Fui dar minha caminhada na
orla como faço diariamente, mas, neste sábado, troquei o final de tarde pela
manhã, pois o dia era convidativo a tomar um saudável banho de sol logo bem
cedo. Ao passar em frente à praia da Paciência, não resisti aos seus encantos
para que eu fosse dar um mergulho, pois a água estava cristalina como a piscina
de um clube grã-fino e serena como as águas do Caribe, além de que, totalmente
deserta, exceto por um vulto que eu via de longe banhando-se tranquilamente. Dei
por finalizada a caminhada e desci a escada que levava até a areia, e, depois
de me desfazer de roupas e tênis, mergulhei na água que estava deliciosamente
gelada.
Não muito distante de onde eu estava, pude ver de perto o
vulto o qual eu enxergara da balaustrada. Era uma senhora gorda e de expressão
alegre que me cumprimentou com um jovial bom dia, ao que eu retribui com o
mesmo entusiasmo. Perguntou-me se eu era morador do bairro e respondi-lhe que
desde que eu usava fraudas. Ela disse também que sim e apontou-me onde morava,
um prédio antigo erguido exatamente em frente à praia. Então eu lhe disse que
ali morara uma antiga professora dos tempos do primário, ao que ela falou o seu
nome, dizendo que a conhecia desde menina.
Fulana de tal tinha sido minha professora dos meus 11 aos 15
anos e guardo dela boas recordações. Ela era, então, muito jovem, na flor da
idade, uma dessas legítimas louras de farmácia com todos os seus atributos,
muito atraente. Gostava de usar roupas justas com decotes que mal conseguiam
conter os seios grandes, os quais eram legítimas criações da natureza, além de
um punhado de brincos, colares e pulseiras coloridos que chacoalhavam
harmoniosamente quando ela caminhava, pois o seu gracioso rebolado era como o
de uma musa andando nas areias mornas da praia de Ipanema. Aquele seu jeito sensual
chamava muito a atenção dos garotos da escola que agitavam-se quando ela
passava pelo pátio e estes expressavam a
sua admiração de forma escondida por debaixo das calças, a ponto de causar-lhe
dor e fazê-los andar de ladinho. Eu, também, a admirava muito e, em meus
momentos de solidão e a abandono, tinha nela a minha fonte de inspiração...
Como esta senhora parecia realmente ser uma antiga moradora
do bairro, perguntei-lhe se conhecia Fulano de Tal, meu vizinho de sempre, ao
que ela respondeu:
— Lógico, muito meu amigo. – ela respondeu. Em seguida,
acrescentou. – Ele morreu.
— Realmente ele se foi. Que saudades que ele faz. – eu
disse.
— Sou muito amiga, também, de Fulaninho, seu filho.
— Sim, Fulaninho...
— Que coisa horrível, Fulano foi morrer justamente no dia do
aniversário de Fulaninho. Isto traumatiza qualquer filho.
— É verdade. – eu disse. – Mas ele vai superar isto, afinal
ele é um homem de quase 70 anos.
— Com tantos dias durante o ano, Fulano foi escolher morrer
logo no dia do aniversário do filho! – ela disse com um pingo de indignação.
— Infelizmente, nem sempre é possível se escolher o dia que
se vai encontrar o Criador, não é mesmo?
— Uma das coisas que Fulaninho mais gostava era fazer uma festa
no dia do seu aniversário... Ele convidava todos os amigos, inclusive eu. Tinha
tanta comida, bebida e música. Fulaninho sabia como dar uma festa... – ela
disse meneando com a cabeça em tom de pesar.
— Fazer o quê, né? – eu disse sem ter o que dizer.
— Veja só, mas que situação: no dia que Fulano morreu,
Fulaninho não sabia se comemorava o aniversário ou se enterrava o pai. – disse
lamentando.
— Realmente, está é uma dúvida cruel. – respondi perplexo.
Rio Vermelho, 3 de
março de 2013.
3 comentários:
Gostei demais! Parabéns. Bjs no <3.
Odete Lima
Cruel ė ter esta duvida! Bj e muito seu estilo criativo!
Jaqueline Moreno Machado
Cristiano, voce alem de escritor de cronicas, confessa abertamente um grande amassador de pau para aliviar as tentações. Com todo respeito é claro.
Um grande abraço, Paulo
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