quarta-feira, 7 de julho de 2010

O caso do colchão

Que tempos de tanta sofisticação. Há uma variedade de ofertas para um mesmo bem de consumo e que desafia o nosso poder de decisão a cada escolha. E cada escolha se torna quase que um martírio. Não me refiro à grande quantidade de fabricantes e sim às diferentes opções para um mesmo gênero. Assim é com um alimento tão simples como a manteiga, para exemplificar. Quem nunca foi ao mercado e ficou em duvida em escolher entre a manteiga com ou sem sal, light ou diet, orgânica ou não, de leite de vaca, cabra, búfala ou de onça, e por assim vai. Já não basta termos de escolher um entre uma infinidade de fabricantes que nos promete que o seu produto é o melhor e que estamos fazendo a escolha certa ao levá-lo para casa, ainda temos de optar por uma entre as diversas variações deste mesmo produto. É mole?

Esta semana resolvi que já era hora de aposentar de vez o meu velho colchão e trocá-lo por um novinho em folha. Uma tarefa bem simples, imaginei. Eu só teria de ir até a loja aqui do bairro e comprar um colchão do tamanho de meu orçamento. Eu nunca havia antes comprado um colchão para o meu uso próprio e, para minha surpresa, descobri que comprar um colchão pode ser um negócio mais complicado do que eu supunha. Eu não fazia ideia de que havia tantos tipos diferentes e tantos fabricantes, o que eu só descobri à medida que fui me dedicando mais ao assunto e pesquisando em lojas especializadas e na internet. Alguns de vocês podem considerar até que é um exagero de minha parte dar tanta importância para comprar um artigo que só usamos uma vez por dia, mas se consideramos que um colchão ruim pode arruinar o dia seguinte, então vale apena investir em tempo e paciência para encontramos aquele que nos proporcionará o sono dos justos. E foi isto mesmo o que eu fiz.

Minha primeira tentativa foi numa loja aqui do bairro, exclusiva de um notório fabricante de colchões que nos informa que 1/3 de nossa vida é passado sobre eles. O inconveniente dessas lojas de franquia é que os vendedores são treinados para fazer uma venda a qualquer custo e sua primeira tentativa é nos mostrar o que tem de mais caro. Talvez eu tenha me acostumado tanto ao meu colchão de espuma velhinho e macio que terminei rejeitando todos os que experimentei. Duros demais. Lembro-me que, na infância, eu dormia num colchão de palha com forro listrado porque não existiam colchões de espuma ainda, e agente tinha de se contentar com o que havia. A vida parecia ser tão mais simples, então.

Depois de algumas tentativas deitando-me sobre colchões de espuma de diferentes fabricantes e variados graus de maciez, cheguei à conclusão de que ou eu estava muito exigente ou todos os colchões de espuma eram tudo a mesma coisa, não importando quem o fabricasse. Desisti dos colchões de espuma. Como não se fabricam mais os velhos colchões de palha, que hoje em dia seriam, com certeza, considerados ecologicamente corretos, resolvi tentar os colchões de mola, que levam a vantagem de durar mais. E lá fui eu novamente repetir a maratona. Você pode se questionar por que diabos eu não fiz isso antes. É, não fiz. Não me passou pela cabeça comprar um colchão de molas. Os colchões de mola foram a parte divertida desta empreitada.

Há colchões de molas para todos os confortos e bolsos. Desde aqueles que rangem as molas cada vez que nos movimentamos na cama até os que são o Rolls Royse dos colchões, que só faltam falar e andar e que chegam fácil ao preço de um carro zero quilometro. Testei todos. Alguns eram tão duros quanto os colchões de espuma - como podem alguém dormir naquilo – e outros que sacolejam tanto que parecem um caminhão velho correndo em estrada esburacada. Num deles deitei e pedi para o vendedor "cair" ao meu lado e isto me fez quase ser cuspido fora da cama, provocado pela brusca reação das molas! Deitei, virei de lado, fechei os olhos, pulei em cima. Terminei escolhendo um que era satisfatório embora balançasse as molas um pouco demais da conta. Uma dica. Se você estiver planejando comprar um colchão, não o compre pela internet - que é sempre mais barato - sem antes encontra-lo em alguma loja onde você possa experimentá-lo antes. Algumas fotos de internet são tão duvidosas como um político honesto e dão a impressão de que você está fazendo um ótimo negócio, quando, na verdade, você está entrando numa tremenda fria. Bem, escolhi finalmente o colchão e prometi à vendedora voltar em dois dias. Isto mesmo, eu precisava de mais um tempinho para digerir a ideia. No caminho de volta para casa, passei casualmente numa loja de eletrodomésticos para procurar um destes fornos elétricos que são tão práticos e gastam tanta energia. Vi num canto da loja alguns colchões e fui lá conferir, já que estava ali mesmo. O primeiro colchão que sentei era um cujas molas eram firmes e não rangiam e mal se percebia que haviam molas lá dentro. Sua espuma era macia e confortável. Deitei e gostei. Fechei negocio na hora. Estes dias tem sido difícil sair da cama!

Rio Vermelho, 6 de julho de 2010

Um comentário:

Sarnelli disse...

Muito interessante , Cristiano , muito legal. Pode ficar tranquilo porque, por um bom período , não lhe telefonarei antes das 10 da manhã !
Vou lhe dar o tempo necessário para a sua lua de mel com o colchão novo...