Juliana era uma mulher cuja beleza física parecia uma dádiva divina. Possuía um belo rosto, o corpo gracioso e elegante, a voz levemente rouca e adocicada e, acima de tudo, bom caráter. E ela só não seguira a promissora acarreia de modelo internacional porque tinha consciência de que havia em seu ser qualidades mais úteis que poderia oferecer ao mundo além de algo tão efêmero quanto a sua beleza física.
E como toda mulher bonita, era natural que também fosse muito cortejada e, por isso, não lhe faltavam pretendentes e convites para sair, sim porque aos homens, fazia-lhes bem ao ego serem vistos em sua companhia, além de que ela tinha a qualidade e fama de ser generosa em seus favores, embora só uns poucos tinham tal privilégio pois, para tanto, era necessário ter pelo menos 1,80cm de altura, porte atlético e beleza de galã de novela, que ela tinha lá a suas exigências e preferências.
No entanto, embora os passeios fossem sempre agradáveis e as noitadas terminassem nas camas mais largas que se tornavam as mais estreitas ardendo de prazer em cada canto, carecia Juliana de algo mais arrebatador que os prazeres físicos. Os rapazes eram boas companhias, dedicados amantes e os mais belos que uma garota pudesse sonhar. Mas nenhum deles tocava fundo o seu coração o suficiente para que ela se apaixonasse, que o seu príncipe encantado ainda não aparecera, sim porque ela acreditava em coisas como duendes e contos de fadas. A pequena e próspera Indaiatuba, onde ela residia no interior paulista, parecia que ficava menor a cada noitada.
Mas, felizmente, amigos era o que não lhe faltava nestas horas, pois estes são o melhor remédio para qualquer frustração amorosa, que Juliana era uma pessoa querida de todos e tinha a sorte de ter amigos de verdade. Quando ela estava triste e entediada, J.R., um amigo de longas datas, é que a alegrava com a sua prosa agradável e conversa interessante. Ele a fazia rir e se sentir uma mulher inteligente, ainda que ela o fosse de verdade. Sua companhia era agradável e ela se ficava à vontade em sua presença. E J.R. fazia por merecer, ele era um rapaz atencioso e carinhoso, e, acima de tudo, de bom caráter e trabalhador, desses que mamãe e papai sonham em ter como genro algum dia. Mas, nem uma fagulha de paixão tinha ela pelo bom rapaz que estava fadado a ficar naquela eterna condição de ser “uma boa pessoa” e apenas um bom amigo.
Certo feriado, ambos foram juntos para o litoral. Conversaram animadamente todo o percurso que o congestionamento habitual em véspera de feriado nem foi percebido, e o humor de ambos continuava suave como se já estivessem deitados na areia quente da praia desfrutando de um dia maravilhoso, apesar da fama do paulista de ter horror à areia. À noite, como não podia deixar de ser, saíram para beber e dançar. E entre goles de uma ordinária, terminaram deixando-se levar pelo ardor do desejo provocado pela bebida e se agarraram num longo e delicioso beijo na boca, embalados pela batida do rock desafinado e o jogo de luzes eletrizantes. E para a grata surpresa de Juliana, seu velho e querido amigo J.R. mostrou-se um exímio e insaciável amante, tão bom quanto sua proza interessante. Desta vez, ela trocou as rizadas da conversa fiada por ardentes gemidos e súplicas a Deus, colocando até as mãos na cabeça para não perder o juízo, tal era a sua arrebatadora sensação de prazer. Aquela estória toda se repetiu durante todo o feriado, sem que fosse preciso álcool, música, luz de boate ou qualquer outro aditivo. Vez por outra eles faziam uma pausa para beber água e nunca mais foram vistos perdendo tempo deitados nas cálidas areias da praia.
Depois daquele memorável feriado, J.R. caiu de paixão por sua amiga Juliana que chamou para namorar sério, mas esta se assustou com a tal proposta, mostrou-se arredia porque a dúvida lhe confundia os sentimentos, ao mesmo tempo em que ela também passou a desejá-lo secretamente depois daqueles dias de luxuria na praia, o repelia sofrendo de dolorosa culpa. Ela jamais experimentara assim tal sentimento por nenhum outro homem, e logo por quem, pelo seu amigo que era fisicamente a negação de seu tipo de homem, porquanto J.R. era um sujeito mais velho, baixinho, com os cabelos começando a rarear no alto da cabeça e feinho de dar dó. Era contra aquele sentimento tão rasteiro de valorizar a aparência física em detrimentos das qualidades interiores do nobre J.R. que lutava Juliana, consumindo a sua consciência, pois o seu defeito capital era estar avaliando o livro pela capa e não pelo seu conteúdo. A cegueira dominava Juliana que não conseguia perceber que o seu príncipe encantado de Indaiatuba viera finalmente para lhe fazer feliz eternamente, ou melhor, ele sempre estivera à sua frente e ela é que não o enxergava, porque meteu em sua cabeça que estes deveriam ser belos, esbeltos e vir montados num corcel branco.
Juliana, tais oportunidades só ocorrem uma vez na vida e a sua já está batendo à sua porta. E, afinal, você já está bem grandinha para acreditar em fantasias de menina moça e que só habitam as páginas dos livros de contos de fadas. Corre Juliana, te agarra ao teu príncipe, feioso mesmo assim, que melhor que ele tu não há de encontrar!
Como todos podem perceber, este não é nenhum conto de fadas.
Rio Vermelho, 1º. de abril de 2012.
6 comentários:
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Parabéns Amigo Cristiano,
Muito bom seu texto de hoje.
Sérgio Nogueira Reis
Hummmmm...não sei não ! Onde é que você foi encontrar esse tal de JR? Tenho a impressão de que esse personagem existe, mas não onde
ADOREI!
Pura verdade,
A descrição é perfeita,lindo.
grata;
Sandra.
Esta otimo adorei ,bjs
Parabéns, Cristiano, nosso bate papo aquele dia no face rendeu , hein! Acredito que a minha história possa ser a história de muitas outras mulheres. Grande abraço!
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