Outro dia, uma moça bonita, minha
conhecida, sorriu para mim. Notei que o seu sorriso, daquela vez, estava
colorido por pequenas miçangas azuis colocadas entre um dente e outro. Achei aquilo
curioso, deveria ser mais algum tipo de moda bizarra. Ora, se há quem espete piercings nas partes íntimas do corpo,
porque não haveriam de adornar os dentes, que estão postos em local bem mais a
vista, refleti. Entretanto, ela me explicou, estava fazendo um tratamento
dentário e aquelas contas azuis era borrachas colocadas para abrir caminho para
um futuro aparelho ortodôntico. Seu dentista lhe disse que ela precisava muito
daquilo. Eu fiquei matutando como esta moça conseguiu sobreviver até os trinta anos
de idade sem a ajuda de tal imprescindível aparelho.
Este episódio me fez lembrar de outro de minha adolescência.
Eu tinha uma professora cujos peitos eram enormes e formosos, verdadeiras
maravilhas da natureza e fonte de inspiração dos garotos da turma. Certa vez,
ela ausentou-se por motivo de saúde e quando retornou à classe, semanas depois,
ela estava mudada, parecia que tinha encolhido de tamanho. Perdera aquele
magnetismo que nos fazia prestar atenção à sua aula, ou melhor dizendo, ao seu
decote. Ela submetera-se a uma cirurgia de redução dos seios. Uma grande perda,
uma tristeza para nós meninos. Conheci outras mulheres que fizeram o mesmo. Eu
ficava imaginando se haveria algum banco de peitos para onde aqueles pedaços de
mamas extirpados eram doados para serem reaproveitados em mulheres menos
afortunadas. Então, diminuir o tamanho dos seios era a moda do momento naquela
época, uma invenção dos cirurgiões plásticos para aquecerem os negócios.
Na mesma época, os ortopedistas descobriram que as meninas
estavam fora do prumo e por isso as coitadas eram submetidas ao uso de umas
armaduras de metal que as faziam ficar eretas e de pescoço duro. Na minha
escola havia mais de uma dezena delas. Era o tempo da ditadura militar, aquelas
as meninas estavam longe se serem consideradas subversivas, mas eram torturadas
mesmo assim com o uso daquela coisa horrível.
E quando não sobraram mais seios para serem reduzidos de tamanho,
Deus criou as próteses de silicone para dar mais autoconfiança às mulheres cujos
peitos eram pequenos. A vez delas tinha finalmente chegado. A moda era
aumentá-los de acordo com o tamanho da falta de autoestima de cada freguesa,
havia aquelas comedidas que precisavam deles só um pouquinho maior para caberem
num modesto sutiã e outras exageradas que faziam o queixo sumir entre os peitos
novos, a provocar nos homens pensamentos impróprios. Um dia eu vi um programa de
TV no qual um cirurgião plástico, usando uma bandana colorida cobrindo a cabeça,
similar às que o cantor Bel Marques costuma usar, explicava ao repórter que
iria adicionar mais silicone aos peitos já super siliconados de sua paciente,
uma bela dançarina stripper, como uma forma de conferir mais dramaticidade a
eles. Eu não sei quanto à dramaticidade nenhuma, mas certamente os seus peitos
ficaram enormes de tirar o fôlego. E sobre a bandana na cabeça, é sabido que a
do Bel tem como propósito ocultar a sua extensa calvície, enquanto à do
cirurgião, certamente, esta serve para esconder a sua completa falta de ética.
Ah....(um suspiro) a vaidade humana é porta de entrada para
toda espécie de artifício para acalentar a insatisfação das pessoas com a sua
própria aparência. Os médicos, dentistas e outros profissionais da saúde
conhecem muito bem esta fraqueza humana e as manipulam conforme a sua ambição,
uma pena.
Rio Vermelho, 26 de
março de 2014.