terça-feira, 11 de janeiro de 2011
As metas de meu amigo JR para 2011
Mas o que mais me intriga é como é que um cara feio como o J.R. e que é magro feito o cão, consegue arranjar namoradas com tanta facilidade, logo ele que vive duro, quase nunca sai de casa e vai dormir todo dia com as galinhas depois do sol se por? Ele não vai à praia, não frequenta a academia, não passeia em shopping, nunca sai à noite, não telefona aos amigos, não vai a uma igreja, não tem Facebook e nem Orkut, vive mal humorado, não anda arrumadinho, enfim, não toma nenhuma daquelas providencias que uma pessoa desesperada em busca de companhia toma para se dar bem, ele age justamente o oposto, vivendo isolado de tudo como se fosse um verdadeiro ermitão urbano. Qual é a receita de seu sucesso com as moças?
Sua nova namorada, que é justamente o seu espelho ao contrário, é uma mulher ativa e trabalhadora de carteira assinada, e ainda faz uns trabalhos voluntários com crianças desamparadas, enquanto J.R. nunca teve um emprego formal, um eufemismo para dizer que não gosta de pegar no batente. Caso esta nova presidente que está aí resolver criar mais um ministério para apaniguar os companheiros, vou sugerir-lhe que o batize de Ministério do Ócio e que entregue a pasta ao meu amigo J.R., cuja contribuição ao seu governo será inequívoca. Enfim, não se tem notícia de que J.R. já tenha cumprido horário em canto algum do planeta e, por isso, sua nova namorada olha para ele intrigada e lhe diz: “Eu não sei como eu fui me envolver com um homem que nunca trabalhou.” Ao que ele replica já ter trabalhado sim, mas nunca de carteira assinada como todo cristão. Ela, então, faz uma cara de uma galinha que ia por um ovo e mudou de ideia e, não satisfeita com a resposta do bonito, promete sentar junto com ele para ajudá-lo a traçar suas metas para este ano. Embora ele reconheça o esforço dela, ele a adverte para que não lhe invente trabalho! Não é que J.R. seja um cara preguiçoso, muito preguiçoso ele não é. É que ele tem lá uma filosofia de vida e nesta, o trabalho é uma coisa ultrapassada. Este seu jeito pouco convencional de ser parece charmoso ao gosto das mulheres que se atraem por ele feito formigas em açucareiro em dia de confraternização de família. Embora ele não faça nem metade do esforço que faz um garotão bonitão com grana no bolso para gastar pelas baladas badaladas da cidade à caça do gênero feminino, as mulheres veem bater à sua porta feito evangélicas pregando em dia de domingo.
Outro dia, encontrei J.R. sentado no banco da pracinha aqui perto. Ele estava amuado e queixoso da nova namorada com a sua lista de objetivos para ele e, em seguida, disse pensativo: “Eu já tenho um objetivo para 2011, vou passar o ano inteiro deixando a barba crescer e em dezembro arranjo um emprego de Papai-Noel!” Vai ser um Papai-Noel bem magrinho, pode ter certeza.
Rio Vermelho, 8 de janeiro de 2011.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
A minha listinha de objetivos para 2011.
Eu não faço a menor ideia de quem foi o inventor de tais listinhas e também não compreendo porque nos sentimos tão mal por não dedicarmos pelo menos um instante para pensar sobre o assunto. As mudanças e melhorias em nós mesmos deveriam ser algo de nossa preocupação constante, então porque esperarmos até o inicio de um novo ano para pensarmos sobre o assunto? Talvez isto seja a influencia de nosso condicionamento de sempre contarmos a partir do zero, do início, uma vez que poucos são os que se arriscam a começar a contar a partir do três ou do quatro, por exemplo. Embora tais mudanças não precisem necessariamente significar em uma revolução em nosso comportamento ou estilo de vida, elas sempre representam um desejo de melhora em alguma coisa. Pelo menos alguma tentativa será feita a este respeito porque não basta querermos, é preciso termos os meios e a força de vontade para realiza-las. Algumas pessoas prometem parar de fumar ou pelo menos diminuir o vício do fumo enquanto outras vão bem mais longe, prometendo finalmente começar a ver um analista para entender porque são tão inseguras com relação a novos desafios. Imagine apenas como para estas pessoas já foi difícil tomar a decisão de começar um tratamento.
Num esforço para tentar ser igual a todo mundo, este novo ano, eu mesmo me prometi alguns objetivos para 2011, apesar de não levá-los muito a serio. Pensei bastante sobre o assunto e, finalmente, antes que o ano terminasse, apareci com a seguinte listinha que escrevi num papel bonito com letras solenes e garrafais que vou prender em algum lugar visível de meu escritório. O primeiro deles é: “Não vou fumar.” Eu não fumo e nem nunca fumei mas me comprometo aqui, publicamente, a não começar a fumar este ano e vou dar tudo de mim para cumprir tal objetivo. O mundo não precisa de mais um fumante. O segundo é: “Vou comer a mesma quantidade.” Isto é uma boa noticia, não vou engordar nem a mais e nem a menos do que eu já estou atualmente, manterei a minha média e, provavelmente, não comendo tanto assim, não tirarei a comida de quem realmente precisa. O mundo não precisa de mais alguém fazendo uma dieta. “Vou andar mais.” Ganhei de Papai Noel um par de tênis mágico Koreano, uma novidade! Basta calçá-lo e sair andando por aí que ele me leva a qualquer lugar do mundo em poucos minutos. Esta parte é mentirinha, mas não seria ótimo se fosse possível? “Não vou ler notícias.” Cheguei à conclusão que as más notícias fazem muito mal à saúde, pelo menos à minha. Este ano não quero saber das falcatruas do governo e do congresso, do efeito estufa, de guerras e terremotos e nem que Jesus Cristo já voltou e foi o nosso presidente da república, vou ficar alienado de tudo como se eu fosse um náufrago numa ilha deserta, talvez até meus cabelos voltem a nascer por conta de tal medida. E por fim, o ultimo objetivo da lista: “Vou levar as coisas mais a sério.” A vida não é esta grande piada que eu estou pensando, está na hora mesmo de eu levar as coisas mais a sério e, nada melhor do que começar com a minha listinha de objetivos para 2011. Feliz Ano Novo, caros leitores!
Rio Vermelho, 3 de janeiro de 2011.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Invasão natalina.
Todo ano é a mesma aporrinhação, chega a época do Natal e eles aparecem para me atazanar a paciência. Eu fico imaginando que mensagem o Criador está tentando me passar ao me enviar ratos para minha casa nas proximidades do nascimento de Seu filho. Enquanto nenhuma interpretação bíblica me vem à cabeça, resolvo me livrar deles, porque sou incapaz de machucar um bichinho que seja. Faço-o no melhor estilo Agatha Christie, envenenando-os com arsênico. Esta visita inesperada de roedores me deixou estressado e passei o dia mal humorado por sua causa.
Naquela mesma manhã, fui à loja de venenos para ratos e, como sou um amante de animais, tive a preocupação de pedir ao vendedor um veneno natural ou orgânico e que não fizesse mal à saúde dos bichinhos. Voltando para casa, espalhei as iscas pela casa e fora dela e, por via das duvidas, arranjei um porrete de madeira para enfrentá-los cara a cara caso cruzassem o meu caminho. Eu sou contra a violência, mas a situação requeria medidas extremas. Tenho um profundo nojo a ratos; Hollywood pode transforma-los nos seres mais fofinhos e queridinhos nas telas, mas para mim, eles sempre serão sinônimo da Peste Negra, aquela devastadora pandemia que assolou a Europa no século XIV, levando quase 75 milhões de almas a sete palmos da terra. Precisa dizer mais? Feito isto, não me restou mais nada se não esperar pelos acontecimentos. Passei o dia chateado e irritado com aquilo e só teria paz em minha alma quando despachasse os terríveis roedores em caixões para o Jardim da Saudade.
Felizmente à noite eu tinha planejado uma programação agradável que me traria alguma paz e me transportaria para um mundo de beleza. Iria com minhas sobrinhas pequenas ao concerto especial de Natal da Orquestra Sinfônica da Bahia. As meninas estavam muito animadas, pois um mês antes eu as tinha levado pela primeira vez a um concerto de musica clássica da mesma orquestra e elas gostaram tanto que pediram par ir de novo. Não era para menos, tocaram a 5ª. Sinfonia de Beethoven que impressiona qualquer marinheiro de primeira viagem. Eu acho importante incentivar os bons hábitos nas crianças como ouvir musica clássica, ler bons livros e falar mal do governo. Minha sobrinha de cinco anos começou a ler o “Guerra e Paz” que a presenteei de aniversário e ela está adorando! Enfim, às 18:30 estávamos todos banhados, perfumados e prontos para ir para o TCA e para lá rumamos. Chegamos à bilheteria uma hora antes do espetáculo e fiquei satisfeito ao perceber que não havia nenhuma fila, embora o fato de não ter fila fosse uma coisa triste de se ver, em si tratando de um espetáculo de musica clássica, significava que não haviam muitos interessados. Ao pedir os bilhetes à moça da bilheteria, ela me respondeu enfadonha que a sessão estava esgotada. Como assim esgotada? Estou falando de um concerto da OSBA, eu e minha família viemos dar uma força ao pessoal. Tudo foi vendido, os 1.800 lugares estão todos ocupados, ela explicou.
Fiquei perplexo, mas um concerto da OSBA lotado? Precisava de um plano B para minimizar frustração das meninas. Agi com rapidez, vamos ver um filme. Lembrei que no Espaço Unibanco estava passando um daqueles filmes infantis do qual tanto se fala, então estava decidido, corremos para lá a tempo de pegarmos a próxima seção. Mas ao chegarmos à bilheteria do cinema, fomos informados de que a seção começara há cinco minutos. Mas nem o meu pedido à moça da bilheteria para que o filme fosse rebobinado até o início ou que o projetista fizesse um ‘pause’ até chegarmos à sala de exibição foram acolhidos com indiferença. Compramos os ingressos e corremos para a sala e qual não foi minha surpresa ao lá chegarmos que além de nós quatro haviam mais três gatos pingados na sessão. Aquilo lá tava parecendo, sim, um concerto da OSBA! Ao me acomodar em meu assento e finalmente colocar os olhos na tela, fiquei perplexo com a visão da figura de um enorme rato falante com sotaque britânico empunhando uma espada! Aquilo só poderia ser uma praga contra mim. Não gostei do filme.
Rio Vermelho, 21 de dezembro de 2010.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
A gata serelepe e o cachorrinho
O fim de tarde contemplado da Praia de Santana é um espetáculo de maravilhar os olhos e acalentar o espírito, momento em que o sol despede-se do dia manchando o horizonte de tons alaranjados resplandecentes, ao sumir de vez no oceano. Para nossa satisfação, um por do sol jamais é igual ao outro, o que nos faz experimentar uma nova emoção a cada crepúsculo. Este final de tarde, lá estava eu mais uma vez para prestar homenagem ao astro-rei. O dia tinha sido um daqueles quentes de dezembro, mas àquela hora de fim de tarde, uma suave brisa vinda do oceano refrescava a praia indicando que a noite seria de temperatura menos severa.
Cheguei à Praia de Santana um pouco mais cedo, como de costume, e dei uma caminhada no calçadão que se estende ao longo da praia até a curva da Paciência e voltei para me sentar num banco de concreto em frente ao mar, próximo à quadra de esportes, para aguardar o grande momento. O ar cheirava a maresia e a algas. Não demorou muito e lá apareceu ela finalmente, trazendo o seu cachorrinho pela coleira, desfilando pelo calçadão toda serelepe. O que faz o por do sol na Praia de Santana tão agradável de se ver, é a chegada dessa menina desabrochando em mulher, passeando com o seu pequeno Poodle ao longo calçadão, verdadeira personificação das ninfas dos poemas gregos; menina-moça do corpo esbelto e aparência do frescor de uma flor recém colhida, cujo perfume exala juventude, e seu olhar perdido e distante não vê nada além do caminho à sua frente, ignorando a plateia que lhe assiste, talvez por insegurança da pouca idade ou autossuficiência. Para este passeio, se veste sempre com um vestidinho de cor alegre, sandálias de couro baixas e os cabelos largados que a tornam mais bela e malvada. Seu cachorrinho vai sempre à frente e parece uma composição de bolas de algodão de tamanhos variados, amaradas com um belo laço vermelho no alto da cabeça. Ela o segue logo atrás, com passos ligeirinhos de modelo desfilando na passarela.
Pois lá ia ela com o seu bonitinho nariz empinado, quando o destino pôs em seu caminho uma dessas sujeirinhas caninas desprezadas por um proprietário de cão relapso. Eu, sentado em meu banco admirando o seus passar, pude antever por fração de segundos o terrível acidente, mas não fui rápido o bastante para preveni-lo. Isso mesmo, ela pisou na merda. O seu mundo perfeito pareceu ruir, estragando o seu passeio vespertino e transformando-o num pequeno drama juvenil. Pude ver os músculos de sua linda face se contraírem e o brilho de uma lagrima surgir em seus olhos prestes a cair, segura apenas, senão, pelo seu orgulho ferido. Em seguida, a expressão de nojo fixou-se em seu semblante irradiando-se pelo resto do corpo. Como ela não vira aquela imundice? — repreendeu a si mesma, como se fosse dado a este tipo de mulher o direito de fazê-lo. E pela primeira vez ela olhou para os lados como um pedido de socorro e só então desta vez ela pareceu ser uma criatura indefesa e humana.
Reagi com instinto e meti a mão no bolso tirando de dentro um lenço de seda italiano estampado com arabescos monocromáticos, um capricho para limpar as lentes de meus óculos de armação Giorgio Armani, e, como um cavaleiro medieval, corri em seu socorro para livrar minha princesa de seus dragões imaginários. Ao aproximar-me, ela me pareceu menor vista de perto. Ofereci-lhe ajuda obsequioso, estendendo-lhe meu dispendioso lenço, mas ela pareceu não ter atinado minha intenção porque me estendeu o pezinho como um mudo pedido para que eu mesmo a livrasse daquele infortúnio. E como um humilde cervo agradecido por aquela oportunidade única de poder tocá-la, me ajoelhei diante dela e tirei delicadamente a sua sandália de couro deslizando suavemente a ponta de meus dedos sobre seu pezinho para, em seguida, limpar o dedinho sujo, o único. Só depois me ocupei da sandália e, em seguida, a pus de volta no pé que aguardava suspenso e estirado como se executasse um movimento de balé. Concluído o meu gesto de altruísmo, ela, então, me brindou com um meio sorriso e continuou o seu passeio sem desperdiçar comigo palavra, como de desconhecesse o significado da expressão "muito obrigada", com aquele seu andar e jeito de ser serelepe.
Rio Vermelho, 15 de dezembro de 2010.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Sortilégio do amor
Meu vizinho J.R. está sofrendo de paixão aguda. Há semanas, anda amuado e suspirando pelos cantos com olhar de cão abandonado que dá dó. Ao cair da noite, ele senta-se na varanda de casa na companhia de uma garrafa de uísque ordinário e do mesmo velho disco de vinil de tangos que se repete na vitrola sem parar. Olhar solitário, contempla a esmo o firmamento e, ao pousar os olhos sobre a misteriosa lua, solta uivos feito um lobo ferido e chora copiosamente a perda do grande amor. Se há algo de irônico nesta tragédia romântica, na qual ele é o protagonista, é que ele caiu numa armadilha do amor, ao provar de seu próprio veneno.
Seu calvário teve início no momento em que ele conheceu uma moça de nome Lucinda, na aula de Tai Chi Chuan que frequentava duas vezes por semana ali no Quartel de Amaralina. A criatura era desprovida de dotes físicos que atraíssem para si a cobiça masculina, não era lá o tipo que os homens olham mais de uma vez, mas, para sua sorte, J.R. não era um cara exigente e nem ligava para estas coisas de beleza. Apesar de sua feiura natural, Lucinda era talentosa na arte de virar as cabeças masculinas, quem sabe ela possuísse algum poder mágico.
J.R. e Lucinda logo se tornaram amigos e cedo descobriram que tinham muito em comum, sabe como é, aquela velha estória. Não demorou muito até que aquela saudável camaradagem fosse parar ao pé da cama. E na cama continuou com a gula de quem teme que fazer sexo fosse sair de moda. Apesar daquele furor, nenhum dos dois jamais falava em assumir algum compromisso ou coisa do tipo, pelo menos era o que J.R. lia nas entrelinhas. Mas onde já se viu mulher sair dando por aí, sem querer laçar o fulano? Para a alegria de ambos, aquela farra lasciva virou um hábito semanal como ir à missa de domingo. Toda quinta feira, depois de bater o ponto no serviço, Lucinda vinha bater o outro ponto aqui na casa dele no Rio Vermelho. No começo, aquela novidade era recebida por J.R. com entusiasmo e um largo sorriso, afinal, quem não gostaria de uma visita daquelas? Ele abria a porta para ela, e ela entrava até a manhã do dia seguinte. A vida não poderia ser mais prazerosa.
Como tudo que é bom, um dia enche o saco, depois de algum tempo curtindo aquelas visitinhas semanais, no entanto, J.R. começou a ficar incomodado e a se perguntar onde aquela farra iria chegar, se é que deveria chegar a algum lugar. Não que ele conjecturasse assumir algum compromisso com a moça. Pelo contrário, o seu interesse por Lucinda esmoreceu depois que ele lhe desvendou os segredos. Então, ele passou a não demonstrar mais tanto entusiasmo por ela, como se o encanto pela moça tivesse virado uma nuvem que se dissipou pelo espaço. No entanto, ela pareceu não ter percebido tal mudança no comportamento do rapaz e, se o fez, não deu lá a importância devida, continuou comparecendo ao endereço aqui do Rio Vermelho, religiosamente. Por outro lado, mesmo estando enjoado de Lucinda, J.R. aceitava os seus favores de bom grado, afinal, que mal haveria se ambos eram adultos e estavam se divertindo? Contudo ele não fazia nenhum esforço para ocultar que não estava mais nem aí para ela. Tratava-a com indiferença e nunca a procurava, mas jamais era rude com ela ou se quer lhe dizia coisas ruins. Será que há coisa mais maligna que um tratamento indiferente e cordial? Talvez tal ambiguidade a levou a imaginar que J.R. apenas tivesse com constipação intestinal.
Finalmente, um dia o amor próprio da moça a fez despertar de sua cegueira, levando-a a perceber o descaso do amante. Não disse nada, sofreu resignada, calou o pranto. Lucinda, ferida em seu orgulho, então, resolveu vingar-se. Longe do que imaginou J.R., ela estava, sim, era muito apaixonada por ele. Homem é que é mesmo um bicho burro, não se apercebe de nada. Pois, como uma verdadeira bruxa, imagino que ela deve ter lhe preparado alguma porção mágica que secretamente pôs em sua comida; não duvido, também, que tenha lhe jogado um feitiço, eu mesmo já fui vitima desses sortilégios e sei que eles existem fora dos livros de contos de fadas. O fato é que Lucinda serviu a J.R. o prato frio da vingança, deixando-o em estado lastimável.
O plano de Lucinda teve início quando ela começou por não passar mais a noite sob os lençóis de J.R. Em seguida, reduziu a frequência de suas visitas até, finalmente, sumir do mapa. Ele, então, intrigado com aquela sua súbita mudança de atitude da generosa moça, passou a procurá-la, ao que ouvia de sua boca a mesma surrada e velha desculpa de que ela andava muito ocupada — será que esta ainda cola? Desejava muito ir vê-lo, mas estava tão ocupadinha, dizia. Sua vida era tão ocupada...
Ao invés de se dar por satisfeito com o sumiço da moça —não era isso, mesmo, que ele almejava? — J.R. teve uma reação contrária, ficou inquieto e passou a criar caraminholas na cabeça por causa do comportamento de Lucinda. Estes seu pensamentos nebulosos passaram a lhe atormentar as ideias e a lhe tirar o sossego. Lucinda passou a povoar os seus pensamentos dia e noite sem parar feito alguma moléstia. Todas as manhãs, ela lá já estava para lhe atormentar o juízo quando ele despertava, e, também, estava igualmente presente, antes de ele cair no sono à noite, quando ela lhe visitava em seus sonhos noturnos como uma assombração. Não havia um segundo do dia que ele não parasse de pensar naquela mulher diabólica, a coisa tinha virado uma verdadeira obsessão. Seja lá o que Lucinda aprontou para J.R., a coisa funcionou.
Lucinda sumiu para todo o sempre, que ela não estava blefando só para ganhar o amor de J.R. Provavelmente ela encontrou o homem dos seus sonhos, e agora o visitava todas as sextas-feiras ou outros dias santos da semana. Mas J.R. ainda tem esperança de que um dia ela venha bater à sua porta tal como fazia antigamente. Quem imaginou ver um final feliz de tudo isso, aviso que este não é nenhum conto de fadas.
Rio Vermelho, 3 de dezembro de 2010.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
De olho no retrovisor.
Sábado fez um bonito dia de sol primaveril e, no final da tarde, não resistindo àquele clima de chegada de verão, fui na Paciência, aqui perto, dar um mergulho. Era a primeira vez que eu voltava à praia desde que o verão se foi na ultima temporada. O mar estava sereno, formando suaves ondas que iam e vinham combinadas com uma agradável brisa que soprava em minha direção, convidando-me a cair na água. Tirei a camisa que deixei na areia e mergulhei na água de uma só vez, sendo surpreendido pela água deliciosamente fria. Um peixe grande quase se esbarrou em mim e fugiu fazendo zig-zag. Pensei que fosse um tubarão, mas como eu ainda continuava inteiro, presumi que fosse apenas um desses peixes vegetarianos. Fiquei ali na água revigorando minhas energias naquela enseada que me fazia eu me sentir num paraíso, até que a visão do sol se pondo do outro lado da praia me fez sentir em comunhão com a natureza. Havia tempos que não me sentia assim tão largado. Olhei em volta e percebi que não deveria haver mais que meia dúzia de pessoas na praia naquela hora, o que aumentou a minha satisfação.
Quando o sol se pôs finalmente, peguei minhas coisas e fui-me embora. Havia ainda uma nesga de luz do dia, apesar do sol já ter se escondido. No caminho a pé de volta para casa, passei pela quadra de esportes e vi uma cena que me causou nostalgia dos tempos de criança. Um pai ensinava aos seus dois meninos pequenos a jogar gude. Quando foi a ultima vez que vi alguém jogando gude eu já nem mais me lembrava, mas fiquei surpreso com aquela cena que eu pensava não existir nos tempos de internet e do vídeo game. Fiquei comovido e ao mesmo tempo lisongeado de estar presenciando aquela cena de fortalecimento da relação entre pai e filhos. Era uma cena intima domestica, apesar de estar sendo praticada em espaço publico.
Aquela cena, tão rara hoje em dia, me fez eu me perguntar aonde foram parar os peões, os ioiôs, as arraias, os carrinhos de rolimã, os carrinhos de carretel, a picula e o esconde-esconde? São brinquedos que meus sobrinhos pequenos nunca ouviram falar, deixados de lado por nossa falta de tradição e pela impossibilidade de, nos dias de hoje, os pais não mais deixarem os filhos brincarem na rua. Eu não sou um cara que vivo de olho no retrovisor, mas houve um tempo em que as crianças de classe média brincavam à vontade na rua, os muros das casas eram baixos e não existiam grades nas janelas. Estas são coisas que eu mais sinto falta do passado e que eu desejaria que um dia voltasse ao presente, e, quando isto acontecer, muito provavelmente virão juntos as bolas de gudes, os peões e tudo mais, pois, estas deixaram o cenário porque hoje em dia as únicas crianças que vemos nas ruas são aquelas que foram abandonadas pelos adultos na rua à própria sorte.
Rio Vermelho, 23 de novembro de 2010.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Atraindo o gosto da freguesia
Feliz o Sr. JR, um próspero comerciante aqui do bairro, um bem sucedido proprietário de uma loja, uma venda de frutas e verduras frescas, e pai de duas belas filhas que lhe ajudam, e como ajudam, no negócio familiar. O Sr. JR, além de ser um homem muito trabalhador é também um fiel seguidor da palavra do Senhor e, por isso, tem no Livro Sagrado os ensinamentos que conduzem a sua vida pelos caminhos da moral e dos bons costumes.
Mas, no início, o seu negócio passou por uma provação. Apesar de todas aquelas suas qualidades morais, carecia ao Sr. JR o refinamento no trato com o público. Não que ele fosse um homem grosseiro, isto ele não era, ao contrário, ele tratava sua clientela com educação, mas é que lhe faltava uma certa simpatia que a seduzisse a voltar ao seu estabelecimento mais vezes. Expressões tão mundanas e civilizadas como "bom dia!" e "obrigado e volte sempre" parecia não fazer parte de seu restrito repertório, que se resumia a informar ao cliente o valor total da compra ou emitir grunhidos em lugar de palavras, só abria a boca para falar quando inquirido. Tanto refinamento assim foi afastando aos poucos sua clientela, que preferia comprar em outra venda não muito longe dali e que, apesar de não oferecer à sua freguesia tanta variedade e qualidade, tinha em seu proprietário toda a dose de simpatia de que necessitavam para tornar o seu dia um lindo dia. E assim, o Sr. JR viu a sua clientela minguar aos poucos sem, no entanto, saber qual o motivo daquela debandada.
Certo dia, o Sr. JR achou por bem chamar as suas duas belas filhas para trabalhar com ele na loja, convencido que estava de que seu revés relacionava-se à falta de ajudantes e não à sua completa falta de polidez a qual ele era incapaz de perceber, obviamente. As moças, que eram estudantes universitárias e levavam o estudo muito a sério, se revezavam na loja, de modo que uma ajudava o pai no período da manhã e a outra pela tarde. Havia, porém, um aspecto sobre um dom nato daquelas moças que chamava atenção. Elas eram duas mulatas deliciosas como manga roubada no quintal do vizinho, dos beiços carnudos e de modos lascivos, sem, no entanto, o pretenderem. Elas atraiam inconscientemente os olhares cobiçosos dos homens com seus formosos corpos que o Criador, generosamente, arranjou para abrigar as suas almas. Aquele seu jeito parecia uma coisa natural de berço, que a sua religião rígida não lhes permitia tais libertinagens. Seus bem talhados corpos eram verdadeira tentação, pois possuíam seios que não eram nem minguados ou fartos, na proporção exata, e que de tão duros como coco seco, espetavam a fina blusa de malha justa dando a impressão que a qualquer instante pulariam para fora. A bunda, esta sim, era um capítulo à parte. Cada banda era do formato de uma melancia, amparadas por um par de coxas roliças como berinjelas e agasalhadas por minúsculos shortinhos de pano fino que pareciam não dar conta de conte-las. Era assim que se vestiam diariamente e despretensiosamente para irem ajudar o querido pai na loja. O pai não aprovava aquele tipo de roupa, que considerava ser indecente, mas não dizia nada, pois, a final, as filhas eram mulheres adultas universitárias e não cabia mais a ele dizer-lhes o que vestir, e nem elas viam nenhum mal naquilo. Aquelas duas presenças divinas na quitanda paterna faziam o jiló ficar açucarado e o alface ser mais que uma folha insípida.
Cedo, a ajuda das filhas provou-se eficaz, não só porque o Sr. JR pôde economizar algum dinheiro ao não contratar ajuda externa, como também as duas filhas se mostraram excelentes em atrair nova freguesia apesar de que, semelhante ao pai, e talvez de forma mais branda, elas estivessem longe de ganhar qualquer concurso de Miss Simpatia. Elas simplesmente não eram de dispensar sorrisos fáceis ou de conversa fiada. Em compensação, seus corpos tentadores e suas indumentárias justíssimas nas carnes e econômicas nos panos, atraiam para dentro do estabelecimento uma clientela assídua de marmanjos que se comprazia em escolher demoradamente molhos de temperos ou meia dúzia de frutas. Mas tal frequência não incomodava as moças, que eram rápidas e se movimentavam de um lado para o outro da loja remexendo aqueles quadris ou se abaixando ou se esticando para pegar mercadorias em prateleiras rentes ao chão ou acima de suas cabeças, oferecendo um espetáculo de encher os olhos de gula, arrancar suspiros e até de levantar defunto! O pai, por sua vez, só tinha os olhos para o movimento do caixa, que se resumia num pequeno saco plástico cheio com notas de dinheiro dobradas e moedas que tirava e metia de volta no bolso conforme a necessidade.
Como o trabalho árduo traz seus bons frutos, não demorou muito até que a clientela voltasse a encher a loja como nos bons tempos de fartura. No entanto, desta vez, esta se compunha desmedidamente de homens; homens de todos os tipos, velhos, jovens, trabalhadores, aposentados bonitos e feios, gordos e magros. Mesmo assim, o Sr. JR estava tão feliz com a melhora dos negócios que não deu importância àquele detalhe. Contudo, satisfeito com o retorno da saúde de sua loja, não demorou muito até que mandasse as filhas de volta para casa, para que se dedicassem aos estudos e, também, porque não as queria se expondo mais àquela corja de homens. Substituiu a ajuda das agradáveis filhas por um funcionário de tempo integral uma vez que já podia pagar por ele. Contratou, portanto, uma moça da mesma idade das filhas e que frequentava a mesma igreja que a sua.
Embora a moça contratada não tivesse os mesmos dotes físicos que as suas filhas, no quesito simpatia, se mostrava mais qualificada que elas e, também, ao contrario das filhas, era mais comedida em sua indumentária de trabalho, indo para o serviço vestindo uma blusa antiquada que lhe cobria quase à altura do pescoço, mas que lhe deixava à mostra os gordos braços. Usava, também, uma saia azul de tecido grosso que chegava até quase ao tornozelo. Seus longos cabelos negros eram presos no alto da cabeça por um coque, lembrando a avó de alguém. De imediato, a clientela sentiu aquela brusca mudança no staff da loja como uma traição. Subitamente, para a marmanjada, comprar frutas, verduras e hortaliças já não era assim mais tão agradável. E, mais uma vez, a clientela foi batendo em retirada. Quando inquirido sobre suas filhas, o comerciante respondia vagamente que elas estavam em casa estudando. Desapontados, os homens não mais voltavam.
Não demorou muito até que a situação da loja voltasse aos tempos de penúria, e para que o Sr. JR percebesse, desapontado, que ao final do dia, o seu saco de dinheiro estava minguado. Isto o fez matutar para encontrar o erro. Coçou a cabeça andando de um lado ao outro da loja e terminou se rendendo aos fatos que preferira nega-los. Chamou suas duas meninas e seus shortinhos mais uma vez para o trabalho e dispensou a recatada ajudante. Agora sim, a loja vai bem, obrigado. Este é um daqueles casos que negam o bom senso e comprovam o pragmatismo nos negócios, ao usar a carne como isca para atrair a freguesia para dentro de uma loja de vegetais, ainda que os prazeres da carne contrariem as Palavras Sagradas. Nunca o Sr. JR nunca imaginara que para vender mais frutas e verduras teria, também, de mostrar um pouco de carne!
Rio Vermelho, 11 de novembro de 2010.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Nunca te vi antes, cara pálida.
Uma dentre as muitas coisas que me intrigam no peculiar comportamento das mulheres, é a súbita perda de memória a que, algumas, são acometidas quando elas se encontram casualmente com um amigo, estando elas acompanhadas de outro homem, obviamente. Aquele amigo, repentinamente tem o seu status rebaixado para a condição de um mero conhecido, que pode até se tornar um completo desconhecido, no caso de o pimpolho ao seu lado for um cara cismado. Isto quando elas não o ignoram completamente. Por que será que isto acontece?, fico matutando. Lembro de já ter visto coisa parecida na minha adolescência, mas será que algumas mulheres adultas continuam sendo ainda tão imaturas como nos tempos de escola?
Na ultima sexta-feira, resolvi dar uma volta pela noite do Rio Vermelho; eu que quase nunca saio de casa à noite, confirmei aquilo que já sabia de antemão: não estou perdendo nada ficando em casa. Imaginem que os passeios, aquelas vias destinadas exclusivamente aos pedestres, estavam ferozmente transformados por automóveis em estacionamento, não nos deixando outra alternativa se não a de fazer malabarismos no meio rua em meio ao interminável congestionamento do bairro, causado por sua fama boemia. Em alguns pontos dos mesmos antiquados passeios, proprietários de bares e restaurantes jogam ali o lixo produzido em seus estabelecimentos. Imagine como devem ser suas cozinhas! Como se não bastasse tal demonstração da civilidade baiana, ruas e largos onde os boêmios se concentram, cheiravam terrivelmente a excremento humano, levando-me à incomoda conclusão de que eles se aliviam ali mesmo onde estão, enquanto conversam animadamente entre amigos. Some-se a isto latas de bebidas, copos descartáveis e restos de comida que encontram o seu lugar cativo no chão em meio ao publico. Isto é aquela qualidade que o baiano tanto se orgulha de possuir e a que chamam de "espontaneidade". Se deu vontade, então porque perder tempo procurando esta coisa tão démodé como um banheiro, se podem fazer ali mesmo enquanto confraternizam? Nada mais pitoresco.
Pois bem, e lá ia eu por uma ruazinha curtindo a agradável brisa de uma noite de outono com o firmamento estrelado e o odor da espontaneidade baiana por todos os lados, quando encontrei com JR. Eu e JR não somos exatamente grandes amigos ou mesmo amigos, destes de sairmos juntos ou de nos telefonarmos para jogar conversa fora. Eu, particularmente, não gastaria nenhum dos meus créditos telefonando para ela — por completa falta de assunto — assim como ela certamente não o faria comigo. Quando muito ela está entre os meus "amigos" do Facebook — e não adianta procurar por lá por uma JR pois não vai encontra-la! Não importa como viemos a trocar palavras pela primeira vez, mas é fato que sempre que nos encontramos nestas raras ocasiões em que faço um périplo pelo bairro, sempre nos cumprimentamos efusivamente com beijos e abraços e toda sorte de conversa fiada tão comum para quem não tem exatamente nada mais para dizer um para o outro. Mas desta vez, no entanto, ela não pareceu lá muito entusiasmada em me ver, nem me chamou de "Cris" como das outras vezes. Foi uma recepção glacial com um seco aperto de mão, daqueles que faz agente pensar que a mão do outro talvez esteja contaminada pelo vírus da hipocrisia e que ela estivesse receosa em passar aquilo para mim. Fiquei intrigado com aquele tratamento, mas logo percebi a presença de um sujeitinho ao seu lado. Já estava explicado, ela estava "acompanhada". E alguma coisa em sua mente equivocada lhe dizia que não deveria falar com "estranhos". Aquela atitude me pareceu cômica, quando é que eu me tornei ameaça para algum outro homem? Logo eu, que a cada ano fico mais careca e barrigudo e quase um invisível para as mulheres? Aquela breve sensação de ser um concorrente para alguém foi uma massagem em minha autoestima mas, no entanto, deixou-me intrigado. O que será que se passa na cabeça de uma mulher numa hora destas?
Eu gostaria que alguém me explicasse mais este comportamento incompreensível entre os sexos. Será que passa pela cabeça da mulher que nós homens vamos justamente aproveitar a oportunidade que ela está acompanhada para saltar em seu pescoço feito um vampiro? Ou que pretendemos revelar ao seu acompanhante algum segredinho de sua vida pregressa, se por acaso soubéssemos de algum? Ou, na pior das hipóteses, — longe de ser o meu caso — que vamos roubar o seu namoradinho? Seja lá o que for, provavelmente uma mulher adulta e segura de si cumprimentaria o seu amigo ou conhecido e até o apresentaria ao seu acompanhante. Sem dúvida, uma demonstração de que ela sabe se relacionar com pessoas e tem muitos conhecidos e amigos. Parece-me que esta é a atitude mais civilizada e evoluída.
Uma querida amiga carioca, no entanto, uma mulher resolvida e sensata, e que guia o seu destino e o de outros pelos astros, disse-me que já viveu situação semelhante, mas que não deixou por menos. Conta ela que quando se batia casualmente com uma certa amiga, e esta estava acompanhada de seu esposo, um sujeito de aparência cansada e olhar enfadonho, ela simplesmente a ignorava! Fingia que não a conhecia, nunca a vira antes em toda a sua vida. Certa vez, conta ela, estava num boteco em Ipanema alegremente com amigos e eis que esta sua amiga veio lhe falar, porque, obviamente o marido tinha sido deixado em casa e por isso ela se sentia segura para falar com "estranhos", ao que ela indagou-lhe mostrando sua indignação: "porque quando você está com o seu marido você não fala comigo? Vê se cresce, garota, pois eu tenho mais o que fazer! Vê se me esquece e não fala mais comigo, tá?" Choquei-me com aquele seu comportamento grosseiro, por saber dela ser uma mulher refinada e educada, apesar de não lhe negar a razão. Ela me explicou: "Quando eu sou boa, eu sou muito boa. Mas quando sou má, sou melhor ainda!"
Rio Vermelho, 4 de novembro de 2010.