Fui parar na Praia do Forte
este fim de semana passado. Uma praia distante de Salvador, frequentada por grã-finos
endinheirados ou pelos pretendentes a tal posto. Não sou nenhuma coisa nem outra,
só um ponto fora da curva. Faço este passeio anualmente exatamente no dia 2 de
fevereiro, com o intuito de fugir da muvuca em que se transformou a tradicional
festa de Iemanjá, a Rainha do Mar, a protetora dos pescadores, pois em troca de
oferendas garante-lhes pesca o ano inteiro. Esta festa, cujo momento culminante
é a entrega de presentes à Iemanjá, deixados em alto-mar pelos pescadores, acontece
a poucos metros de minha residência e, em minha opinião, apesar do incomodo que
ela causa aos moradores em seu entorno, a considero a mais bela de todas as manifestações
populares da Bahia de que tenho conhecimento.
Na
hospedaria onde pousei em Praia do Forte, conheci um rapaz estrangeiro que
estava de passeio de férias pelo Brasil. Falei-lhe da beleza que é a festa de
Iemanjá, incentivando-o a vir até Salvador assistir à entrega das oferendas à Rainha
do Mar. Entretanto, ele me respondeu que resolvera se abster de participar de
eventos deste tipo enquanto estivesse visitando a nossa terrinha. Não era à
toa. Seu rosto estava arrebentado e remendado por pontos cirúrgicos cuja carne costurada
ainda pulsava vermelha de dor e deixará cicatrizes na pele e na alma. Dois dias
antes, ele estava no Festival de Verão, – um evento musical e cultural produzido
pela iniciativa privada aqui da cidade, portanto, em local fechado e com
ingressos a peso de ouro – andava tranquilamente entre os participantes quando lhe
desferiram um soco brutal de nocautear até o Anderson Silva. A alegria da noite
terminou por ali. O estrangeiro desconhece o motivo pelo qual foi vítima de
tamanha violência. Não havia tumulto algum, briga na qual tivesse sido acertado
por um soco perdido. Não houve assalto. Deixaram a porta da jaula aberta e o animal
que estava lá dentro fugiu para a noite agredindo covardemente pessoas que atravessavam
em seu caminho. Nosso visitante, lamentavelmente, foi uma destas vítimas. Alguém
divertia-se agredindo outros gratuitamente, mas que forma perversa e doentia de
diversão.
De onde
vem tanto ódio e insensatez? O caso deste rapaz estrangeiro não é um fato
isolado. Longe disto, são centenas as vítimas que são agredidas injustificadamente
neste tipo de evento de massa aqui em Salvador, quer seja este público ou
privado, sem falar daquelas que assaltadas ou se metem em brigas as quais
preferiam estar longe. Sair para se divertir em eventos que reúnem uma grande
quantidade de pessoas tem se tornado uma atividade de alto risco na Terra da
Felicidade. Não é raro as vítimas de tais violências carregam para o resto da
vida sequelas causadas pela brutalidade.
Eu me
pergunto por que isto acontece num país onde o seu governo se regozija de seu
sucesso na economia, na saúde pública, segurança e educação. Se está tudo tão bom
assim, então qual o motivo da fúria?
Se a
Civilização é a violência dominada, como dizem, a vitória sobre a agressividade
do primata, sim porque somos e sempre seremos primatas num estágio evoluído, como
definiríamos então o nosso país? Em que estágio da evolução humana nos
encontramos? Somos a nação que constrói aviões de alta tecnologia, produz
vacinas e faz pesquisas em biotecnologia, mas também é o mesmo lugar que reduz
o homem livre ou o presidiário a seu estágio mais primitivo da condição humana.
Somos uma sociedade que funciona como um motor a produzir violência gratuita em
nosso cotidiano. Temos medo de sair na rua de dia ou à noite, vivemos com medo
por nós e pelos outros.
Rio
Vermelho, 4 de fevereiro de 2014.
8 comentários:
Cristiano,
este lamentável episodio infelizmente acontece e continuara acontecendo, sabe por que? não existe planejamento familiar, e motivados por ganhos fáceis, bolsa família e tantas outras.. e governo incompetente em oferecer serviço de qualidade-Educação Saúde,Transporte digno, completa o circulo vicioso.
A tendencia é que esses tipos de delitos aumentem é que a logica na maioria dos juízes é soltar os suspeitos envolvidos em pequenos delitos para evitar se tornarem marginais de maior magnitude, porem esconde uma verdade, se os pequenos delitos ficam impunes, a logica é que já que não houve punição, o delinquente se especialize e diversifique para outros tipos de ação, sem medir as consequências, afinal sabe que não haverá punição.
abs e bom fim de semana.
Edmond
Concordo plenamente! Vivemos prisioneiros em decorrência do medo!
Abraço,
Karina Seixas
Cris
Cheguei na terra dos enjaulados......estou me esforçando muito para parar de criticar essa terrinha.....estou até melhor,mas depois de ir para Austrália e Nova Zelândia...fica ainda mais difícil.
Risos
Sandra Gordilho
Só me resta que endossar todas as manifestações postadas até agora. É verdade. Hoje temos medo de ir às ruas à noite e temos medo até de ficar dentro de casa... enjaulados com grades nas jabelas e nas portas !
é assim mesmo Cristiano - TUDO JUNTO E MISTURADO...
fazer o quê??? ;-))
Hola estimado Cristiano acabo de ler mais uma de suas bem escritas cronicas ! e creio que deverias publicar esta no facebook ! o minimo que podemos fazer contra a impotencia de mudar as coisas seria divulgar e manifestar o nosso protesto! estive todos estes anos de distancia do nosso Brasil observando na evolucao dos tempos como se desenvolvia este Pais e lamentavelmente houve uma tremenda involucao e a decadencia dos valores nobres se disolveram como se nunca existisem; cada vez que retornei a Salvador com um intimo desejo de finalmente um Dia voltar as minhas origens reencontrar minha TRIBO ! houve impedimentos claros na observacao desta violencia crescente que nao se manifesta apenas nos extremos perigos da delinquencia! Creio que a agrecividade se manifesta em tudo Axe music! Discursos da injustica de uma sociedade que nao reconhece seu mimetismo com sociedades Decadentes como USA apenas Poderosa por questoes economicas mas injusta no apogeo do Capitalismo selvagem e suas nefastas consequencias ! em fim Diria com tristeza uma ferida incuravel um KARMA que somente a espiritualidade poderia salvar porem ate isto esta manipulado primitivamente no Brasil y as religioes estao refletindo o fanatismo patriarcal e nem a mescla de racas e culturas que poderia ser positivas no contesto social ! tem efeito contrario e gera odios competicao e injusticas Nao tenho mais opcao de retorno a esta pacata Bahia aonde em nossa juventude emigramos buscando lugares mais favoraveis as nossas inquietudes ! tenho seguido viagem pelo mundo em busca de um lugar pacato para ancorar e seguir outra etapa de vida estamos minha pequena familia desejando viver em Bali estas terras tem uma energia de quietude que me inspira tentar aqui viver ! em fim So DEUS sabe que o sera ! Desejando tudo de Bom para voce (desculpe as faltas ortograficas e de acentos e cedilhas ) Um abraco LuLa Martins
É meu irmão, não tem explicação; aqui também acontece casos estrondosos; de arrepiar.
Dante Teixeira
Concordo com o Antônio, poste também no Facebook.
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