À entrada da estação da Lapa, o vendedor segurava com firmeza
num dos braços uma caixa de papelão aberta, onde podia se ver pequenos cilindros
que chamavam a atenção pelo seu multicolorido alegre e chamativo. Com o outro,
ele acenava com insistência aos passantes para se aproximarem. O homem era um
tipo parrudo e acima do peso, que se esforçava para transmitir confiabilidade ao
seu anuncio, ao contrário de sua aparência, que não inspirava tanta confiança.
Vestia uma bermuda listrada por baixo da barriga proeminente e mal cabia na
camisa de malha branca estilo machão. Nos pés, sandálias havaianas desgastadas.
“Batons! Batons! De todas as cores e excelente qualidade!”, ele apregoava. Sua
voz era vigorosa como a de um barítono e não podia deixar de ser percebida.
Alguns passantes olhavam-no com indiferença, outros seguiam adiante como se ele
fosse um ser invisível.
Não muito distante, outro vendedor se esforçava para dar
saída aos chips de celular comprados pela metade do preço na operadora. Este
também falava alto e parecia igualmente mal sucedido. Mas as minguadas vendas
não esmoreciam aquela parelha de intrépidos homens do comércio ambulante, ao contrário,
uma poderosa energia interior movia-os em sua luta pela sobrevivência mantendo-os
motivados.
— “Qui cô qué”? – o vendedor de batons perguntou à
moça que demonstrou interesse, com uma expressão de insólita dúvida.
— “Caqué cô”. – ela respondeu olhando perdida para a
grande variedade de escolhas à sua frente.
A moça tirou da caixa aleatoriamente um batom rosa.
— Ah! Você vai ficar linda com essa cô! – exclamou o
vendedor muito convincente. Ele não era nenhum galã, mas sabia adoçar as
palavras ao paladar feminino. – Essa é a cô a que eu vendo mais, e é a ultima
unidade que eu tenho. Pode levar que você vai gostar e vai fazer sucesso!
Concluída a pequena transação comercial, o vendedor
respirou mais confiante. Deu pela primeira vez um sorriso verdadeiro. Fazia
horas que estava de pé ali naquele ponto, castigado pelo calor que não lhe dava
uma folga. Naquela manhã, ninguém queria saber de comprar batons. O seu olhar
cansado só se iluminava quando fazia uma venda aqui e outra ali. Mas ele nunca
pensava em desistir, vender era difícil mesmo, qualquer coisa é difícil nessa
vida, ele repetia para si mesmo, como para se lembrar de que a dificuldade estava
na própria natureza da existência. Ele contabilizava mentalmente quanto ainda
precisava ganhar, para passar na mercearia. Faltava ainda muito, mas o dia
ainda não tinha acabado.
— Tem lilás? – perguntou a jovem vestida com o
uniforme escolar.
— Olha ele aqui, ó! – respondeu o vendedor na
sequência, entregando-lhe o batom. – Você vai ficar linda com essa cô! Essa é a
cô que eu vendo mais, e é a ultima unidade que eu tenho. Pode levar que você
vai gostar e vai fazer sucesso!
A estudante pechinchou, levou um pequeno desconto, com
um sorriso de satisfação. O vendedor também sentia que também tinha ganhado, ao
proporcionar à sua freguesia aquela pequena sensação de vitória.
“Vamos, vamos, minha agente! Já está quase acabando!”,
gritou ele com a caixa ainda pela metade, já no meio da tarde.
— Eu quero um preto. – disse a moça com uma criança no
colo e outra visivelmente já a caminho na barriga pontuda.
— Olha ele aqui, ó. – respondeu o vendedor
entregando-lhe o batom com um sorriso. – Você vai ficar linda com essa cô! Essa
é a cô que eu vendo mais, e é a ultima unidade que eu tenho. Pode levar que você
vai gostar e vai fazer sucesso!
Rio Vermelho, 16 de março de 2017.
4 comentários:
Adorei o blog, Cristiano! Que boa pausa para um dia estressante de trabalho!
Um abraço!
Damile
É isso mesmo ! Cada vendedor tem o seu tipo de conversa padronizado para as mesmas ocasiões...E vai ser assim nos dias seguintes.
Se não chover muito, logo mais nos veremos.
Cristiano, bom dia, como sempre simples e divertido.
Um abraço, Paulo Tude.
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