Era a hora do almoço. E a moça, pedindo licença educadamente,
sentou-se à mesa trazendo uma bandeja. O restaurante comercial ainda estava
vazio, por isso ela bem poderia ter escolhido qualquer uma das mesas desocupadas
disponíveis, mas ela preferiu justamente aquela em que também sentava-se um belo
rapaz. Este estava tão entretido com a sua comida que mal percebeu quando ela sentou-se
na cadeira à sua frente.
Com uma mão, ela brincava com a comida com a ajuda do garfo
e com a outra conversava ao aparelho celular. “Acho que não vou a lugar algum,
– ela dizia com uma expressão de desapontamento. – não tenho companhia para ir,
eu simplesmente não tenho com quem ir. Eu queria tanto ir ao show na Praça
Cairú, mas não consigo encontrar nenhuma companhia. ...Nãooo, não querida, eu
não consegui encontrar um homem para ir comigo, todos viajaram este final de
ano.”
Conversas ao celular em locais públicos são como se confessar
ao padre em transmissão em cadeia nacional, deveria ser um momento privado, mas
todo mundo participa quer queira ou não. E pelo tom de voz da moça, ela parecia
não ter a menor intenção de fazer daquele seu infortúnio um segredo guardado a
sete chaves. O rapaz não pôde deixar de ouvir aquela história e deu uma olhada
na moça pelo canto do olho, rápida o bastante para não ser percebida. A moça repetiu
mais uma vez que não tinha companhia masculina para a virada do ano e lamentava
ter de ficar em casa sozinha.
— Mas que coisa, – disse o rapaz ao perceber que a conversa
terminou. — uma mulher tão bonita como você, da sua qualidade, deveria era estar
esnobando convites.
— Pois, é. – ela disse fazendo ares de vítima.
— Se eu não fosse um homem casado e fiel à minha
mulher, eu ia passar esta virada do ano com você e a gente ia se divertir
muito!
— Nossa, fiquei até curiosa. – ela disse com um brilho
de esperança nos olhos.
Mas o rapaz se levantou da mesa, pois já tinha
terminado de comer. Desejou boa sorte à moça com um sorriso encorajador que a
fez se derreter e foi embora. Ela, entretanto, não esmoreceu, estava decidida a
virar o ano nos braços de um homem, qualquer um que valesse a pena. A sorte
parecia que estava ao seu lado, entretanto. Mal o rapaz foi embora, outro ocupou
o seu lugar cumprimentando-a educadamente.
A moça, que não desgrudava do aparelho celular,
conversava novamente. “Acho que não vou a lugar algum, – ela dizia com uma
expressão de desapontamento. – não tenho companhia para ir, eu simplesmente não
tenho com quem ir. Eu queria tanto ir ao show na Praça Cairú, mas não consigo encontrar
nenhuma companhia. ...Nãooo, não querida, eu não consegui encontrar um homem para
ir comigo, todos viajaram este final de ano.”
O rapaz à sua frente tirou os olhos de seu prato e
observou atentamente aquela bela moça que parecia largada no mundo. Ouviu cada
palavra daquela conversa e, ao final, ele se dirigiu a ela:
— Sabe, eu trabalho na assistência técnica da marca deste
seu celular e nunca tinha visto antes alguém conseguir conversar com o aparelho
desligado. – ele disse com um sorriso maroto que pegou a moça de surpresa. –
Mas eu aceito o seu convite para passarmos a virada de ano juntos!
Rio Vermelho, 6 de janeiro de 2016.
3 comentários:
Gostei da insistência da moça . Os seus contos são sempre bons e leves e nos obrigam a leitura até o final. Parabéns. Hoje eu não pude ir. Fiquei de " prantão "...
Bacaníssimo esse seu texto, Cristiano!
Forte abraço!
Flávia
Parabéns!!!
André Becker
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