Li na revista promocional que a
caixa da farmácia furtivamente enfiou em minha sacola de compras que o
brasileiro gosta muito de se casar. Fiquei na dúvida se ele faz isto repetidas
vezes para saciar este seu prazer ou se ele se contenta com uma única vez
apenas. Ao mesmo tempo, uma querida amiga tirava a minha dúvida ao anunciar que
iria se casar pela segunda vez. Fiquei feliz por ela, pois não apenas acho que
todos merecem uma segunda chance e, também, porque a solidão é uma coisa chata
pacas! Nada de mais em casar-se novamente – minha vizinha é campeã desta
modalidade, pois já o fez quatro vezes de papel passado – não fosse a
peculiaridade desta união de minha amiga. Foi acertado que cada cônjuge viverá
em sua própria casa, ela na Tijuca, no Rio de Janeiro, e ele em Olinda, no
Recife. Um visitará o outro alternadamente e quem fica também feliz com isto é a
companhia área.
Ela explica de modo convincente:
ela reconquistou com muito esforço e a duras penas a sua liberdade ao se separar
no primeiro casamento. Fez tantas concessões, tolerou tantos abusos que um dia
se olhou no espelhou e não se reconheceu. Onde tinha ido parar aquela mulher
independente e de espirito voluntarioso que sempre fora? O casamento fracassado
não apenas tirou-lhe a liberdade, mas a transformou em outra pessoa. O saldo
positivo foi duas filhas que ela ama mais que tudo e que por causa delas deu
tudo de si para que elas se transformassem em duas mulheres adultas e felizes.
A separação, apesar de ter sido uma experiência dolorosa para a família, foi um
elemento importante para que as meninas crescessem acreditando no amor
verdadeiro uma vez que estavam sendo criadas num ambiente familiar onde a
falsidade e a dissimulação existiam. Portanto, minha amiga não queria homem algum
novamente em sua casa a se meter em tudo, inclusive a querer controlar a sua
vida. “Eu aqui e ele lá na casa dele!”
Naquela mesma semana, sua filha
mais velha combinou com um amigo que não via há tempos para tomarem um café. Um
encontro inocente à tarde, num lugar público, um café e conversa para atualizar
as novidades e reforçar os antigos laços de amizade. No dia combinado, constrangida,
ela cancelou o encontro. Como tinha a consciência limpa, casualmente comentara
com o noivo sobre o café com o amigo. Entretanto, este não ficou nada
satisfeito com aquela história de ela ir se encontrar com outro homem. Proibiu-a.
A filha de minha amiga fez uma pequena
concessão. Um pedido simples do futuro cônjuge para que não se encontre com um
amigo. É sempre assim, os pedidos são geralmente sobre questões simples. Deixe
o cabelo mais curto, vista uma saia mais comprida, não fale mais com aquela
pessoa, não frequente mais aquele lugar, lave as minhas cuecas. Quantas outras concessões
ela não fará até o dia em que se veja na prisão da qual a sua mãe se libertou?
Não, esta história não teve um
final sombrio como imaginam. A filha de minha amiga teve tempo de refletir um
pouco sobre aquela situação que lhe pareceu familiar. Ela era uma mulher independente,
dona se seu nariz. Se ela e aquele rapaz planejavam se casar, era preciso ele
aprender a confiar nela e a respeitá-la. Da parte dela, confiava nele e desejava
que aquele sentimento fosse recíproco para o futuro casamento dar certo. Não
cometeria os mesmos erros de sua mãe, sem pequenas concessões desta vez. Avisou
ao noivo que iria encontrar o amigo para o café e ele que digerisse aquilo como
quisesse e aprendesse a confiar nela, se pretendia mesmo casar com ela. Esta
história promete um final feliz.
Rio Vermelho, 26 de maio
de 2014.
4 comentários:
As coisas mudaram desde os tempos dos nossos avós e dos nossos pais até a geração atual . Conheço diversos casos de marido e mulher morarem em casas diferentes e se encontrarem apenas em dias ou noites combinadas por telefone. As mulheres de hoje estão libertas daquela escravidão machista e encontraram um modus vivendi moderno e conveniente a ambas as partes. Ninguém é de ninguém só nas horas do finalmente.
Parabéns, Cristiano!
André Becker
O machismo está com seus dias conntados.
Henrique Fenocchio
esse tipo de "casamento separado" está cada vez mais na moda,ainda bem.Temos que ampliar as relações para além dos modos estabelecidos e procurar cada casal encontrar o " jeito" que for melhor.Eu mesmo namoro cada um em sua casa e nos vemos no fianl de semana,já fazem 5 anos nessa "boa" vida! rsrs
Carlos Francisco Rodeiro Schleu
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