Esta tarde recebi um pedido inusitado. Não o pedido de
casamento que leva o título da crônica. O rapaz se aproximou enquanto eu, sentado
na balaustrada próxima à quadra de futebol observava os passantes. Com a voz
tímida de quem não queria incomodar, ele carregava uma pequena caixa azul com
uma alça presa ao pescoço
.
— O senhor compra uma trufa de chocolate pra me ajudar
a fazer o meu pedido de casamento?
Respondi que estava sem dinheiro. E era verdade. Quase
não carrego dinheiro comigo quando saio pelas vizinhanças, contrariando a orientação
da Segurança Pública que sugere ao cidadão levar sempre consigo pelo menos uma
nota de cem além de um aparelho smartphone de boa qualidade para dar ao ladrão
em troca de sua vida. Não costumo sair também levando o celular comigo, razão
pela qual nunca fui assaltado. Assaltante é como cão de caça, tem faro apurado
e sente o cheiro de um bom smartphone e uma nota de cem a metros de distância.
O rapaz humildemente agradeceu minha atenção e se afastou.
No entanto não tive certeza de ter entendido bem o seu
pedido incomum, acho que fiquei fascinado com a ideia. Ele já estava mais
adiante abordando uma moça sentada também na balaustrada. Aproximei-me e expliquei
ao jovem a minha curiosidade. De boa vontade, ele contou que queria fazer o pedido
de casamento à sua namorada e precisava de dinheiro para comprar o anel de
noivado e fazer uma pequena celebração, queria que a ocasião fosse impactante,
segundo suas palavras.
Fiquei comovido com a sua perseverança e com aquela
demonstração de amor que imaginei que a moça a merecesse. Achei as suas intenções
pueris. Desconheço os rituais de um pedido de noivado ou de um casamento, mas
sei que ambos custam tão caros quanto pedir o divórcio depois. Aliás, o casamento
é uma instituição cara e mesmo assim as pessoas preferem fazê-lo mesmo que as
estatísticas apontem que as chances de ele terminar em divórcio são tão prováveis
como ter o celular roubado em plena luz do dia em local público. A trufa de chocolate
custava apenas dois Reais e imaginei desanimado quantas ele precisaria vender para
pelo menos comprar o anel de noivado. Eu gostaria de contribuir, mesmo não sendo
um entusiasta de casamentos, mas acredito no amor e aquele jovem tinha encontrado
o dele. Olhei para os lados procurando os conhecidos que eu sempre encontrava
em meu passeio diário pela orla, eles haveriam de me emprestar nem que fosse
apenas dois Reais para comprar a trufa do rapaz e assim contribuir com aquela
comemoração impactante que ele vinha sonhando. Frustrado, não vi ninguém. Agradeci
a sua explicação e disse que ainda sim eu estava sem dinheiro e lhe desejei
sucesso em sua jornada. Afastei-me chateado por não ter um tostão no bolso num
momento tão especial como aquele.
Enquanto eu me afastava pensativo, lembrei que eu
estava numa situação semelhante, pedindo dinheiro aqui e acolá, metido numa
campanha de financiamento coletivo para levantar grana para publicar o meu romance
de estreia. Os amigos estavam contribuindo e eu descobri que eu tinha mais
amigos do que eu imaginava. Tive uma ideia. Esboucei um sorriso de satisfação e
procurei o rapaz que já atravessava a avenida a caminho do Largo de Santana.
Ei, psiu! Você, mesmo. Perguntei a ele se sabia o que
era financiamento coletivo e, com sua negativa, abri-lhe as portas de uma outra
forma de ele conseguir a grana para pedir a mão de sua amada e de impressioná-la
para o resto da vida com uma bonita festa. É bem piegas esta coisa toda, mas é
que eu ando com um puta sentimentalismo ultimamente. É como disse o poeta: Eu
não devia te dizer,/ mas essa lua/ mas este conhaque/ botam a gente comovido
como o diabo.*
Rio Vermelho, 14 de setembro de 2016.
* Drummond, em
Poema das Sete Faces
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