quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A Fruta-Pão

Das distantes reminiscências de minha infância, eu ainda me recordo de um frondoso pé de fruta-pão que existia no quintal da casa de um coleguinha da escola, meu vizinho. Eu não devia ter nem cinco anos e fiquei fascinado ao ver pela primeira vez na vida o fruto daquela árvore bonita que era redondo, verde e grande como uma bola de futebol, pendendo da árvore aos montes feito decoração natalina. Mais abismado ainda, eu fiquei quando a mamãe me contou que aquela coisa se chamava fruta-pão. Na pueril imaginação da criança que ainda estava descobrindo as coisas básicas do mundo, eu logo imaginei que o pão que vinha da padaria do Manolo saía de dentro daquela fruta. O encanto pela fruta, no entanto, se desvaneceu quando a mamãe colocou um pedaço cozido em minha boca. Fiz uma careta de nojo e nunca mais quis comer aquela coisa insipida e sem graça.

A caminho da padaria onde costumo fazer compras, vejo um pé de fruta-pão no quintal de um vizinho do bairro. Este tipo árvore, como os sapotizeiros, pés de cajá, ingá, graviola e fruta-do-conde, cederam a paisagem urbana aos tediosos prédios de apartamento. Observo com curiosidade aquela árvore carregada e me pergunto se o meu paladar teria amadurecido com o passar dos anos e que, se agora, eu colocasse um pedaço na boca, eu iria gostar e achar que aquilo era a maravilha que muitos diziam.

O vizinho vai dentro de casa e de lá traz uma bela fruta-pão no ponto. Agradeço a sua generosidade e penso em retribuir-lhe com as graúdas e adocicadas limas do meu jardim, cuja árvore já está carregada e promete uma safra recorde lá pelo mês de março. Já estamos em inicio de dezembro e como nos dias de hoje o tempo corre à velocidade 3G, não tardarei a retribuir-lhe a gentileza. Ponho alegremente a minha fruta-pão debaixo do braço e sigo para a padaria.

A sorridente senhora que me atende sempre ao balcão, ao notar a minha fruta-pão comenta enquanto os olhos buscam uma doce recordação em sua memória que nunca mais tinha comido uma e que elas eram tão gostosas. Minha boca se encheu de esperanças.

E quando voltei em casa, dividi a fruta ao meio com a ajuda de uma faca e retornei à padaria o mais rápido que pude. E a melhor parte desta história toda, foi a sincera expressão de surpresa e contentamento que fez a balconista ao receber o pedaço de fruta-pão de minhas mãos. Como gestos tão simples são capazes de tornar feliz o dia de uma pessoa e, também, em algo memorável. Eu também ganhei o meu dia.

Quando voltei para casa, a fruta-pão já estava cozida e fumegante à minha espera na mesa do café, que aqui em casa é servido às cinco horas da tarde e já é o nosso jantar. Minha boca se encheu de água só de imaginar como seria comê-la com o café fresco e quente. Pus na boca um pedaço besuntado com manteiga que se derreteu e foi como se eu tivesse voltado à minha tenra infância. Descobri que o meu paladar em nada tinha mudado, nunca mais voltarei a comer uma fruta-pão em minha vida, mas que frutinha mais em graça!


Rio Vermelho, 1 de dezembro de 2015.

5 comentários:

Sarnelli disse...

Viu? Uma fruta pão rendeu uma história . A sua , foi do jeito que foi, mas podia ter sido diferente se ela não tivesse sido, simplesmente, cozida. Há várias maneiras de se preparar uma fruta pão . NO entanto, valeu a felicidade da moça da padaria. Qual teria sido a diferença entre os dois paladares, o seu e o dela ? Como ela teria preparado a sua banda ? Quer dizer, a banda dela ? O importante é que mesmo sendo infeliz, você fez a felicidade da moça ! E viva a fruta pão! Me lembro dos meus tempos de criança. Tínhamos uma árvore dela no nosso quintal em Mata de São João. Eu também não suporto manteiga !...

Berna Farias disse...

Cristiano, meu paladar não combina com o seu: amo fruta-pão, até sem manteiga eu como, e fazer um purê utilizando a própria água do cozimento também é legal. O pé de fruta-pão é uma das árvores frutíferas mais bonitas e imponentes, difícil já de se ver em cidade grande: quando morava em João Pessoa, havia um terreno quase em frente à nossa casa onde uns dois ou três pés de fruta-pão faziam nossa alegria na época de dar frutos, embora poucos dessem valor àquela fruta maravilhosa que hoje é difícil de encontrar, custa caro e nem sempre é boa pra consumo porque colhida antes de amadurecer.

Anônimo disse...

Adorei amigo e tb detesto fruta-pão
ABC
Paulo Jucá

Anônimo disse...

Nunca comi, mas fiquei até curioso agora, legal a crônica!
H Fenocchio

Hellio Campos - Mestre Xaréu disse...

Adorei a história do Fruta Pão. Repleta de significado. Pessoalmente gosto da fruta, pois desde pequeno minha mãe costumava cozinhar Fruta Pão e servir no jantar. Café com leite e fruta pão é tudo de bom.
Hellio Campos - Xaréu