Era tão louco por Aldalice a
ponto de desejar devorar a sua carne até os ossos. Nunca se viu tamanha paixão.
Chegava a ser quase uma obsessão. As amigas da moça morriam de inveja. Nossa, como
eu queria ter um homem tão apaixonado por mim assim, suspiravam.
De fato, Heitor era um namorado
como não se via igual. Fazia de tudo para surpreender a sua amada. Fazia-lhe as
vontades, enchia-lhe de mimos. Certo dia, ao passar em frente à loja, viu na
vitrine um frasco de Gordius Choice, o perfume preferido de Aldalice. Raríssimo
de se encontrar. Não teve dúvida. Entrou e comprou o único frasco restante. Nem
pestanejou ao pagar uma grana por ele.
À noite, aprontou-se todo e foi
fazer uma surpresa à namorada. Ela o recebeu em casa como de costume. E como
não disse nada, ele puxou assunto. Não está sentindo um cheiro familiar? Deu um
sorriso meio sínico. Sim, você está usando um perfume parecido com o meu! Ao
invés de presenteá-lo à Aldalice, Heitor preferiu usá-lo. E foi assim que tudo
começou.
Certa noite, depois de fazerem
amor, ele teve uma ideia divertida. Vestiu as roupas de baixo de Aldalice e aí
fez uma imitação dela. Ficou tão parecida que os dois caíram na gargalhada. Depois
voltaram a se amar. A brincadeira teve o efeito de um afrodisíaco em Heitor,
Aldalice sentiu a sua pujança vitaminada.
Aquela brincadeira mexeu com
Heitor. Ele gostou de sentir a macies do lingerie da namorada roçando a sua
pele máscula. Porque não usavam o mesmo material para confeccionar cuecas, ele
se perguntou. O rapaz sentiu uma comichão gostosa dentro daquelas delicadas
peças íntimas. Era uma sensação indescritivelmente agradável usar calcinha e
sutiã.
Uma noite, ele veio da casa de
Aldalice com alguma coisa escondida no bolso da calça. Trancou-se no quarto e
despiu-se. Vestiu uma calcinha e um sutiã roubados da namorada. Foi dormir
daquele jeito. Na manhã seguinte, acordou sentindo-se estranhamente diferente.
Alguma coisa tinha mudado.
Não satisfeito em usar apenas a
calcinha e o sutiã da namorada, certa vez, ele trouxe para casa um de seus
vestidos prediletos escondido em uma sacola de compras. Trancou-se logo no
quarto para prova-lo diante do espelho. Caiu feito uma luva. Não é que Aldalice
e Heitor vestiam o mesmo manequim!
Deixa de esquisitice, disse Aldalice
quando Heitor mostrou-lhe a novidade. Estava usando o seu vestido e de quebra a
calcinha e o sutiã. Onde já se viu um macho como você se vestir de mulher. Não
é carnaval, meu filho, tire já esta fantasia, ela ordenou incomodada com o que
acabara de presenciar.
Mas as esquisitices de Heitor não
pararam por ali. Um dia ele foi encontrar a namorada para o almoço. Ela o esperava
no restaurante combinado e quando o viu chegar, quase teve um chilique. Heitor chegou
vestindo uma saia e uma blusa muito parecidas com as que ela usava para aquele
encontro. Ele também usava bijuterias como ela, sapatos altos e uma Louis Vuitton
paraguaia igualzinha à dela. Não deixou de passar o batom da mesma cor que
Aldalice usava e uma leve maquiagem como a dela. Para completar, ele pôs uma
peruca da mesma cor que o seu cabelo e com o corte semelhante.
Aquilo já tinha ido longe demais.
Heitor tinha passado dos limites. Aldalice passou-lhe uma descompostura ali
mesmo em público. E foi-se embora o proibindo de procura-la novamente. Não até
que ele pusesse fim àquela maluquice. Onde já se viu namorar com ela mesma!
Rio vermelho, 6 de
outubro de 2014.
2 comentários:
incrivel esta sua criatividade.
abs
Ele mudou de lado!
Lulu Mano
Postar um comentário