Todos os dias de verão, um pouco antes do pôr do sol, como
se aquilo já fosse um compromisso combinado, ela surgia na orla do Rio Vermelho,
não se sabe vinda de onde. De patins, deslizava graciosamente pela via onde também
passavam ciclistas, pedestres com cãezinhos e skatistas apressados. A sua
aparência era sempre fresca como de quem houvesse recém saído do banho e posto
a roupa de passeio, para aproveitar a última luz do dia. Nos ouvidos, um par de
headphones a isolava do resto do
mundo com algum tipo de música que a fazia balançar a cabeça e mover os quadris
ritmicamente, tornando a cena de sua passagem num espetáculo encantador. Como
ela era bela no frescor de sua jovem idade e o seu jeito inocente parecia
ignorar aquele fato. O pequeno grupo de senhores que jogava conversa fora,
sentados à balaustrada da praia, também naquele mesmo horário, interrompia a
conversa para reverenciar a sua passagem. Era o único momento que eles deixavam
de discutir receitas para curar as mazelas do país, para admirar poesia.
Naquela tarde, ela usava um vestidinho florido bem curto
que esvoaçava a cada sopro salgado do mar, mas ela parecia não se incomodar.
Ela estava alegre como de costume, e ouvia a sua música e dançava sobre as
rodas sem se deixar perturbar. Como era bom ser jovem e andar de patins para lá
e para cá sem se importar com nada mais além do caminho à sua frente.
No mirante da Paciência, ela fez uma pausa para
admirar um espetáculo majestoso, o sol dissolver-se no horizonte manchando o
céu de tons alaranjados. Como era bonito aquele momento que ela não se cansava
de admirar e que enchia o seu peito de uma felicidade infantil, como se ela se
comunicasse tão bem com a natureza como com os seu par de patins.
Ela não prestou atenção quando um rapaz jovem e forte se
aproximou, e disse-lhe alguma coisa quase sussurrando. Só depois de sua
insistência foi que ela tirou o fone do ouvido para escutá-lo. Ato seguido da
entrega do aparelho de celular por onde ela ouvia a música e, em seguida, do
par de patins. Suas pernas começaram a tremer logo em seguida e se formou uma
poça de urina ao seu redor, enquanto o malfeitor corria atravessando o asfalto
e sumindo pelo mundo afora. Ela teve impulso de gritar por socorro mas a emoção
lhe roubou a voz, e quando finalmente ela conseguiu fazê-lo, foi socorrida por
outros admiradores do crepúsculo, mas aí já era tarde demais.
Nunca mais se viu ela passeando ao pôr do sol. Entretanto,
espalhou-se a notícia de que um rapaz de patins corria como o vento pela
ciclovia, e pelo caminho tomava sorrateiramente da mão de passantes aparelhos
de celular e bolsas, deixando um rastro de desespero ao sumir feito um raio entre
os transeuntes.
Rio Vermelho, 16 de dezembro de 2016.
2 comentários:
Prezado Cristiano,
Meu nome é Eurípedes Chaves Junior, sou escritor e historiador cearense, neto do historiador Raimundo Girão. Faço parte do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará e de outras academias. Meu avô foi contemporâneo e amigo do seu pai, que inclusive teve livro lustrado por ele. Adquiri um livro seu pelo Estante Virtual e outros dois pela Assembleia Legislativa mas gostaria muitíssimo de conversar com o nobre escritor para lhe indagar sobre uns trabalhos do seu pai. Meu telefone é 85 999526516 e email ecjunior100@yahoo.com.br.
Prezado Cristiano,
Meu nome é Eurípedes Chaves Junior, sou escritor e historiador cearense, neto do historiador Raimundo Girão. Faço parte do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará e de outras academias. Meu avô foi contemporâneo e amigo do seu pai, que inclusive teve livro lustrado por ele. Adquiri um livro seu pelo Estante Virtual e outros dois pela Assembleia Legislativa mas gostaria muitíssimo de conversar com o nobre escritor para lhe indagar sobre uns trabalhos do seu pai. Meu telefone é 85 999526516 e email ecjunior100@yahoo.com.br.
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