No meio da manhã de um dia nublado
de semana, o pai trouxe o filho de apenas três anos à biblioteca do bairro.
Entraram sem cerimônia na sala ao lado da escada onde mesas, cadeiras e
estantes pareciam que tinham encolhido de tamanho e o colorido dos livros e
suas divertidas ilustrações atraiam os olhos e as mãos da criança viva e curiosa.
Isto vinha acontecendo há
semanas, quase meses, todas as manhãs o pai vinha trazer o filho à biblioteca como
se o levasse à escola. E o menino perdera o acanhamento inicial ao lugar
estranho, mostrava-se familiarizado com ele. Era melhor que o menino fizesse
algo de útil ao invés de ficar em casa em frente à televisão, pensava o pai. As
vezes o menino começava a se irritar com aquela inércia dentro de casa e punha
a chorar sem motivo algum, coisa de criança. Sair um pouco de casa fazia bem tanto
ao pai quanto ao filho.
Existia uma mãe e ela era
escriturária no Fórum, tinha um trabalho que era para a vida toda. Já o pai,
este estava desempregado há meses. Porém ele não se cansava de enviar
currículos às empresas e de receber um não como resposta, muitas vezes nem
isto. Era jovem, capaz, mas a sorte não acenava para o seu lado nos últimos
tempos. Entretanto, ele era um otimista, as coisas vão melhorar, ele repetia confiante
para si mesmo.
Aquela situação momentânea o
conduziu para o serviço doméstico e ele se viu ocupando o lugar que era da esposa,
cuidando da casa e do filho pequeno. Entretanto, isto não o fazia se sentir
menor, pelo contrário, fazer aquele serviço doméstico o fez valorizar o
trabalho de sua esposa e lembrar da vida dura que a mãe teve para criar seus
seis irmãos. De agora em diante, mesmo estando trabalhando novamente, ele
prometia a si mesmo, não iria se descuidar de dividir o trabalho de casa com a
esposa.
O pai gostava da companhia do
filho e de ir à biblioteca com ele. Escolhia um livro grande e ilustrado e com
a sua ajuda ensinava ao pequeno a respeito das coisas da vida.
O menino via maravilhado a vaca
na fazenda impressa na página do livro e dizia ao pai que a vaca era que dava o
leite. O pai concordava com o filho e apontava para uma coisa estranha no
milharal. Esta aqui é uma máquina para colher o milho, filho. Do milho se faz a
farinha de milho que a mamãe faz cuscuz para a gente comer no café da manhã. O
menino olhava para a colheitadeira sem entusiasmo, ele preferia ver os animais
da fazenda. Papai eu já comi amendoim, ele disse. Amendoim deveria vir dar
fazenda como o milho do qual se fazia o cuscuz, ele concluiu. O menino às vezes
falava alto e o pai carinhosamente lhe ensinava que na biblioteca se falava
baixo para não se incomodar os outros.
Para o pai era uma preocupação
diária ficar desempregado com tantas contas para pagar. Para o filho, aqueles
momentos com o pai lhe serviriam de uma boa recordação de sua infância quando
fosse um adulto e tivesse seus próprios filhos para cuidar. O pai não tinha
dinheiro para dar brinquedos ou comprar tênis novo para o menino, mas aquele
tempo que dedicava ao filho valia mais que qualquer coisa que o dinheiro
pudesse comprar.
Rio Vermelho, 13 de maio
de 2015.
Um comentário:
É, amigo... ! É um belo texto., que ensina muito mais . Hoje em dia, com o problema da idade e do desemprego, temos que nos dedicar mesmo a tarefas que antes não nos cabiam . Aposentados, então, viraram " compradores de tempero " e meninos de recados, que vão aos supermercados buscar aquele coentro que falta para a moquecE. Lavar louça, também faz parte. eu até conheço um amigo que é especialista em frango ao forno.NO seu cardápio semanal, aos domingos, tem sempre um belo frango na mesa. Um desses domingos irei almoçar com ele...
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