao paladar de quem jamais tomou suco algum de fruta fresca colhida no pé. Os sucos de polpa, também, não são muito diferentes, apesar do que dizem, não se comparam ao sabor do suco da fruta fresca. Não quero ser de um preciosismo, mas fico imaginando se estes sucos industrializados possuem realmente algum valor nutritivo.

Frustrado com as caixas e saquinhos congelados, resolvi eu mesmo fazer o meu próprio suco com frutas de verdade. Minha primeira providencia foi ir a campo comprar uma máquina de fazer suco e terminei adquirindo uma dessas últimas invenções que fazem suco de qualquer coisa, inclusive de frutas frescas. Custou uma pequena fortuna, dividida em tantas prestações que deixarei aos meus herdeiros a tarefa de liquidarem a fatura. E lá me pus a fazer experiências transformando em suco tudo que via pela frente. Asseguro-lhes, meus caros, que a combinação de suco de chuchu com jiló é ótima para provocar vômitos. Mas como minha preferência sempre foi o suco de laranja, comprei muitas delas na “barraca do crente”, nosso quitandeiro – já publiquei aqui uma crônica sobre a qualidade de suas filhas, e quando digo filhas não estou usando metáfora para me referir às suas frutas, que fique claro. – que lá, uma dúzia sai por menos de dois Reais. Era só descascá-las e colocá-las na máquina que aproveitava até os bagaços e o resultado era um suco de laranja encorpado, de cor viva e saudável e doce como o mel, sendo que esta última característica não advinha da propriedade da máquina e sim da qualidade da fruta. E passei a tomar suco de laranja no café da manhã, no almoço e no jantar, deixando a cerveja para os intervalos, nunca fui tão feliz com tão pouco.

No entanto, meu romance com aquela máquina extraordinária durou exatas duas semanas, pois devo admitir que era um pequeno martírio usar aquela geringonça. Cada vez que ia fazer um suco, eu tinha de encaixar variadas peças que se juntavam ao motor principal. Depois de ter o suco pronto, lá ia eu desmontar toda a parafernália e lavar peça por peça separadamente. A coisa dava tanto trabalho que roubava o prazer de se tomar um copo de suco de laranja, e me fez entender porque os sucos de caixa e polpas congeladas são tão populares. Desisti dos sucos e me concentrei na cerveja como única e prazerosa fonte de hidratação do corpo humano. Era só tirar uma lata estupidamente gelada do congelador e beber de gute-gute. Enfim, terminei depositando a dita máquina de fazer sucos no armário lá dos fundos entre a máquina de fazer hidromassagem nos pés e a de estimular o cérebro com ondas ultra magnéticas. Mais uma peça para o Museu da Inutilidade.

Quando um certo dia, lá ia eu no ônibus a caminho do shopping center comprar uma nova geladeira, numa parada entrou um desses vendedores ambulantes eloquentes. Este não vendia balas e petiscos como passatempo da viagem, nem canetas importadas a preços camaradas e nem pomadas que servem para curar de tudo ou água mineral gelada que mata o calor, e sim uma pequena peça de plástico de cor alaranjada, semelhante a um funil e que ele espetava numa laranja da qual extraia o suco apenas espremendo-a. Fiquei encantado. Existiria coisa mais simples e genial neste mundo? Além de tirar o suco da laranja prometia fazer fisioterapia nas mãos. Não dava trabalho algum, pois não era necessário montar peças, não consumia eletricidade, era só enfiá-la na fruta e espremê-la, e, para limpá-la, era só jogar um pouco de água e pronto! Esta relíquia custava só dois míseros Reais, e comprei logo uma dúzia para presenteá-la aos parentes, vizinhos e amigos que uma invenção tão maravilhosa dessas deve ser compartilhada.

Salvador, 7 de janeiro de 2012.

3 comentários:

Sarnelli disse...

Valeu, Cris . Conheço a peça simples que você descreveu . Confesso que eu também entrei numa dessa , só que o meu muiprocessador estragava muito mais do que devia... Essas invenções modernas ! Acho que devemos voltar ao tempo da vovò quando espremíamos um espremedor de vidro. A propósito, onde aquele cara encontrou laranja que desse suco para a sua demonstração ? Eu só encontro laranjas verdes nos supermercados e vendedores de frutas , azedas e secas, isto é: sem suco algum. Você é um cara de sorte !

Hellio Campos - Mestre Xaréu disse...

O ideal para a saúde é utilizar a fruta em todas as suas propriedades, mas, na vida moderna tem lugar para os sucos enlatados, os de caixinha que fazem a alegria de muita gente pela praticidade. Também comprei um processador de frutas sofisticado e só funcionou pouco tempo e atualmente fico feliz em utilizar um espremedor de laranja simples, porém eficiente e fácil de lavar. Assim descarto os sucos de caixinha e aproveito o suculento suco de laranja.

Ana Martha Falzoni disse...

Gostei, Cris. Salvo pelo ambulante!!! Já pensou onde você chegaria com tanta cerveja? Eu até hoje espremo minhas laranjas no espremedor manual, aquele que a vovó usava, de plástico sabe? A gente praticamente gasta as calorias que vai ganhar com o suco...