sábado, 28 de maio de 2011

Um espécimen em extinção

Está cada dia mais difícil de se encontrar uma empregada doméstica que seja, boa ou ruim. Segundo o ex-deputado Delfim Neto, “quem teve este animal, teve. Quem não teve, nunca mais vai ter.”, que o brasileiro não sabe viver sem esta comodidade que remonta os tempos das senzalas. Em pleno século XXI e passados mais de 120 anos da Abolição, ainda carregamos o velho ranço daqueles obscuros tempos, que é o de sempre termos à nossa mão um servo ao nosso bel dispor dentro de nossa própria casa. Alguém que não apenas cozinhe, mas dê também uma geral na casa, vá pegar as crianças na escola e dê o almoço delas, e as eduque – e as ature - um pouco até a hora dos responsáveis reassumirem a paternidade. E seja conselheira sentimental da filha adolescente que está passando por uma fase difícil, pois tem dúvidas se perde a virgindade com a sua melhor amiga ou com o namorado. Que lave umas roupinhas e passe o ferro em outras, e pregue o botão de uma camisa do doutor fulano. Que vá até o banco pagar umas contas ou acompanhe a madame ao supermercado, para empurrar o carrinho porque ela não consegue tirar os produtos da prateleira, pôr no carrinho e empurrá-lo ao mesmo tempo, ou a acompanhe na ida à feira carregando as pesadas sacolas feito uma mula de carga, enquanto a digníssima já tem trabalho demais carregando a sua Louis Vuitton. E se não for pedir muito, que jogue uma água no carro do patrão e dê uma boa esfregada nos tapetes que estão precisando. Mas o almoço deve sempre ficar pronto ao meio dia. A figura da empregada domestica está tão arraigada em nossa sociedade que até influencia a arquitetura de prédios residenciais ao estabelecer um certo elevador de serviço que evita misturar empregadas com finos moradores, ou cria um cubículo apertado nos fundos da habitação, tendo apenas uma fenda na parede em lugar da janela — onde ninguém de coração ousaria por o próprio cão — e o batizou candidamente de quarto de empregada.

A senhora JR mandou vir da roça uma “menina” para ajudá-la no serviço de casa, pois não dava conta de ser mãe de três lindas crianças, esposa maravilhosa, dona de casa perfeita, funcionária publica exemplar e ela mesma em constante crise existencial. Semanas depois, a “menina” chegou. Chamava-se Daiana Aparecida. Era do tipo tímida e calada, mas logo demonstrou ser muito trabalhadora e rápida de aprender o serviço. Não tinha mais que vinte anos e a compleição de seu corpo era de uma mulher saudável e forte. E se por falar em seu corpo, este merecia atenção especial, pois a moça era uma delicia de se por os olhos... e as mãos, também. Sua pele era macia e delicada como a do figo e da cor do açúcar queimado. Os olhos eram grandes e da cor de amêndoa, e os cabelos, estes eram sarará, assanhados como os de alguém que tivesse sido atingido por um raio. Seu cheiro, hummm... era delicioso como o de terra e palha molhada. Ela logo chamou a atenção de tudo quanto era marmanjo que tinha o prazer e a sorte de cruzar em seu caminho, mas não dava bola pra nenhum deles pois não era moça disso, e nem daquilo. Ao contrário, ela era muito da caseira, gostava de trabalhar ouvindo o ràdio e assistia a tevê quando lhe sobrava algum tempo, pois serviço era o que não lhe faltava. Seu ‘job description’ incluía desde tudo até quase tudo, de modo que a patroa, ao voltar para casa à noite, encontrava a casa toda limpa e cheirosa, o chão encerado, a cozinha brilhando com um jantar delicioso — a "menina" encontrou um exemplar do livro de culinária “Dona Benta” e nele mergulhou no mundo dos sabores e temperos — aguardado sobre o fogão para ser consumido pela família, e as crianças de banho tomado depois de chegarem da escola. Tudo parecia perfeito e todos estavam felizes. A senhora JR se sentia como se tivesse ganhado o prêmio na "Mega sena" e, até o marido, que era um sujeito meio carrancudo, andava com um sorriso de satisfação nos lábios.

Sobre este sorriso dele, ela começou a ficar intrigada quando ele passou a não solicitar os seus favores com a frequência que lhe era habitual e quando isto acontecia ela percebeu que havia uma certa escassez do produto de seu afeto. Será que havia alguma coisa com ele, um problema de trabalho que ele não lhe revelava, talvez? Mas ele parecia tão bem humorado ultimamente, talvez fosse outra coisa. E essa outra coisa ficou martelando na cabeça da madame até que um certo dia ela achou por bem não tomar seu comprimido para insônia pois queria estar bem acordada para investigar o que se passava sob o seu teto depois que tombava no sono como efeito do poderoso sonífero.

Como era de se esperar, naquela noite, a insônia veio fazer companhia às preocupações da senhora JR. Ao invés de se sentar na cama para ler um livro, como sempre fazia neste caso, ou ir na sala ver um daqueles bons programas evangélicos de madrugada a dentro que tanto fazem bem para chamar o sono, ela, no entanto, ficou quietinha na cama fingindo-se de morta. E no meio da noite, o doutor fulano chamou suavemente pelo seu nome e como ela não respondesse, ele levantou-se e foi, na pontinha dos pés, para fora do quarto. A senhora JR deixou o tempo passar e como ele demorasse, foi investigar o motivo da delonga. Não o encontrou vendo tevê, nem em seu escritório e tão pouco na cozinha. Mas percebeu uma estanha agitação no quartinho dos fundos. Pelos sons familiares que vinham lá de dentro ou alguém estava sofrendo muito ou se divertindo horrores. Para ter certeza do que seus ouvidos lhe diziam, ela pôs a mão na maçaneta e a girou escancarando a porta. E o que presenciou a deixou indignada. Lhes pouparei dos detalhes sórdidos daquela cena imoral que remonta os tempos do senhorzinho satisfazendo os seus lascivos desejos na senzala. Um misto de revolta e ciúmes dominou a senhora JR ao ver que do jeito que seu esposo fazia na “menina”, ele jamais tinha feito ou tentado nela, e nem nenhuma freira do Colégio Sagrado Coração lhe avisara que aquilo era ilegal ou não, mas de qualquer forma, uma mulher respeitável como ela nunca se rebaixaria a tanto, embora não lhe fizesse mal algum dia experimentar aquilo pelo menos uma vez por ano, em alguma data comemorativa, mas que não fosse em nenhuma data Santa que aquilo seria uma heresia.

A senhora JR sofreu com aquela punhalada, logo executada sob o teto sagrado de seu lar, logo a “menina”, tão trabalhadora e eficiente, sua melhor empregada, que nunca na vida ela iria encontrar outra igual, ainda mais que mulher nenhuma queria mais trabalhar como doméstica. Como é que agora ela ia se virar sem a sua excelente serviçal? Vislumbrou o futuro e viu o caos em sua vidinha de madame de classe média sem uma criada. Mas ela era uma mulher de caráter e de decisão, faria o que era o moralmente correto mesmo que isto lhe causasse algum sofrimento. Não teve dúvidas, mandou o marido embora! Que homem como ele era o que mais se encontrava, mas uma boa doméstica era insubstituível.
Rio Vermelho, 27 de maio de 2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Adônis ao contrario

A minha feiura é extrema e a tal ponto de meus olhos se recusarem a acreditar no que estão vendo e, não é à toa que quase nunca me olho ao espelho, para não ter de encara-la todo santo dia. Ela chega a ser antiecológica e, por isso, vivo com o temor de ser multado pelo IBAMA por agressão ao meio ambiente. Entretanto, eu jamais moveria um único dedo para modificar este meu flagelo, sob pena de eu me transformar em outra pessoa ou num embuste. Ele faz parte da minha historia de vida e identidade, não tenho como reescreve-la. Seria como tentar apagar o meu passado, quando muito, eu conseguiria empurrá-lo para debaixo do tapete, mas como não sou nenhum presidente da republica ou político, deixo como está. Se a pessoa não consegue aceitar como ela é, engana-se ao pensar que algumas intervenções cosméticas irão realmente melhorá-la, não, pelo menos, como pessoa. A bondade, a humanidade, a correção de uma pessoa estão escondidos debaixo de sua epiderme e, poucos são aqueles privilegiados que têm o dom de enxergá-la.

Não tenho hábito de tomar o café da manhã assistindo TV, porque acho isso uma péssima maneira de se começar o dia, assistindo noticiários que primam pelo mau gosto ou enfadonhos programas que se propõem direcionados ao publico feminino, que ensinam a fazer pratos maravilhosos aproveitando as sobras do dia anterior ou dão dicas de economia domestica inúteis. Neste dia, porém, encontrei o aparelho ligado quando cheguei na sala e não me dei ao trabalho de desliga-lo enquanto comia o meu desjejum. Enquanto devorava meus ovos mexidos com crocantes torradas integrais, acompanhados de um delicioso e natural suco de laranja em caixa, ouvia a voz de um rapaz sendo entrevistado e, só depois de algum tempo fixei meu olhar no aparelho e minha atenção no programa, não tanto por ser um assunto de interesse, mas por sua bizarrice.

O entrevistado daquela gloriosa manhã era um desses ratos de academia, tão comuns nos dias de hoje. Seu corpo, muito atlético, era coberto por uma fina camisa regata para deixar à mostra a musculatura estufada e dura. O vocabulário era limitado, mas perfeitamente compreensível sem a ajuda de um interprete. Seu rosto tinha um olhar sereno e um sorriso que lhe conferia uma expressão meio parva. Na verdade, havia algo de muito perfeito e ao mesmo tempo pobre de expressão em seu rosto que me fazia lembrar as capas de revistas masculinas nas quais celebridades sofrem uma maquiagem virtual que nos faz ter duvidas de quem realmente sejam aquelas pessoas. Com redobrado orgulho ele contava sobre as intervenções que fez no corpo para transformar o raquítico e tímido jovem da foto que era exibida enquanto ele falava diante das câmeras, naquele monumento atlético no qual ele fora transformado.

Assim como muitas mulheres recorrem a implantes nos seios para ficarem mais exuberantes, ele fizera semelhante, poupando suor na academia, aumentou o tórax, disse sorridente. Parecia aquela sinistra e deliciosa ave “chester”, de peito avantajado e estufado que comemos na ceia natalina e que não existe na natureza e sabe-se lá de que mundo é que veio. Mas, para que o resultado de sua intervenção do peito não ficasse desproporcional com o resto do corpo, aplicou, também, silicone nas coxas para engrossa-las, na batata da perna e na bunda – no lado exterior dela, me refiro - que esta era muito minguada e não chamava a devida atenção, explicou. Eu nunca havia reparado, antes, em bunda de homem, mas agora ao ver uma redonda e bem torneada vou suspeitar que seja de silicone. Quando o seu corpo adquiriu as formas de um Adônis da modernidade, ele partiu para dar um jeito no rosto que não era feio assim, mas apenas não combinava com a expressão de “bad-boy” que queria causar com a sua nova imagem. Diminuiu a testa, não compreendi exatamente como, mas, talvez isto seja uma operação simples quando se tem o crânio oco como o dele. Acrescentou mais um pouco de silicone ao redor do queixo e estava pronto! Ficou com cara de alguém que sofria de constipação intestinal.

Meus caros, muitas horas de academia foram poupadas com as manobras do mestre do bisturi. Tanto esforço assim ele explicava, era para ingressar no mundo do cinema como ator de filmes de ação que, como todos sabem, o Brasil é um dos maiores produtores do mundo. Passados três anos de sua metamorfose, ainda não pintou aquele convite para fazer o tal filme e também nenhum outro. Mas ele está muito satisfeito com o seu novo corpo e garante que sua vida mudou para melhor. Enquanto aguarda ser “descoberto”, exibe o seu corpinho todas as sextas e sábados à noite como “go go boy” numa boate no centro de São Paulo.

Eu, por outro lado, devo admitir que eu não fui totalmente honesto com vocês. Sou um ser humano todo cheio de defeitos e me deixei levar pela vaidade... Certa vez, li um artigo de uma psicóloga conclamando a mulherada a namorar os barrigudos e discorria em seu texto sobre todas as vantagens e utilidades desse peculiar gosto. Que homens de verdade são os barrigudos, estes são fofinhos, confortáveis de deitar em cima e, se sabem cozinhar, não deviam deixar escapa-los pois dariam prazer tanto na mesa como na cama! Não são exibicionistas, estão sempre bem humorados porque não fazem dieta alguma e são ótimos amantes. Eu me animei, já estava cansado de minha vida de atleta malhando em academia, da minha barriga modelo tanquinho e de todas aquelas dietas. Fui num especialista e paguei para que ele implantasse em mim uma bela barriga de silicone estilo barril de cerveja! Nunca fiquei tão feliz na vida. Agora, só estou esperando para ser descoberto pela mulherada, mas esta parte terá de esperar até a próxima encarnação, e que não está muito longe!

Rio Vermelho, 17 de maio de 2011.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Don Juan de Laranjeiras

Sou fã de mulheres que transgridem normas sociais, interpretando ao pé da letra e sem rodeios a tão falada igualdade entre os sexos e, ainda, a colocando em prática dia-a-dia, desprezando os papeis convencionais que a sociedade lhes impingiu. São estas mulheres que transformam o mundo e abrem o caminho para as menos aguerridas. A igualdade entre os sexos deveria, era sim, se extrapolar para além dos direitos trabalhistas e do mercado de trabalho, para ser de verdade mesmo.
Certa vez, num passado recente, uma moça me abordou no balcão de um bar e se ofereceu para me pagar uma cerveja. Aceitei desconfiado, que nunca ninguém jamais se ofereceu para me pagar coisa alguma até então e, quando geralmente uma mulher bonita me aborda, ou é para pedir a direção de uma rua ou para me avisar que o cadarço do meu tênis está solto. Mas, para minha alegria, depois de um papo agradável, ela pediu o meu numero de telefone dizendo que gostaria de me convidar para dar um passeio de carro qualquer dia. Vocês devem estar pensando que eu entrei numa fria, mas eu tive a mesma dúvida. Antes de lhe passar o meu número, entretanto, quis me certificar se ela era uma mulher nascida de berço, sabe. Há muita pirataria transitando por aí, como sabem, e a menos que os chineses tenham feito um cópia perfeita, aquela era uma mulher tão autentica como um bom uísque escocês, que não causa dor de cabeça e nem arrependimento na manhã seguinte!
Eu lhes falarei sobre Corina, uma bela e voluntariosa e pálida jovem de olhar aflito e expressão sisuda que encontrei numa agradável manhã na São Salvador, no Flamengo, embora residisse em Laranjeiras, não muito distante dali. Sentei-me ao seu lado num banco de alvenaria, para ouvir a costumeira sessão de chorinho que acontece na praça aos domingos... Corina sentia-se como se fosse a única mulher no mundo quando estava em companhia de JR porque realmente ele sabia como faze-la sentir-se uma pessoa especial. Ele lhe enchia de mimos, carinhos e elogios, levava-a para jantar em lugares da moda, chamava-a de modos gentis e carinhosos como minha gatinha, minha linda e coisas desse gênero que embevecem qualquer alma feminina, enfim, não tinha como resistir a seus encantos. Depois que conheceu JR, o mundo se tornou um lugar incrivelmente maravilhoso, cada folha, cada galho, cada criaturinha viva parecia um pequeno milagre, tudo à sua volta estava subitamente cheio de significados ocultos que ela jamais reconhecera antes. A vida parecia perfeita para Corina que jurava para si mesma ter, finalmente, encontrado o homem de sua vida. Os primeiros meses de namoro foram como num sonho e, embora eles não se encontrassem com tanta frequência, porque JR era um sujeito muito ocupado, combinaram, então, que as quintas-feiras, chovesse ou fizesse sol, teriam a metade do dia só para eles, graças à facilidade de ambos trabalharem para si próprios. E assim, a vida transcorria feliz feito um rio deslizando lacidamente entre campos verdes e floridos.
Entretanto, não demorou muito para Corina perceber que algo de estranho havia com o seu namorado, quanto às suas obrigações masculinas. Seu desempenho oscilava a cada encontro entre “maravilhoso” e “isso pode acontecer a qualquer um”! Havia dias que ele era o todo poderoso, uma verdadeira rocha incansável que por vezes a levava a pedir arrego. Outras vezes, no entanto, ele cansava antes mesmo de começar, mal aplacando a gula da apaixonada amada. Corina foi tomada de crescente preocupação e, embora tentasse conversar com ele sobre o assunto, com a devida cautela evitando melindrá-lo, ele se esgueirava da conversa. Ela resolveu, então, não mais incomodá-lo, pelo menos por algum tempo. Com tudo, uma crescente inquietação passou a lhe atormentar intimamente, que ela não se sentia mais tão saciada como antes. Nem tudo são rosas nesta vida, concluiu, desanimada.
Certa tarde de uma quinta-feira chuvosa em que JR estava surpreendentemente inspirado, depois de uma sessão lasciva e extenuante no final da qual Corina tombou-o no leito, ela resolveu, subitamente, que tinha de fazer uma faxina no apartamento, aproveitando que ele estava prostrado, depois de ter caído no sono dos justos. Mexe aqui, mexe dali, até que, acidentalmente, ela esbarrou com a carteira do “bunito”, que estava guardada no interior de sua valise, em meio a toda aquela despropositada arrumação doméstica. Depois de passar um pente fino no artigo para livrar-lhe do pó, descobriu uma coisinha azul bonitinha que parecia um comprimido, mais precisamente um daqueles que levanta defunto e que tem sido o motivo de alegria de quem já se considerava há tempos fora de combate. Mas como podia um varão daqueles, que mal chegara à casa dos trinta, já recorrer ao socorro da ciência farmacêutica, ruminou Corina. Deveria haver alguma explicação para aquele mistério, mas, pelo menos o milagre que ele acabara de praticar já estava esclarecido, que aquela sua duradoura disposição era coisa fabricada. Corina ficou com aquela aflição no coração, será que seu amado tinha uma moléstia? Entretanto, a natureza feminina desconfiada lhe insinuava ao ouvido a suspeita de que aquela canseira que volta e meia lhe assombrava tinha outra explicação. Depois daquela reveladora tarde, Corina ficou esperta e atenta feito um perdigueiro à espreita de alguma pista que justificasse a sua inquietação que não fazia ideia que motivação que era, mas não daria trégua enquanto não a descobrisse. E foi o que aconteceu, não demorou muito. Seu mundinho veio abaixo quando ela descobriu, irada, que ela era a foda das quinta e, que a de quarta morava em Botafogo e a de sexta no Grajaú. Sabiamente, ela não quis ir mais adiante para descobrir o que se passava nos outros dias da semana pois, já lhe parecia óbvio. Por fim, estava explicado o Viagra e os cansaços, afinal o homem não era de ferro e nem ele podia tomar o comprimidinho milagroso todo santo dia. Ela caíra nas garras de um verdadeiro Don Juan! O “bunito” era muito habilidoso, usava de ardileza para manter oculto a sua vida clandestina, por exemplo, para não dar mancada chamando uma amante pelo nome de outra, ele tinha a artimanha de nunca trata-las pelos próprios nomes, eram todas gatinhas, fofinhas e princesas. Olha aí, companheiros, uma dica importante!
Aquela terrível situação demonstrou a Corina que neste mundo ninguém pertence a ninguém. Embora ela agora soubesse que não era assim mais a única mulher no mundo, não quis se desfazer de seu Don Juan assim tão facilmente, partiu, então, para por as cartas na mesa. Confrontado, admitiu não ser homem de uma mulher só, precisava ter delas em fartura porque seu amor era infinito e em seu coração cabia muito mais que uma, mas por cada uma delas nutria o mesmo amor em igual proporção. Mas é que ela gostava tanto dele como se ele fosse um vício difícil de se livrar. Seria mais fácil conviver com sua poligamia do que simplesmente extrai-lo de sua vida feito um dente estragado, que ela não queria passar pelo sofrimento. Corina, magoada, começou a refletir sobre aquele modo de vida. Se ele podia ter um harém, nada a impedia de ela ter o seu também, de homens. A partir de então, decidiu, seria uma mulher libertaria, faria sua revolução sexual. Conquistaria homens e os assustaria com a sua franqueza ao lhes informar que não era mulher de um homem só, porém, amaria cada um como se fosse o único, estava escrito. Praticaria a sua liberdade de amar quem quisesse e multiplicaria este seu amor quantas vezes assim o desejasse, com transparência, sem segredos, nem mentiras e subterfúgios. Doravante, JR seria a sua foda das quintas-feiras, tendo ainda vantagem sobre ele, porque jamais estaria cansada e nem precisaria de pílula azul alguma para ter e dar prazer a quem quer que fosse.
Rio Vermelho, 10 de maio de 2011.