Ufa! Finalmente consegui fazer o tal do cadastramento biométrico.
Aquilo que fazemos corriqueiramente nos bancos, para substituir a senha pela
leitura digital do dedo. Nos bancos privados isto se faz em menos de cinco
minutos com a ajuda de um único funcionário – sem que para isto seja necessário
agendar dia e hora – depois de esperar de pé na fila onde outros serviços
bancários são prestados a outros clientes. Como é um troço que envolve
segurança bancária e dinheiro, pode-se imaginar o rigor com que é a coisa é
feita, para que não haja fraudes.
Já no serviço público, dá para se imaginar a zorra que
aquilo é, não há forma mais apropriada para descrever. Para o mesmo
procedimento, que tão rapidamente se faz num banco, o excesso de burocracia, ineficiência,
falta de bom senso e quantidade de mão de obra empregada, explica porque a
máquina do governo é tão mal administrada e dispendiosa, – ou talvez eu esteja
sendo ingênuo, e não percebi que o grande esquema esteja nos gastos para este
cadastramento biométrico, seu cheiro azedo faz lembrar das obras com a copa do
mundo e das olimpíadas. – com a desculpa de que isto se faz necessário para garantir
eleições seguras e limpas. No entanto, fazer o tal cadastramento tem sido um castigo,
uma piada de mal gosto imposta a milhares de cidadãos.
A maior dificuldade está em agendar a ida ao posto de
recadastramento que, em Salvador, só pode ser feito pela internet. Quem já fez
isso, percebeu que não é como dar um passeio no parque, é preciso paciência,
persistência e tempo de desocupado. Fiquei horas seguidas durante dias, fazendo
intermitentes tentativas até aparecer um horário disponível só para fazer o
agendamento. Aí quando surge na tela do computador um horário disponível, temos
de ser rápidos na disputa por quele horário com outros incautos internautas que
estão do outro lado, na mesma corrida. Perdi duas vezes, para minha frustração,
mas na terceira, eu já estava mais esperto, e consegui! Não foi uma tarefa
fácil, para mim que disponho de um computador e internet. Fico imaginando como
deve ter ser para aqueles que não têm uma coisa e nem outra, e cuja ida ao
local de cadastramento é uma despesa que pesa no orçamento minguado. Este
detalhe, o burocrata, tão distante da realidade de seu próprio país, desprezou.
O local onde fui fazer a biometria merece um paragrafo
à parte. Era um lugar sórdido, parecia um curral humano onde as pessoas se
espremiam de pé desde cedo pela manhã, onde imperava o caos, a indignação e o
mal humor diante de funcionários públicos apáticos. Um senhor que também estava
lá para fazer o seu cadastramento, esbravejou revoltado e fez um discurso
inflamado sobre o tratamento desumano que as pessoas estavam sendo submetidas
e, no final, levou um monte de aplausos. Temi por um quebra-quebra, mas não
houve nenhum, pois como já sabemos, baderna é coisa encomendada e paga, e as
pessoas que estavam ali foram voluntariamente.
Quando finalmente fui atendido, e passado por todo
aquele processo digital sofisticado – foto digital, assinatura digital e coleta
das digitais de cada dedo, ai veio a grande piada do dia, recebi mais uma
carteirinha impressa em papel, mais uma que não terá utilidade alguma, além de
se juntar às outras eleitorais que já tenho guardadas na gaveta, um verdadeiro
monumento à burocracia e à insensatez.
Não acho que o que estamos precisando de um sistema
de votação de nação superdesenvolvida. É até um acinte para o eleitor humilde –
a grande maioria dos eleitores – ser obrigado a sair de sua casa para votar,
utilizando um tal sofisticado sistema, quando ele próprio mora num lugar onde
não chegou ainda ao século XIX, portanto sem saneamento básico, segurança e
transporte regular. Todo este cadastramento biométrico não passa de uma
dispersão para desviar nossa atenção do verdadeiro problema. A grande fraude
das nossas eleições não está no voto, esta já vem embutida no próprio sistema
eleitoral, permissivo ao ingresso de candidatos com desvios de caráter,
verdadeiras frutas podres no cesto; um sistema viciado para reeleger sem votos políticos
largamente conhecidos por sua conduta desonesta e amoral, mas que eleição após
eleição jamais conseguimos nos livrar deles. Estamos precisando, sim, de
candidatos de caráter superdesenvolvidos e que depois de eleitos não se revelem
uma fraude eleitoral.
Rio Vermelho, 12 de janeiro de 2018.
3 comentários:
Concordo consigo e ainda digo mais : todo este sofrimento imposto aos eleitores , cheira a chantagem ! Pior ainda, vai dar em pizza ! Eu não me recadastrei e acho que não preciso. Mesmo que precisasse , não o faria. Passei dos 86. Por que irei votar nos ladrões de sempre que, de umas forma ou de outra, utilizando o sistema, conseguem voltar ao congresso ? Nosso país ´pe uma vergonha ...
Oi Cris!
Concordo com Vc, apesar de fazer um aparte... o povo só deixa tudo pra ultima hora affff
Mas o difícil mesmo é achar um politico que pense no povo do começo ao fim do mandato...
Bjs
Ivana Braga Souza
Muito bom e muito bem!
Helder Pires
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