Cartões de crédito e empréstimos bancários são invenções do demônio. O digo com conhecimento de causa. Geralmente são fáceis de obtê-los e difíceis de ver-se livre deles. Possuí-los, é como vender a alma ao diabo.
Anos atrás quase perdi a pouca sanidade que me restava ao me endividar com o cartão de crédito e com o banco. Tudo não passava de apenas uma pequena dívida bancária e um atraso de pagamento do cartão, mas algum tempo depois, se transformou numa besta fera. A princípio, a situação estava sob controle, pois, negócios em perspectiva iriam facilmente resolver o meu problema de 'fluxo de caixa', usando o jargão financeiro para o popularmente 'estar duro'.
Contrariando minhas previsões, meus negócios não se realizaram da forma como eu imaginava. O dinheiro não veio. O prazo de encarar meus credores se aproximava, e eu me sentia como condenado em véspera de execução. Minhas noites tranqüilas de sono se foram, a incerteza de poder pagar as minhas dívidas estava me incomodando feito calo em tênis velho. Não há coisa pior na vida do que viver incertezas, elas nos confundem e corroem nossa sanidade e alma. Ao chegar o dia D, eu estava completamente quebrado e como era previsível, não paguei as ditas dívidas. Triste tormento.
Como tudo em minha vida, uma desgraça vem seguida de outra, meu negócio, também, desceu por ladeira a baixo tornado minha situação financeira que já era difícil, bem difícil. O tempo foi passando e as minhas dívidas foram crescendo como fermento em massa de pão. Durante algum tempo, os pensamentos me consumiram de preocupação, como iria pagar minhas dívidas? Tentei acordo com o banco, mas nenhuma das alternativas propostas eram realistas. Por falta de um acordo que satisfizesse o tamanho de meu bolso, apesar de meu banco ter eu seu slogan que eles são do jeito que agente precisa, ficamos sem um acordo e, conseqüentemente, a dívida ficou em aberto. Triste tormento.
O tempo foi passando e minha tenebrosa dívida chegou a se transformar no dobro meu peso em ouro, vitaminada por tantos juros. Nem mesmo as seguidas propostas de 80% de desconto e prazos de 36 meses para pagá-las ainda estavam aquém das minhas posses. O valor de minha dívida se tornou em algo impagável por mim nesta ou em qualquer outra vida. Nunca terei tanto dinheiro. Agora tenho certeza de que jamais poderei pagá-la. O fato de ter esta certeza já é muito tranqüilizador. Voltei a dormir melhor e serenamente. Não tenho mais pesadelos nos quais divido a cela com o juiz Lalau, Paulo Maluf, Daniel Dantas, Celso Pitta e outros ilustres. Não há coisa melhor na vida do que se ter certeza sobre alguma coisa, mesmo que seja a infeliz certeza de que jamais pagarei uma dívida de banco.
PS.: Recentemente tomei conhecimento pelos jornais de que o governo dará dinheiro a bancos em dificuldade. Olha o estrago que causou a minha dívida! E como é doce ter amigos neste governo.
Rio Vermelho, 1 de dezembro de 2008.
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