Antes mesmo de Cabral errar o
caminho e vir tomar posse dessas paragens, as baleias já cruzavam as praias do
Rio Vermelho, que ainda não tinha essa rubra designação – graças ao empenho da
Embasa, a empresa pública de saneamento sanitário, no entanto, deveria trocar o
nome para Rio Escuro e Fedorento. Antigos moradores do bairro, contam, como se
fosse a coisa mais trivial do mundo, ver baleias passar de lá para cá, sem
anunciar o seu rumo. Os pescadores de praia já viram centenas e têm isso como
um fato tão comum quanto a presença dos xaréus que pescam em dia que a maré
está alta.
Eu nunca vi uma baleia em minha vida
que não fosse na revista ou no cinema, mas dona Zulmira, a vendedora de água de
coco instalada em frente ao Mirante da Paciência, já teve esse privilégio. Foi
outro dia, ela me contou, olhou pro mar e lá estavam duas! Mergulhavam exibindo
a enorme cauda e esguichavam água quando voltavam à superfície. Uma coisa linda
de se ver, segundo suas palavras. No início, ficou impressionada com o tamanho
dos peixes, mas depois caiu em si e concluiu que eram baleias. “Baleia não é
peixe, é?, me perguntou, e eu não soube o que responder. Era uma tarde de dia
de semana, com o sol fazendo um calor de lascar, por isso poucos testemunharam
a visita inesperada dos cetáceos. De agora em diante, torce para ver outras, e
até passou a se arriscar, trazendo o celular para gravá-las em vídeo, caso
reapareçam, para mostrar aos netos. Espera que isso aconteça antes de os vagabundos
levarem-lhe o cobiçado aparelho.
Já houve época em que a costa era
abundante de peixes e baleias, assim como a Mata Atlântica chegava até a beira
da praia, e os tupinambás que banhavam-se nessas águas, vez por outra tinham a
grata satisfação de almoçar um europeu gorducho. Mas isso faz muito tempo, e
hoje em dia a carne humana é imprópria para consumo, cheia que é de aditivos
químicos.
Mas voltando às baleias do Rio
Vermelho, o seu retorno à costa em maior frequência, motivou a prefeitura do
município pôr uma horrenda representação pretensamente realística de uma cauda
de baleia e declarar o mirante da Paciência um observatório do gigantesco e
belo animal aquático. Como é necessária bastante paciência até que uma baleia
(ou duas) dê o ar da graça, a prefeitura deveria também ter reposto os bancos
de madeira que foram surrupiados do local, para que os curiosos aguardem
sentados pelo aparecimento delas, uma vez que esperar de pé cansa! Fica aqui a
sugestão.
Rio Vermelho, 11 de outubro de
2023.
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