terça-feira, 19 de julho de 2016

Profissão de Pai para Filho

Gervásio sonhava um dia ver seu primogênito seguir uma profissão diferente da sua e, por isso, tornar-se um doutor, que tivesse uma profissão descente como um médico, engenheiro ou até advogado. Mas o filho orgulhava-se do pai, considerava-o uma espécie de herói, desde pequeno já tinha decidido que seguiria a mesma profissão do pai, seria um ladrão.

Isto mesmo, Gervásio tinha como profissão roubar pessoas, mais especificamente roubar a casa das pessoas e depois levar o butim para vendê-lo na Feira do Rato, no Comércio. Ele era um ladrão à moda antiga, como se diz, preferia entrar sorrateiramente na casa das pessoas sem fazer barulho algum, com a habilidade e elegância de um felino e surrupiar os seus pertences enquanto dormiam ou estavam ausentes no trabalho. Ele condenava as práticas modernas de seus jovens colegas de abordar a clientela diretamente na rua. Achava aquilo deselegante e perigoso, de uma violência fora de propósitos. Ele jamais apontara uma arma para outra pessoa, e o único mal que lhes fizera foi lhe auferir os bens sem que para isso tivesse de usar de violência ou pôr a vida de alguém em risco.

Seu filho Benedito tinha a mesma opinião do pai. Repudiava a violência sob qualquer pretexto. Entretanto ele não faria como o pai, não tinha a intenção de exercer a sua profissão invadindo a casa alheia, achava aquilo antiquado e o custo-benefício pouco produtivo. Também não se imaginava vendendo a sua mercadoria na Feira do Rato como o pai, sujeito a ser assaltado de surpresa pela polícia a qualquer instante, fugindo deixando tudo para trás para que a própria polícia fizesse a festa. Sua intenção era a de atuar no mercado de forma eficiente e inovadora, com poucos riscos e muitos benefícios.

Certo dia o pai ia pela rua, no centro da cidade e orgulhoso viu cartazes com a foto do filho coladas pelos muros e postes ao longo do caminho. Como o filho estava bonito e elegante, ele ia ser um ladrão de classe, de primeira categoria!

— Olha aqui, este é o meu filho! – dizia Gervásio aos transeuntes apontando para o cartaz com a foto do filho onde se lia “Benedito Silva para deputado”.


Rio Vermelho, 19 de julho de 2016.




terça-feira, 12 de julho de 2016

Meu romance precisa de sua ajuda para ser publicado. Ele merece ser publicado


Prezado leitor,

Você que tem me prestigiado lendo o meu blog e fazendo comentários, solicito agora a sua ajudinha. Estou fazendo uma “vaquinha” para publicar o meu romance Demasiado Pouco Amor – ele precisa de sua ajuda para ser publicado, ele merece ser publicado!

Hoje em dia, esta vaquinha leva o pomposo nome de Financiamento Coletivo – do inglês Crowed Funding, muito popular mundo a fora. Muitas pessoas no Brasil já estão recorrendo a este sistema para financiar seus próprios projetos na área cultural, ambiental, educacional e social. Bacana, não?

É muito simples: basta copiar e colar o link a seguir no seu navegador (https://www.catarse.me/demasiadopoucoamor-digital) que levará ao meu projeto no site do Catarse – que é uma plataforma nacional de financiamento coletivo. E contribuir com R$15, R$30, R$50, R$100, R350 ou R$650 e de lambuja eu ainda te dou um mimo!

É um pouquinho, mas para mim a sua singela contribuição fará uma diferença danada! Vamos lá, enfia essa mão no bolso!

Obrigado por sua colaboração!

Isso é Amor!

Raimundo era motorista de táxi. A sua grande paixão era ir para a praia de Santana no final de tarde levando consigo a vara de pescar para entregar-se aos prazeres de esperar até que um peixe desavisado mordesse a isca. Não havia satisfação maior que jogar o anzol no mar e contar com a sorte de pegar algum peixe, pois era isso que pescar significava, um jogo de azar, era como jogar na loteria.

O nosso pescador de ocasião era um homem jovem, beirando quase os trinta; tinha seu próprio apartamento e era considerado pelas moças como um partidão. Ele gostava daquele esporte que exigia doses de paciência e que, por isso, era mais apropriado para homens mais maduros. Mas ele se considerava um precoce, gostava de coisas diferentes que os rapazes de sua idade. Sendo ainda solteiro, não precisava dar satisfações a ninguém, podia ir pescar quando lhe conviesse, bastando para isso que a maré estivesse dando peixe.

Certo dia, no final de uma tarde ventosa do mês de julho, ele ia passando pelo Rio Vermelho e viu maravilhado uma multidão de pescadores na praia de Santana, pois a maré tinha trazido um enorme cardume. Havia pescadores com suas varas e anzóis deste a areia da praia até nas pedras que a circundava, na esperança de levar para casa um xaréu ou bodião. Ele encostou o carro e ficou sentado na balaustrada assistindo aquele cenário que ocorria lá embaixo. Ao seu lado sentou-se também Mário, outro companheiro de pesca. Assistir homens pescando era tão enfadonho quanto acompanhar um carteado, quase nada acontece, mas como existe gosto para tudo nessa vida, o praticante da pesca se entusiasma em ver outro colega pescando. Havia também pessoas que passavam de bicicleta se exercitando no passeio ao lado da balaustrada, outras corriam ou passeavam com seus cães indiferentes àquele fato importante. Uma moça jovem e bonita desfilou graciosamente com seu cachorrinho, desviando a atenção de Mário para o seu formoso rosto.

— Olha, que mulher mais linda. – ele chamou a atenção de Raimundo.

— Eu prefiro as feias. – retrucou o taxista indiferente, sem desviar o olhar para os pescadores na praia.

—É mesmo? E por que essa predileção, posso saber?

— Ora, mulheres feias são mais esforçadas e por isso são mais inteligentes. Elas são mais carinhosas para compensar a falta de beleza, e muito boas de cama, pelo mesmo motivo. – respondeu Raimundo do alto de sua sabedoria.

— Então você está dizendo que as bonitas são burras?

— Quase isso. A mulher bonita geralmente consegue tudo fácil por causa de sua beleza que lhe abre as portas, não tem de batalhar como a feia, por isso, não desenvolve o intelecto, entendeu?

— Mas essa aí é novinha, ainda tem muito o que aprender... – argumentou Mário.

— Também não gosto de mulher nova...

— Tá me dizendo que gosta de velhas?

— Isso mesmo! – Raimundo respondeu orgulhoso.

— Você tem gostos estranhos, meu caro amigo. Porque prefere as velhas?

— As velhas são muito mais experientes na arte do amor, já sabem tudo e, como ninguém se interessa por elas, quando arranjam um homem jovem como eu, elas capricham para tirar o atraso!

— Nossa, então você gosta mesmo de mulheres feias e velhas!

— Isso mesmo. E se você algum dia me ver agarrado a uma velha feia, não aparte porque não é briga, é amor!


Rio Vermelho, 12 de julho de 2016.