quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Pai e a Educação de Uma Pequena Árvore

No meio da manhã de um dia nublado de semana, o pai trouxe o filho de apenas três anos à biblioteca do bairro. Entraram sem cerimônia na sala ao lado da escada onde mesas, cadeiras e estantes pareciam que tinham encolhido de tamanho e o colorido dos livros e suas divertidas ilustrações atraiam os olhos e as mãos da criança viva e curiosa.

Isto vinha acontecendo há semanas, quase meses, todas as manhãs o pai vinha trazer o filho à biblioteca como se o levasse à escola. E o menino perdera o acanhamento inicial ao lugar estranho, mostrava-se familiarizado com ele. Era melhor que o menino fizesse algo de útil ao invés de ficar em casa em frente à televisão, pensava o pai. As vezes o menino começava a se irritar com aquela inércia dentro de casa e punha a chorar sem motivo algum, coisa de criança. Sair um pouco de casa fazia bem tanto ao pai quanto ao filho.

Existia uma mãe e ela era escriturária no Fórum, tinha um trabalho que era para a vida toda. Já o pai, este estava desempregado há meses. Porém ele não se cansava de enviar currículos às empresas e de receber um não como resposta, muitas vezes nem isto. Era jovem, capaz, mas a sorte não acenava para o seu lado nos últimos tempos. Entretanto, ele era um otimista, as coisas vão melhorar, ele repetia confiante para si mesmo.

Aquela situação momentânea o conduziu para o serviço doméstico e ele se viu ocupando o lugar que era da esposa, cuidando da casa e do filho pequeno. Entretanto, isto não o fazia se sentir menor, pelo contrário, fazer aquele serviço doméstico o fez valorizar o trabalho de sua esposa e lembrar da vida dura que a mãe teve para criar seus seis irmãos. De agora em diante, mesmo estando trabalhando novamente, ele prometia a si mesmo, não iria se descuidar de dividir o trabalho de casa com a esposa.

O pai gostava da companhia do filho e de ir à biblioteca com ele. Escolhia um livro grande e ilustrado e com a sua ajuda ensinava ao pequeno a respeito das coisas da vida.

O menino via maravilhado a vaca na fazenda impressa na página do livro e dizia ao pai que a vaca era que dava o leite. O pai concordava com o filho e apontava para uma coisa estranha no milharal. Esta aqui é uma máquina para colher o milho, filho. Do milho se faz a farinha de milho que a mamãe faz cuscuz para a gente comer no café da manhã. O menino olhava para a colheitadeira sem entusiasmo, ele preferia ver os animais da fazenda. Papai eu já comi amendoim, ele disse. Amendoim deveria vir dar fazenda como o milho do qual se fazia o cuscuz, ele concluiu. O menino às vezes falava alto e o pai carinhosamente lhe ensinava que na biblioteca se falava baixo para não se incomodar os outros.

Para o pai era uma preocupação diária ficar desempregado com tantas contas para pagar. Para o filho, aqueles momentos com o pai lhe serviriam de uma boa recordação de sua infância quando fosse um adulto e tivesse seus próprios filhos para cuidar. O pai não tinha dinheiro para dar brinquedos ou comprar tênis novo para o menino, mas aquele tempo que dedicava ao filho valia mais que qualquer coisa que o dinheiro pudesse comprar.

Rio Vermelho, 13 de maio de 2015.



Um comentário:

Sarnelli disse...

É, amigo... ! É um belo texto., que ensina muito mais . Hoje em dia, com o problema da idade e do desemprego, temos que nos dedicar mesmo a tarefas que antes não nos cabiam . Aposentados, então, viraram " compradores de tempero " e meninos de recados, que vão aos supermercados buscar aquele coentro que falta para a moquecE. Lavar louça, também faz parte. eu até conheço um amigo que é especialista em frango ao forno.NO seu cardápio semanal, aos domingos, tem sempre um belo frango na mesa. Um desses domingos irei almoçar com ele...