sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Os milagrosos bolinhos da Cubana.


Salvador tem uma característica em comum com muitas cidades antigas, o fato de ter em suas tradições e seus lugares pitorescos o orgulho de seus cidadãos. Quem nunca foi pelo menos uma vez à Sorveteria da Ribeira ou tomar água de côco em Itapoã? E quem nunca ouviu falar ou provou do acarajé da Dinha ou da Cira, ou deliciou-se com o sorvete da Cubana? Temos orgulho destes lugares e apesar de muito raramente freqüentá-los é para lá que levamos um visitante de fora. São estas pequenas tradições que nos fazem amar o lugar onde moramos e chamar de lar a nossa cidade.

Estava eu, certo final de tarde nas proximidades da Praça Municipal, quando resolvi fazer um programa de turista. Fui sentar numa daquelas cadeiras de aço cromado da Sorveteria Cubana. Caso você não tenha ainda incluído Salvador em sua próxima viagem de férias, a Cubana é uma daqueles lugares tradicionais que mencionei e que você não deve deixar de ir, mas fique longe dos bolinhos!

Para ilustrar esta estória, perguntei a meu amigo Bartolo, fotógrafo documentador dos recantos, monumentos e riquezas de Salvador, (veja o Blog do Sarnelli na lista de favoritos ao lado) se teria alguma foto da Cubana. Não tinha foto alguma 'nem por acaso e nem de propósito', segundo suas próprias palavras. Falou com saudades do tempo em que namorava uma jovem moça imigrante recém chegada da Itália, quando, nas tardes de domingo, ele vestia o seu terno branco de linho e ia até o Largo da Mariquita no Rio Vermelho para pegar o bonde que o levaria ao final de linha na Praça Municipal, onde ficava a Sorveteria da Cubana 51, local muito freqüentado da época, onde as famílias iam tomar sorvetes e os namorados se encontrarem. Durante a viagem pelas entranhas da cidade, seu coração ia palpitando de ansiedade e só se acalmava depois de encontrar Paola, já sentada na Cubana com seu vestido rendado. Depois de tomarem o delicioso sorvete de tapioca com calda de chocolate, iam passear de mãos dadas, verem as novidades das vitrines da Rua Chile, local onde ficavam as lojas mais chiques da cidade, naquela época. Bons tempos aquele. Casaram-se e ainda são felizes juntos.

Não quis sorvete. Preferi dois bolinhos, adoro bolo. Os famosos bolinhos da Cubana são tão antigos quanto o estabelecimento. Trata-se de um bolinho de massa de arroz com cobertura de chocolate e castanhas picadas por cima. Supimpa! Obedecendo a tradição local, passaram-se quase dez minutos até que um garçom me atendesse e mais outros dez até que ele voltasse com o meu pedido, fiquei aliviado do local estar quase vazio! Aqui em Salvador, cardíacos e hipertensos tem vida curta, se forem impacientes. Saber esperar demoradamente para ser a tendido e servido, é uma arte que o freguês baiano é um mestre!

Comi o primeiro bolinho com prazer e em seguida o segundo, acompanhado de Guaraná Antarctica, ou Guaraná Champagne, já que estou nessa onda saudosista. Fiquei ali sentado admirando a paisagem, assistindo o sol mergulhar vermelho na Baía de Todos os Santos e desfazer-se num tapete de ouro. Os pombos da praça levantaram em revoada para dar uma volta sobre o modernoso prédio da Prefeitura e a velha Câmara Municipal. Adiante, um senhor de bermudas tirava fotos da paisagem lá em baixo. Uma gringa loira e branca feito uma salamandra era assediada por um vendedor de correntinhas de prata. Tudo parecia bem pitoresco, me senti um visitante. Paguei a conta e fui embora. Em mais de 40 anos vivendo em Salvador, aquela foi a primeira vez que fiz o programinha.

No meio da noite fui acordado com as minhas entranhas se revirando de cólicas. Algo terrível estava para acontecer. Lembrei dos bolinhos. Diabo! O que se sucedeu adiante, foi aquilo que pessoas vaidosas pagam caro num spa, e a mim só custou dois bolinhos de R$3,00 cada. Corri desesperado para o banheiro uma vez após outra. Mal deitava na cama e já lá estava de volta ao trono mais uma vez. Nestas idas e vindas devo ter posto para fora duas vezes o meu peso. Lembro que, deitado em meu catre, debilitado e suando frio, fechei os olhos e vi uma luz clara, e lá no fundo estava a minha avó, uma voz suave sussurrava a meus ouvidos "Jesus te chama! Jesus te chama!" Estive a um passo da eternidade. Quem já assistiu aquele curta-metragem brasileiro, "O homem que virou suco", pode ter uma idéia no que me transformei, e quem não o viu, pode deduzir pelo o título da fita, que é bem explicativo. Passei uma noite de agonia.

Ao amanhecer, telefonamos para o Dr. Walter, nosso grande amigo e santo protetor nessas situações de emergência. Ligamos cedo, pois ele já está habituado com a nossa inconveniência. Receitou-me um comprimido, cuja caixa guardo até hoje, no caso de outro arrebatamento, e beber muita Pepsi-cola. Imagine, a bendita afinal serve para alguma coisa! Procurei no site informações sobre suas qualidades medicinais, mas não encontrei nada a respeito. Isto devia estar num anúncio de TV, é de utilidade pública. Segui à risca as instruções médicas. Fiquei prostrado o resto do dia, indo com menos freqüência ao banheiro, até porque já tinha posto fora até a alma! No almoço, comi uma canja hospitalar feita com carinho materno e uma pêra. As peras são sempre servidas aos doentes aqui em casa. No dia seguinte, eu já estava novo em folha e mais esbelto. Pagar spa, pra que?

Duas semanas depois, eu estava numa festa conversando animado com uma querida amiga. Contei-lhe o episódio. Não imagino o porquê, era um assunto que não combinava com festa. Minha amiga ouviu meu relato silenciosamente e, no final, acrescentou.

- Quando eu trabalhava com o Pierre Verger* o ouvia sempre se queixar de constipações. Quando a coisa ficava feia, ele ia até a Cubana e comia uns bolinhos!


*Famoso fotografo e antroplogo francês que viveu nessas paragens.

PS: Ilustrei a estória com um sorvete porque tomei fobia aos bolinhos!

Salvador, 27 de novembro de 2008.

12 comentários:

Sarnelli disse...

Cristiano , você me assustou ,porque eu não sabia dos perigos que um daqueles famosos bolinhos proporcionam. Garanto que jamais comerei um deles ,dos quais eu muito gostava , agora que estou ciente
das inconveniências e para não correr o risco... Na verdade, gostei da sua imaginação , mas você me colocou em outro cenário. Só faltou dizer que o meu terno branco era de linho, como se usava na época, e é necessário que os leitores saibam , e muito bem engomadinho... Aceito ficar nele e na história. Estou ficando famoso, graças aos amigos. Gostei. o texto é leve e bom de ser lido.

Ana Teresa Baptista disse...

Cris, acho que, a exemplo de seu pai, você tem um talento nato para as artes visuais. Seu blog ficou visualmente muito bonito. Não pude ainda ler todas as histórias, apenas a sobre a Cubana, que me fez lembrar com saudades do mestre Verger, a quem tantas vezes entrevistei. Gosto quando escreve crônicas, mas acho que os seus textos de ácidas críticas políticas são melhores ainda. Obrigada por ter destacado o meu blog, ao lado de tantos "feras", vou destacar o seu também. Sorte.

Ana Martha Falzoni disse...

Tenho saudades da Cubana. Das tardes de sol com sorvete de tapioca na praça municipal... Os bolinhos nunca comi. Escapei desta,felizmente. Viva o sorvete!

Anônimo disse...

Cristiano, que engraçado. Os tais bolinhos que adoro! tô adorando ler as suas histórias que vão revelando o seu estilo tão próprio. Que bom que o computador me trouxe você mais perto através do seu humor saudosista. Venha à santo antonio de jesus. Aqui deve ter tanta coisa pra lhe inspirar..."bolinhos" de toda sorte. abraço carinhoso.

Anônimo disse...

Fiquei anônima mas essa nem era a minha intenção...gostei muito do que li até agora.

Unknown disse...

BOLINHO DA CUBANA

(dedicado a Marinalva, Marise, Silvia e João)

A infância é lugar de histórias
que definem rumos de cada um.
Meus recheios das memórias
são prazeres intraduzíveis
que até hoje são visíveis
pela boca da minha alma.
Sigo como infante intacto
levando comigo o pacto
de para sempre ser feliz.

Volvo todos o meus sentidos
aos tempos da minha terra
quando bailavam alegrias
na Praça Municipal.
Sinto na mão a mão paterna
cheia do Divino Amor
conduzindo suas crias
para a Cubana esperada
numa farra tão sonhada
com o maná de Salvador.

O bolinho feito de arroz
com chocolate por cima
recoberto de amêndoa doce
como o manjar dos céus.
Era o presente gostoso
das domingueiras tardes
era o lanche mais valioso
entre todos os pitéus.

Entre casos e risadas
entre os prazeres presentes
vinha também coco espumante
alva nuvem alegrante
doce igual jamais senti.
Hoje esse tempo é passado
mas vivido neste aqui
o mais vivo sentimento
do que é um arrebatamento
numa oração de lembranças
de tudo o que já vivi.

Neuzamaria Kerner
11/5/2020

Silvia Kerner disse...

A farinha de arroz é rica em manganês. O manganês atua como co-fator anti-oxidante e ajuda na absorção de cálcio, protege seu corpo contra os radicais livre.
O tão famoso Bolinho da Cubana é feito de farinha de arroz, xerém de castanha, e obviamente, naquela época, não se falava muito em intolerância a lactose. Como todo bolo da nossa época, as receitas levavam leite. Daí a sua dor de barriga.
Hoje, existem várias receitas livre de isentas de lactose.
Mas qual a receita do Bolinho da Cubana que tanto nos remete ao sabor da infância?
Comer Bolinho da Cubana acompanhado de uma bela Taça de Coco Espumante tendo como vista a Baia de Todos os Santos, é de dar dor de barriga. Dor de barriga causada pela liberação de endorfinas, dopamina, serotonina e ocitocina (quarteto da felicidade): o hormônio do prazer!

Abraços,
Silvia Kerner

Unknown disse...

Bom dia, n tem perigo nenhum, como desde criança, desde qdo tinha 5 anos meu pai levava dia sim dia não para meus irmãos, meus pais comiam, isso é política contra, o bolinho tem castanha e castanha solta o intestino, se fosse assim n comeria mamão rs o mamão n prestaria pois solta intestinos, mesmo casada meu pai continuava com o costume de qdo éramos crianças, sempre trazia p mim e minha filha, nos delíciavamos como até hj me delicio. Não procede mesmo, posso falar porque sempre consumo, gosto de relembrar meu pai trazendo o casa, a não ser que a pessoa já tenha algum problema de saúde, melhor se certificar com o médico do que fazer um comentário para falar mal da Cubana, por sinal irei hj lá se tiver funcionando. Todos que entendem de gastronomia e o bom gosto do saborear sabe que falo a verdade. Salvador em peso conhece e consome tudo da Cubana. Nota 100000⁰00.

Unknown disse...

Samelli, n se assiste, consumo o bolinho da Cubana desde os meus 5 anos, o que pode ocorrer a pessoa n se dar bem com a castanha que cobre o bolinho, amo, adoro e Salvador em peso ama a Cubana e seus produtos, é melhor a pessoa se certificar com o médico dele se ele n tem intolerância a alguma substância do bolinho, a Cubana sempre foi respeitada, inclusive hj se tiver funcionando irei lat com minha filha, desde casada meu pai ainda trazia para os filhos.

Unknown disse...

Pois é, desde meus 5 anos meu pai levava o casa os bolinhos da Cubana, a família toda adorava, era de costume também a família toda dar um passeio na Cubana para saborear tudo de delicioso, n precede o comentário negativo a pessoa deve ter intolerância a alguma substância, a castanha solta o intestino, melhor a pessoa se certificar do que está falando, a Cubana sempre foi respeitada e admirada pelos Soteropolitanos, até pelos turistas. Se tiver funcionando iremos hj a Cubana. Viva a Cubana, me remete a infância, as saudades dos meus pais, sempre me emociono qdo vou a Cubana. Água na boca.

Unknown disse...

Cristiano, infelizmente n condiz a verdade, vc fala de uma situação vivida por vc, pois a Cubana é 100000000 em atendimento e produtos, Salvador em peso que conhece e sabe o que é bom, aplaude a Cubana, me conduz a minha infância, a minha família que íamos juntos e meu pai também levando p casa, era uma festa. Cubana é Cubana, ninguém derruba e hj eu e minha filha iremos lá 👏👏👏👏

Unknown disse...

Ana Martha Falzoni, vc n escapou, ele na certa tinha alguma intolerância a alguma substância que era feito os bolinhos, desde os meus 5 anos meu pai levava o casa p minha mãe e nós 4 filhos, todos amavam o bolinho, nunca nos fez mal, era tradição irmos para a Cubana, as famílias geralmente iam aos domingos, a Cubana sempre teve tradição, respeito e admiração por todos aqueles que tinham um bom paladar e sabiam apreciar. Meu pai tinha um Cartório e como falei, dia sim, dia não ele saia do trabalho e qdo chegava em casa com os bolinhos, era uma festa. Eu casada ele continuo trazendo os bolinhos p mim, até seus últimos dias aqui na terra ele levava. A Cubana é tradição em atendimento e suas saborosas criatividades. Parabéns para a Cubana por existir e né reportar a meus bons momentos na infância com meus pais.🌺