Ir ao cinema é minha diversão favorita. Não passo uma semana sem ir. No entanto, prefiro não saber muito sobre o filme além de seu horário e local de exibição, porque, para mim, faz parte da diversão a surpresa de ir tomando conhecimento da estória à medida que ela vai se revelando na tela prateada. Tenho só o cuidado de não ir a filmes de terror, que os de hoje em dia mais causam nojo que medo. Filmes de pacientes terminais, também não me agradam, pois o final é bastante obvio e está estampado na cara do moribundo principal. Há, também, aqueles apocalípticos cuja trama é um mirabolante plano para mandar o mundo para o quinto dos infernos, cheios de efeitos especiais e cenários fantásticos, estes me entediam e me fazem ficar questionando porque alguém está se dando tanto ao trabalho de acabar com o mundo e porque é que apenas um homem vai impedir que isto aconteça. E filmes cujo tema é a violência contra crianças ou mulheres, nem pensar, afinal eu vou ao cinema é para me divertir.
Ontem fui num cinema cuja sala só vende assentos marcados, e como a plateia era apenas de meia dúzia de gatos pingados, me rebelei, sentei em qualquer lugar. Os primeiros quarenta e cinco minutos do filme descreviam a rotina de um jovem e feliz casal, e lá pelas tantas, quando aquilo já estava ficando tedioso, a mulher conhece outro homem e, não satisfeita em ir apenas uma vez para a cama com ele, fez disso um hábito, transformando-o num tórrido romance. O marido, por sua vez, não fez diferente, desconhecendo os malfeitos da esposa, começa também a ter um caso extraconjugal, no entanto, como ele andava meio confuso, foi parar nos braços de outro de seu gênero, porque ele queria experimentar esta coisa diferente de que tanto falam. A partir daquele ponto do filme, a estória, que parecia um daqueles patéticos casos de duplo adultério, adquire contornos bizarros, quando a esposa descobre que seu querido marido a estava traindo justamente com o seu amante. Para complicar mais ainda o imbróglio, a mulher aparece grávida e como se isto não fosse o bastante, era de gêmeos e, neste momento, a trama insinua que talvez cada criança pertencesse a um pai diferente, o que dificilmente saberemos por que este era um daqueles filmes europeus que não tem fim. Para quem ficou curioso por saber em que pé ficou o triangulo amoroso, digo que o amante ficou prestando assistência à esposa e ao marido concomitantemente, seguindo ao pé da letra aquele preceito bíblico que diz que marido e mulher devem compartilhar de tudo na alegria e na tristeza. E esta é uma das desventuras de se ir num filme sem ler a sinopse previamente.
Esta inverossímil estória me fez lembrar de outra que certa vez me contaram. Uma jovem moça tinha a satisfação de “sair” com dois belos rapazes sem que um soubesse da existência do outro. Tudo ia muito bem até que certo dia ela engravidou. E como naqueles áureos tempos paternidade era mais uma presunção que uma informação científica confiável, a moça resolveu comunicar o fato aos dois rapazes, dando-lhes a palavra que um deles era o pai embora não soubesse precisar qual dos dois. Foi nesta oportunidade, também, que ambos foram apresentados, e como eles eram dois homens de boa índole e bom senso, não faltaram com solidariedade à moça e se comprometeram a dar toda a assistência a ela e à criança, inclusive até a sua idade adulta
De fato eles cumpriram o prometido. Durante toda a gravidez, não deixaram que nada faltasse à gestante. No mês previsto para a criança desembarcar no mundo, um deles precisou viajar a trabalho ficando fora algumas poucas semanas, até que certo dia este recebeu um telegrama que informava suscintamente: “Lívia deu a luz. Nasceram gêmeos. O meu, infelizmente, morreu. Parabéns!
Rio Vermelho, 15 de dezembro de 2011.
Fernando Pessoa – Poesia – 22/11/24
Há 8 horas
2 comentários:
Muito bom,Cristiano. No seu estilo !
ô Cris, a morte é a coisa mais certa que existe e não há o que temer pois, pra onde vamos é muito lindo.Quanto a forma de ir ao cinema é muito interessante.
Muitos beijos e te espero no Taboada.
Martha.
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