Antes de sair para trabalhar,
Casemiro olhava embevecido para a esposa Luíza e a pequena Elisa, suas duas preciosidades,
razão de seu viver, como ele dizia. Ao olhar para elas, Casemiro se sentia um
homem realizado por viver ao lado da mulher que tanto amava e ser o pai de uma
criaturinha encantadora que lhe causava emoção, cada vez que ela lhe lançava um
sorriso de alegria e abria os pequenos braços para ele, pedindo a sua atenção.
Depois que fechava a porta de casa trás de si, Casemiro se benzia e tomava o
destino para o trabalho.
Casemiro agora ia, satisfeito, pedalando
para o trabalho. Depois de economizar por mais de um ano, ele conseguiu
finalmente juntar o dinheiro necessário para comprar a tão sonhada bicicleta. Não
era uma dessas que custam os olhos da cara, no entanto; verdadeiros artigos de
luxo e inovações tecnológicas sobre duas rodas. Ao contrário, a bicicleta de Casemiro
não possuía qualquer sofisticação, feita de material de qualidade, porém
barato, custou-lhe menos que um salário, mas, para ele, trabalhador humilde,
aquela aquisição foi uma grande conquista.
No entanto, nem todos foram os
meses que sobrou algum dinheirinho que fosse parar na caixinha da bicicleta. E
houve vezes que ele tirou da caixinha para pagar despesas imprevistas da casa. Mas
Casemiro não se desesperava, ele era um homem de fé e paciente. Talvez esta sua
fé fizesse dele um homem obstinado e muito trabalhador, quem sabe. Para
realizar o seu pequeno projeto, que para uma pessoa sem recursos constituía num
um grande investimento, ele também fez bicos aqui e ali.
Quem pensa que talvez uma bicicleta
fosse um artigo de luxo, usado para o seu lazer, desconhece que Casimiro era um
homem de bom senso. O rapaz fez as contas e calculou que indo pedalando para o
trabalho, ele ia economizar todo o dinheiro do transporte no final do mês, não
era pouca coisa. A economia ia ser guardada para os futuros estudos da pequena
Elisa, para que ela tirasse um diploma universitário e tivesse oportunidades
melhores que os pais, estava decidido. A bicicleta também teria outra utilidade:
com ela, ele esperava fazer mais bicos como eletricista e encanador para poder
dar mais conforto á sua família. Casemiro parecia que tinha tudo pensado e sob
controle, ele só não podia realmente controlar o seu destino, como descobriu,
de forma amarga, mais adiante.
Uma manhã a caminho do
trabalho, depois de se despedir da esposa e filha e de se benzer, passou por
aquela mesma rua de todos os dias. Esta era uma das vantagens da bicicleta, cortar
caminhos para encurtar a viagem. No entanto, seu trajeto foi interrompido
quando um garoto atravessou à sua frente apontando-lhe a arma. Apavorado,
Casemiro entregou-lhe a bicicleta, aliviado por também não ter lhe entregue a própria
vida. Mas aquele alívio foi uma impressão passageira. O garoto montou na
bicicleta, que a muito custo Casemiro juntou dinheiro para compra-la, e antes
de seguir o seu rumo, tirou de Luíza o amado marido e da pequena Elisa o pai carinhoso
e orgulhoso que sonhava um dia vê-la uma doutora diplomada.
Um estanho que ia passando naquele
exato trágico momento, correu para acudir Casemiro, estirado ao chão. Ajoelhou-se
ao lado dele que teve folego para apenas lhe sussurrar um último pedido:
— Me abrace, estou partindo!
O estanho pegou Casemiro em
seus braços e lhe deu um abraço de despedida. Foi a última vez que sentiu o
calor humano.
Rio Vermelho, 3 de outubro de
2017.
2 comentários:
Lindo e triste 😞. Saudades !
Eliana Bittencourt
Parabéns pelo conto porem gostaria de um final feliz.
Um abraço, Paulo
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